16.9.04

Palimpsesto

Virgilio Abranches

Por que, meu Deus, hão de me escolher entre centenas que passam por aquela rampa do metrô para pedir esmolas? “Meu senhor, o senhor poderia...”. Não, eu não posso. Eu tenho pressa. “O senhor teria...”, não, eu não tenho. Quer dizer, tenho, mas não quero dar. Francamente. Eu tenho cara de socialmente responsável? Não é possível.

Eu tenho cara de petista. Isso, um dia, já foi sinônimo de socialmente responsável, mas hoje... Hoje, francamente! Se bem que essa história de dizer que eu tenho cara de petista é coisa dos meus amigos tucanos da escola. Ou dos meus tios “amo-Mário-Covas”. Mesmo porque é difícil mensurar o que é “ter cara de petista”.

Eu tenho barba. Isso faz pouco tempo. Mesmo antes, já diziam que eu tinha “cara de petista”. Na verdade, tudo advinha das idéias. A minha visão de mundo me deixava com a tal cara. Por quê? Ora, porque eu falava em educação para os pobres, em comida para todos, em empregos, em salários melhores. Isso, hoje, não é mais ser petista. É ser... vejamos... isso é ser... Socialmente responsável!

É isso. O mendigo me escolhe porque vê em mim uma certa responsabilidade social. Está decidido. A partir de amanhã, além da barba, vou usar uma camisa com uma foto do Palocci. Para parecer mais petista. Quem sabe esses pobres me deixam em paz!

12.9.04

Mentalidade tacanha

Não deveria, mas a politicagem sempre fala mais alto. Em ano de eleição então, nem se fala. Ao longo das última semanas tivemos dois episódios, vindos dos representantes dos dois Estados mais importantes da federação.

Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin vai à TV, nas inserções e no horário eleitoral de José Serra (PSDB) , para dizer que "só me dou bem com ele", ou seja, só faltou dizer que não se dá bem (e nem se esforça para isso) com a atual prefeita, Marta Suplicy (PT).

No Rio de Janeiro, a governadora Rosinha Matheus não compareceu num dos mais importantes eventos na capital: o seminário Revitalização do Rio. Motivo? "Tinha muita gente do governo federal".

Esse é o nível dos políticos mais "importantes" do eixo São Paulo-Rio. A arrogância deles nos faz indagar: será que eles pensam que estão governando Pindamonhangaba ou Campos?