18.6.04

O mínimo não foi feito

Marcio Pinheiro

A culpa pela não-aprovação da MP do salário mínimo, a maior derrota de Lula no Congresso, foi do próprio presidente da República.

Desde o início de 2003 ao não tentar um outro tipo de relação com o Congresso que não fosse o toma-lá-dá-cá, Lula não teve a consciência de que o preço a ser pago seria muito caro; a conta chegou hoje. Preferiu a Reforma da Previdência à Reforma Política, no auge de sua popularidade. Mas o jogo estava só começando.

Em janeiro de 2004, Dirceu deixa o que de melhor sabia fazer: articulação política; ele que foi o grande articulador de “Lula Presidente” (aliás, se está no Palácio até agora é devido a esse reconhecimento de Lula). No entanto, foi aí que começou a ciumeira com Aldo, o novo articulador. Lula deixou correr solto o desgaste da cúpula palaciana: se Gushiken, Luiz Dulci e Aldo não se dão com Dirceu é porque algo está errado, não? Isso no nariz do presidente, “o grande conciliador”.

E desde o início do mandato até ontem: deixou senadores e deputados à espera, sem atenção (ele não havia escolhido em 2003 esse tipo de relação com o Parlamento?). Levou “no bico” relação com gente séria, Sarney inclusive, com quem fala pouco. Lula paga o preço do seu desapreço pelo Parlamento. Quando foi ligar para parlamentares, se rastejando por votos para o salário mínimo de R$ 260, já era tarde.

Outro motivo que mostra ser de Lula a culpa pela não-aprovação da MP é o mérito da questão, que vem desde a campanha: o então candidato do PT alardeou em 2002 que ia dobra o valor do salário mínimo. Ele não vai querer fazer isso de uma vez só no último ano de mandato, vai?

A perda do governo nessa votação, e pra Lula especificamente, é pra lá de simbólico. Símbolo que vem desde a era Vargas, político que introduziu o salário mínimo, usado como populismo, que os trabalhistas usavam e abusavam; do qual os trabalhadores-companheiros da então oposição petista sempre reclamavam, por ser de tão baixo valor. A MP de hoje seria a aprovação de uma medida que é base, o sustentáculo do trabalhador.

Depois de um ano e meio, o amadorismo do governo assusta. Numa casa onde sabidamente não tem sustentação forte, deixou o barco correr solto (vide o desleixo com a emenda de reeleição no Congresso); deixou rixas palacianas influírem.

Foi colocado em xeque o tão propagado “poder de convencimento” do presidente, ou seu poder de costuras políticas (não conseguiu porque delegou essa tarefa a duas pessoas que não se dão bem pessoalmente – Aldo e Dirceu). Além da “culpa” presidencial, ainda cabem outras observações.

1- A confirmação da política como “palco” e hipocrisia. Vide o incrível comportamento da dobradinha tucano-pefelê, que por oito anos comandou a ferro e fogo o Congresso e não foi capaz de, assim como Lula 2004, dar um aumento razoável ao salário mínimo (só pra lembrar um indicador econômico que justifique esse sentimento: o poder de compra do trabalhador conquistado desde o Real já foi perdido em termos reais).

2- O banho de realidade política pode ser visto sob a égide de uma lição da Democracia. É muito saudável que se veja na prática a independência entre os poderes da República, ver um Poder não refém do outro.

Mas não sejamos ingênuos ao cair de cabeça neste segundo tópico. O balcão foi reafirmado pelo governo do PT: a moeda de troca está mais do que nunca entranhada entre Planalto e Congresso, tanto que liberação de verbas foram postas no cardápio (e nem assim o Planalto levou..).

3- O medo e a infelicidade de ter que reconhecer que Regina Duarte é vanguarda. Medo de que a moda pegue e o Executivo simplesmente pare. Isso: uma crise institucional a essa altura.


6 ANOS DEPOIS...
A Embratel conquistou o primeiro lugar – dentre 180 marcas – no Ranking Info de Confiabilidade em Serviços de Comunicação, Voz e Dados na segunda Pesquisa Info de Marcas em Tecnologia da Informação. Quanto prestígio. Algo impensável até 1998, quando da privatização das teles. Um sucesso.
Mas só um detalhe: a pesquisa foi feita com base na opinião de 152 executivos das maiores empresas do país. Certamente pessoas que não tem idéia de qual prestadora cobra a menor tarifa ou qual delas deixa você esperando por mais tempo até ser atendido.


10 ANOS DEPOIS...
Rubens Ricupero volta às manchetes dos jornais. Não, não é como ministro do Real para dar uma notícia excelente sobre o plano. Muito menos para dizer que "não tem escrúpulos” ou que “o que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde”.
Escondeu e não faturou: caiu no dia seguinte à exibição dessa delcaração.
Mas Ricupero deu uma volta por cima e tanto. Ele volta à mídia como secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), cuja última reunião ocorreu em São Paulo. O ex-ministro da Fazenda de Itamar trabalha hoje em prol das nações pobres. Está faturando o que é bom mostrando o que é ruim.

Nenhum comentário: