30.7.09

Força vai com PSDB se Aécio for candidato

Caio Junqueira Valor Econômico De Praia Grande (SP)

Unido pela primeira vez na reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o movimento sindical pode voltar a se dividir em 2010 caso o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, seja o escolhido pelo PSDB para disputar a Presidência da República. Nesse caso, a Força Sindical, segunda maior entidade do setor no país, apoiaria o mineiro, enquanto a Central Única dos Trabalhadores (CUT), estaria ao lado da candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Para o presidente da Força, deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), é grande a chance de que isso ocorra. “A Dilma está subindo muito antes da hora e o [José] Serra [governador de São Paulo que disputa com Aécio a indicação do PSDB à candidatura à Presidência], caindo. Se o Serra continuar caindo muito, ele vai desistir da disputa e o Aécio pode acabar vir a ser o candidato do PSDB, com o nosso apoio”, disse ao Valor, depois da cerimônia que abriu o 6 Congresso da agremiação, em Praia Grande, litoral sul paulista.

Prestigiaram o evento os ministros José Pimentel (Previdência), Carlos Lupi (Trabalho) e Luiz Dulci (Secretaria Geral), os deputados federais paulistas Márcio França (PSB), José Aníbal (PSDB) e José Genoino (PT). Segundo Paulinho, a assessoria do Palácio dos Bandeirantes telefonou a ele dizendo que Serra não viria nem mandaria representantes. Aécio chegou a sobrevoar a cidade, mas o mau tempo não permitiu que a aeronave pousasse.

O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), atual secretário de Desenvolvimento de Serra, estava confirmado no evento até a véspera, mas acabou não vindo. Alckmin, ao contrário de Serra, tem bom relacionamento com o movimento sindical paulista e Paulinho da Força costuma apoiá-lo em eleições.

Para Melquíades Araújo, vice-presidente da Força e filiado ao PSDB, a ausência do governador pode prejudicar seus interesses políticos. “Não existe social-democracia sem o movimento sindical. Esse está sendo o pecado do Serra: não está abraçando o movimento sindical nem mesmo dentro do próprio partido”, afirmou. “O PSDB tem sido contra todos os projetos que nos interessam, tem feito oposição ao governo federal e também a nós”.

O líder do PSDB na Câmara, José Aníbal, compôs a Mesa que abriu o congresso e se colocou a favor da redução da jornada. Aníbal é pré-candidato do PSDB ao Senado e atua como uma das pontes do governador mineiro junto à bancada tucana.

No caso de Serra ser o candidato do PSDB, as duas maiores centrais sindicais brasileiras devem repetir a união ocorrida em 2006 e ficar ao lado de Dilma contra o governador paulista. No entanto, essa posição pode não ser unânime. A entidade não fecha questão sobre seus apoios políticos e libera seus integrantes para apoiar quem quiserem.

Nas últimas eleições presidenciais, por exemplo, químicos, gráficos aposentados, parte dos comerciários e a direção nacional da central apoiaram Lula, enquanto o setor paulista de alimentação e parte dos metalúrgicos ficaram com Alckmin.

Dirigentes da Força avaliam que houve avanços para os trabalhadores no governo Lula, o que deve fazer com que a maioria da entidade apoie Dilma. São citados a efetivação de uma política de valorização do salário mínimo e o reconhecimento das centrais sindicais. Isso acabou por levar as duas centrais para o mesmo espectro político-ideológico.

“O Fórum Nacional do Trabalho criado a partir de 2003 pôs na mesa todas as centrais sindicais e patronais. Isso uniu as principais centrais em torno das bandeiras e afastou as diferenças partidárias que elas tinham”, afirma Sérgio Leite, primeiro-secretário nacional da Força.A divisão da Força no caso de uma candidatura Aécio a presidente pode acontecer também em alguns Estados.

É o caso de São Paulo, na eventualidade de o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) ser candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Ciro tem bom trânsito junto à Força. Paulinho foi seu candidato a vice na disputa presidencial de 2002. Em São Paulo, a entidade se dividiria entre Ciro e Alckmin.

Por outro lado, nesse cenário, a CUT estaria com Ciro, por entender que ele seria o candidato de Lula, numa coligação que envolvesse PT, PCdoB, PDT e PSB. No Paraná, a Força está praticamente fechada com o governador Roberto Requião (PMDB). No Rio Grande do Sul, a Força tem retirado o apoio que deu à governadora Yeda Crusius (PSDB).

Enquanto as convenções partidárias previstas para o primeiro semestre de 2010 não chegam, a Força mapeia politicamente seus próprios filiados e os parlamentares. Duas pesquisas estão sendo preparadas e serão peça-chave no quadro de apoios em 2010.

Uma delas será um mapa com o posicionamento de todos os parlamentares sobre a principal reivindicação da classe atualmente, a redução da jornada salarial para 40 horas. A outra é sobre o perfil político dos seus 4 mil delegados, que representam mais de 10 milhões de trabalhadores dos 1,2 mil sindicatos associados.

Na única pesquisa do gênero feita em 1991, 60% dos integrantes da Força eram simpáticos ao PT.A central determinou que todos os sindicatos do país se reúnam com os deputados federais que atuem em suas regiões para pressionar pela votação.“Ano que vem é época de eleição e num primeiro mandato estou recomendando a não ir a Brasília diretamente esculhambar os parlamentares. É preciso convencê-los da proposta. Aí sim, se eles não votarem em nós poderemos esculhambar eles”, disse Paulinho, no seu discurso.Além da redução da jornada, as outras bandeiras que vão entrar na negociação do apoio político em 2010 são a nova fórmula do salário mínimo, atrelada ao crescimento do PIB e da inflação; o aumento real das aposentadorias, a ratificação das convenções da Organização Internacional do Trabalho 158 (legislação que prevê garantias contra demissões imotivadas) e 151 (legislação sobre direitos de negociação coletiva).
Quércia trabalha para evitar que convenção nacional do PMDB apoie PT

Caio Junqueira Valor Econômico De Sorocaba 29/07/2009

“Fui eu quem aproximou o presidente Lula do PMDB”. O ex-governador de São Paulo Orestes Quércia (PMDB) não esconde os motivos de seu rompimento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o levariam a se reaproximar de José Serra (PSDB) e transformá-lo no principal aliado do atual governador paulista no PMDB. “Não gostei da idéia de ministério de PMDB dividido entre outros partidos. E também me decepcionei com o presidente”.

O afastamento de Quércia do Planalto coincidiu com a influência crescente no governo de pemedebistas que haviam sido aliados do PSDB, como o atual presidente da Câmara, Michel Temer (SP), e o senador Renan Calheiros (AL). Quem fez a ponte para a reaproximação foi o secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira.

A aliança foi selada com a entrada do PMDB quercista na chapa à reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM) e o compromisso tucano em garantir a Quércia uma das duas vagas ao Senado. Aos 70 anos, Quércia está em franca campanha para tentar voltar ao primeiro time da política nacional.

Mas depende 100% da definição tucana. “Minha candidatura só existe se existir uma candidatura Serra”.Quércia integra o núcleo da pré-campanha serrista à Presidência, composto ainda pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), Aloysio Nunes Ferreira, o vice-governador Alberto Goldman, o ex-presidente do DEM, Jorge Bornhausen, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE) e o presidente nacional do PPS, Roberto Freire.

Este grupo já se reuniu duas vezes este ano na casa de Kassab para tratar da campanha de Serra em 2010. A preocupação mais imediata deles é viabilizar as alianças estaduais que garantam o palanque presidencial de Serra.

A principal meta do grupo é consolidar o PMDB como aliado nos Estados e, quando isso não for possível, ao menos conseguir que a legenda não apóie a provável candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef (PT), na sua convenção nacional do próximo ano.Quércia duvida que Lula abrigue Temer na chapa de Dilma, mas reconhece que travará uma grande batalha para evitar que a convenção referende a composição se o convite lulista for feito.

Como em todas as convenções pemedebistas, a de 2010 também promete controvérsias. Em 2006, o PMDB enfrentou uma batalha jurídica para decidir se teria a candidatura própria ou não. Convenções foram adiadas, candidaturas lançadas, retiradas e relançadas, insultos, rachas e até a greve do fome do pré-candidato Anthony Garotinho.

Quércia e seu grupo estão seguros de que, apesar da postulação de Temer, o PMDB, em São Paulo, vai de Serra. Aposta que terá o apoio também em Estados em que o PMDB e PT são rivais de longa data, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás e Pernambuco, noutros em que se ensaia uma composição, como Paraná e Mato Grosso do Sul, e até onde o partido almeja vôo solo, como a Bahia.

Outra aposta do ex-governador se dá sobre os delegados que votam na convenção. “O PMDB que vota não é o PMDB do governo federal. A maioria é ligada ao MDB, tem história no partido e não crê na aliança com Lula como melhor caminho para o partido”, diz.Na tarde chuvosa de sábado em Sorocaba, ele discursava no plenário da Câmara Municipal para uma platéia de 150 pessoas.

“Esse partido hoje é muito dividido em nível nacional. Aqui em São Paulo temos uma posição. Discordamos do sentimento de grande parte do diretório nacional que apóia o governo Lula. Nossa proposta é apoiar Serra presidente e termos candidato ao Senado, que poderei ser eu.”

Era mais um encontro do PMDB paulista, o quinto dos dezoito programados pelo diretório para divulgar a candidatura Quércia ao Senado e ouvir as bases municipais daquele que um dia foi o partido onipresente no Estado, mas cuja identificação hoje se vale mais de ex-funções do que de poder. Algo constatado pela presença de alguns que acompanharam Quércia na mesa do evento: um vereador há onze mandatos de um município vizinho, um-ex-líder do governo, um ex-presidente da Câmara de Sorocaba.

A nostalgia é recorrente nos discursos dos que se oferecem para subir no púlpito do salão. Frases como “Gostaria que o PMDB voltasse a ser o PMDB de antes”, “Infelizmente o nosso partido aqui quase parou”, “Não quero mais trabalhar para outro partido em eleição”, “É momento do PMDB ressurgir das dificuldades”, “O diretório hoje caminha capengando” e “A gente tem que bancar do próprio bolso” apontam que tempos melhores já existiram.

E a solução posta para que voltem é Orestes Quércia. Pelo menos para eles.Apartados na política nacional, Quércia e Temer têm um acordo. Os quercistas comandarão o diretório estadual até as próximas eleições internas, quando passa o bastão para o deputado estadual Jorge Caruso, do grupo de Temer.

O ex-governador também tem sofrido pressão das bancadas legislativas em Brasília e em São Paulo, por exemplo, que ao longo dos anos viu seu número de integrantes diminuir gradativamente. Em 1994, após oito anos do PMDB no Palácio dos Bandeirantes, foram eleitos 14 deputados federais e vinte e três estaduais. Em 2006, após doze anos com os tucanos no poder, foram eleitos três federais e quatro estaduais.

Quércia, por sua vez, tem muito apoio nos mais tradicionalistas que, ao lado dele, compartilharam a hegemonia pemedebista no Estado. São eles hoje que criticam Sarney. “Como explicar, eticamente falando, que o partido tenha um Pedro Simon em uma ponta e Sarney em outra?”, questionou um desses em Sorocaba.

É justamente essa rejeição a Sarney outra aposta dos quercistas, que acreditam que as sucessivas denúncias afastam ainda mais o interesse o “MDB histórico” de Lula.Ainda que essa conjuntura do PMDB possa ameaçar sua candidatura, a avaliação é de que se trata de uma ameaça de pequeno porte. Embora possa causar algum constrangimento caso Temer seja o vice de Dilma, dificilmente Quércia desistiria. Encontraria respaldo no estilo Temer de evitar confrontos. Ameaça maior é a candidatura do senador Romeu Tuma à reeleição. Em São Paulo, o PTB integra a base de Serra e já firmou compromisso com os tucanos de apoiá-los nas eleições de 2010, condicionando isso à candidatura Tuma ao Senado.

Nesse cenário, as duas vagas ao Senado da chapa de Serra têm pelo menos seis candidatos: Quércia, Tuma, e quatro tucanos: o presidente estadual do PSDB, deputado federal Mendes Thame; o líder do partido na Câmara, José Aníbal; o vereador em São Paulo, Gabriel Chalita; e o secretário paulista de Educação, Paulo Renato de Souza. Em seu partido, Serra tem preferência por Paulo Renato, mas os acordos com o PMDB e com o PTB no Estado podem comprometer sua escolha.

28.7.09

PSDB-SP avalia prévias para a escolha dos candidatos ao governo e ao Senado

Caio Junqueira De São Paulo Valor Econômico 21/07/2009

A exemplo do que deve ocorrer com os governadores de Minas, Aécio Neves, e de São Paulo, José Serra, o PSDB avalia transferir a solução encontrada para a existência de dois candidatos a presidente em 2010 também para a sucessão no Estado de São Paulo: as prévias partidárias.

A hipótese começa a ganhar força e é tida como melhor saída para que os dois pretendentes ao cargo, o secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, e o secretário de Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, não façam com que o partido entre em mais uma eleição paulista dividido. Assim como a disputa em plano nacional, os principais defensores da ideia são aqueles que estão com o mais baixo índice de intenção de voto.

No caso, tucanos ligados a Aloysio, que na última pesquisa Datafolha marcou 2% das intenções de voto, no melhor dos cenários. Fica atrás de Antonio Palocci (PT), Luiza Erundina (PSB), Paulo Maluf (PP) e Soninha (PPS). Alckmin atinge mais de 50%.A fórmula por ora que prevalece é de que votem os 4.004 delegados estaduais do partido distribuídos entre os 645 municípios.

Também se avalia a possibilidade de um processo interno eleitoral que restrinja a disputa entre os 105 integrantes do diretório estadual, composto em sua maioria por detentores de cargos eletivos nos planos federal e estadual.Nesse universo, os correligionários de Aloysio dizem que ele venceria uma eventual disputa interna, embalado pela liberação de recursos para deputados estaduais e prefeitos.

O secretário tem percorrido o interior paulista para participar de encontros com lideranças municipais e regionais, nas quais ouve as reivindicações e trabalha para consegui-las. Seu reduto eleitoral é a região de São José do Rio Preto (440 km a noroeste do Estado), uma das mais populosas do Estado, mas sua atuação na Casa Civil tem feito com que ganhe apoio em outras regiões do Estado.

Afastado do comando do governo estadual desde 2006, Alckmin tem nos altos índices das pesquisa sua principal força para ser escolhido candidato. Rivaliza esse apoio popular com os recursos financeiros que Aloysio tem utilizado para se movimentar pelo interior.

Além disso, é um tucano de origem, fundador do PSDB e que praticamente formou o partido no Estado no início dos anos 90. Aloysio é um ex-pemedebista muito ligado a Orestes Quércia, cujo grupo foi reconduzido ao núcleo do poder estadual pelas mãos de Serra. O reduto alckmista mais forte é no Vale do Paraíba, região de Pindamonhangaba (145 km a Nordeste de São Paulo) onde iniciou sua carreira política. Politicamente, a Pasta que ocupa no governo Serra —Desenvolvimento — limita sua atuação no Estado basicamente à definição de políticas de educação superior, técnica e tecnológica. Contra ele pesam ainda recentes embates internos no partido, para ser escolhido candidato a presidente em 2006 e a prefeito de São Paulo em 2008.

Ambos os episódios geraram rachas no partido. Os prós e contras de ambos são suficientes para que dirigentes do partido não especulem sobre quais seriam as chances reais de vitória de cada um deles. O que não falta é bombardeio interno. Para um lado, Aloysio não é tucano de origem (ele se filiou ao partido no final dos anos 90) e só tem apoio pela força do cargo. Para o outro lado, Alckmin é um neo-serrista que passou por cima do governador nas duas últimas eleições. Com esse cenário, as prévias paulistas só acontecerão se Serra não encontrar uma solução que agrade aos dois candidatos.

Embora tenha preferência por Aloysio, o governador paulista imagina que Alckmin partindo de 50% seja imbatível e não lhe traria problemas no Estado que seu partido comanda desde 1995. A disputa entre os dois é impulsionada pelo fato de o indicado ter grandes chances de ser eleito. O governo paulista está presente, diretamente ou com seus aliados, em cerca de 550 dos 645 municípios paulistas. O partido dá a eleição como ganha. Acha que o PT vai entrar apenas para construir o nome de alguém para as eleições seguintes. E que a possibilidade de o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) entrar na disputa é o sinal mais claro da falta de opção da oposição e do receio de um péssimo desempenho nas urnas.

A possibilidade de prévias também atinge os candidatos ao Senado. O partido tem quatro nomes em jogo: o presidente estadual do PSDB, deputado federal Mendes Thame; o líder do partido na Câmara, José Aníbal; o vereador em São Paulo, Gabriel Chalita; e o secretário de Educação, Paulo Renato de Souza. Serra tem preferência por Paulo Renato, embora o ex-ministro da Educação não tenha tanta exposição eleitoral quanto Aníbal e Mendes Thame. Chalita é considerado alckmista ferrenho. E, segundo tucanos paulistas, se o grupo de Alckmin não levar a candidatura ao governo ficará com o Senado.

A outra vaga para o Senado está reservada a Quércia. Foi esta a condição do acordo feito em 2008 pelo qual o PMDB apoiaria Gilberto Kassab (DEM).As duas prévias em discussão, porém, não são a única preocupação do governador no cenário eleitoral de 2010 no Estado. Serra tem manifestado apreensão sobre a composição da chapa das eleições proporcionais, que escolherão os deputados federais e estaduais.

O governador quer uma chapa com puxadores de voto. Sem a presença de aventureiros, portanto. Com isso, pretende que o PSDB e seu aliado DEM elejam o maior número possível de parlamentares para a bancada federal que possa dar sustentação a um eventual mandato tucano na Presidência da República. Em 2006, os tucanos elegeram 17 dos 80 deputados paulistas. O DEM elegeu três.Em razão disso, na semana que vem dirigentes estaduais do partido irão se reunir para começar a definir a distribuição de candidatos pelo Estado. A meta é evitar que mais de um candidato dispute a mesma região.

Assim, cada um teria uma faixa de cerca de 330 mil eleitores que seriam o público-alvo de cada um.O partido também conversará sobre as intervenções já feitas este ano em 73 diretórios municipais paulistas em que os tucanos não obtiveram bom desempenho eleitoral em 2008, como Ubatuba, São Caetano, Barretos, Itú, Matão e Mogi-Guaçu. Nesses municípios, as lideranças estaduais —como deputados e coordenadores regionais— indicarão nomes para compor uma comissão provisória, que será responsável pela revitalização local do partido.

1.7.09

Kassab dedica-se a cobrir perdas da crise e deixa grandes obras para Serra

Caio Junqueira De São Paulo Valor Econômico 01/06/2009

No primeiro semestre de gestão, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), atuou mais para conter os efeitos negativos da crise no orçamento municipal do que para fazer grandes investimentos na cidade. Com crescimento da receita tributária de apenas 0,2% entre o primeiro quadrimestre de 2008 e o de 2009 , muito aquém da média de 9% dos anos anteriores, Kassab apostou em medidas com baixo custo e alto respaldo popular. Deixou as grandes obras para serem tocadas pelo seu principal aliado, o governador do Estado, José Serra (PSDB).

A principal iniciativa de grande e positiva repercussão, com investimento quase nulo, foi o portal “De Olho nas Contas”, em que colocou na internet as contas da prefeitura, contratos com fornecedores e todos os nomes e salários dos servidores municipais. Anunciado oficialmente há duas semanas, o site continua ganhando elogios da opinião pública e contestação de servidores.

Uma batalha de liminares foi instaurada nos tribunais entre a prefeitura e os sindicatos dos servidores municipais, que foram à Justiça contra a divulgação de seus nomes e salários na internet. Kassab tem ganhando duplamente: com decisões favoráveis dos juízes e com a construção de uma imagem de político que luta pela transparência pública contra o corporativismo, um capital político de grande relevância em tempos de atos secretos em Brasília.

Outro investimento de baixo custo e alto retorno foi a divulgação da “Agenda 2012”, em que apresentou 223 metas que pretende cumprir até 2012, com a possibilidade de acompanhamento em tempo real de sua execução. Embora implementada por força de uma lei aprovada em dezembro por iniciativa de movimentos civis, a medida é inovadora no país em uma cidade do porte de São Paulo.

O prefeito também aprovou na Câmara a “Lei das Mudanças Climáticas”, que prevê, entre outras metas, a redução em 30% da emissão de gás carbônico na capital mais poluída do país e a redução progressiva do uso de combustíveis fósseis (diesel e gasolina) pela frota de ônibus da cidade, a uma proporção de 10% por ano, a começar por 2009, até sua substituição total em 2017. Com isso, tenta firmar a imagem de político moderno, pró-meio ambiente, iniciada em seu primeiro mandato, com a Lei Cidade Limpa.

As medidas, embora inovadoras e populares, não geram receita. A maior aposta de Kassab nesse sentido era movimentar o mercado imobiliário por meio da revisão do Plano Diretor, da lei de uso e ocupação do solo e da lei do zoneamento. O “pacote” foi levado à Câmara, mas, por determinação do Ministério Público, teve de ser desmembrado em três, cada um sendo analisado a seu tempo.

O primeiro deles, o Plano Diretor, está em fase de audiências públicas e enfrenta resistências de movimentos civis, mais pelas mudanças que a prefeitura pretende fazer no zoneamento e no uso e ocupação do solo do que no Plano Diretor em si. Com o principal projeto de aquecer o mercado imobiliário afetado pela Justiça e a arrecadação fortemente atingida pela crise, a saída foi buscar caminhos para gerar caixa, como o programa para recuperar créditos tributários por meio do Plano de Parcelamento Incentivado (PPI), que até maio arrecadou R$ 155 milhões dos R$ 459 milhões previstos para o ano.

A adesão ao plano foi prorrogada até dezembro. Outro caminho é a pela lei de concessão urbanística. Aprovada em abril, seu intuito é atrair recursos privados para transformar áreas urbanas. A primeira concessão será na Luz, no centro histórico e degradado de São Paulo. Após anos de atraso, uma licitação internacional será anunciada até o fim do ano e pode atrair mais de R$ 700 milhões em investimentos.

Outras medidas amplamente anunciadas vem sendo tocadas, apesar de ainda terem resultados incipientes. A reavaliação de contratos e licitações é uma delas. Proporcionou economia de R$ 17,3 milhões em algumas áreas, mas não mexeu, por ora, nas áreas que detém os maiores contratos, como saúde, educação e transportes. Segundo a prefeitura, os processos desses setores estão em análise.

A venda de imóveis da prefeitura, outra medida alardeada com a qual se pretende levantar R$ 500 milhões, também teve pouca efetivação até agora. De acordo com a prefeitura, neste momento encontra-se em andamento a identificação dos imóveis que serão objeto de alienação, para posterior encaminhamento do projeto de lei solicitando a autorização da venda para a Câmara Municipal.

A Companhia São Paulo de Parcerias, idealizada para captar recursos para a prefeitura, também ainda não saiu do papel, assim como as Parcerias Público-Privadas (PPPs) municipais. Há atualmente dois projetos de PPPs na capital: um para oferta de 40 mil vagas em unidades de educação infantil, mas que está suspenso pelo Tribunal de Contas do Município desde junho de 2008, e outro, em parceria com o governo estadual, para concessão dos serviços do sistema único de arrecadação do transporte coletivo metropolitano.

Com essas iniciativas ainda em andamento, os grandes investimentos na cidade vêm de José Serra. Pela agência de saneamento paulista, a Sabesp, Serra fechou um acordo com Kassab que irá gerar cerca de R$ 500 milhões por ano a prefeitura: a concessão à empresa do direito de explorar os serviços de abastecimento de água e saneamento na capital paulista pelos próximos 30 anos. O acordo fez ainda com que a Sabesp perdoasse uma dívida de R$ 1 bilhão da prefeitura com a empresa.

O governador também efetivou medidas de grande impacto na capital. Liberou cerca de R$ 500 milhões na despoluição de córregos e deu início às obras de ampliação da marginal do Tietê, que prevê investimento de R$ 1,3 bilhão para a construção de quatro pontes, três viadutos e mais faixas, além da promessa de concluir o trecho sul do Rodoanel ainda neste ano, meses antes do prazo inicial previsto.

Com essas obras viárias, a prefeitura espera melhorar seu desempenho na área em que é pior avaliada, o trânsito. Segundo uma pesquisa que chegou às mãos de Kassab, o item “controle de trânsito” é o que recebeu a nota mais baixa entre nove áreas da gestão: 4,8, o que se compreende, já que neste ano São Paulo bateu o recorde de congestionamento, com 293 km de vias paradas.

A nota baixa também ajuda a explicar a queda no apoio entre os paulistanos com ensino superior. Segundo o Datafolha, entre março e maio deste ano, o índice de ótimo/bom nesse grupo de eleitores caiu de 57% para 49%, enquanto o de ruim/péssimo passou de 12% para 18%. A mesma pesquisa apontou crescimento do apoio ao prefeito entre as classes mais baixas. O número de eleitores com ensino fundamental que declararam que a administração é ótima/boa foi de 42% para 47%, em grande parte devido às obras em educação e saúde, como reformas em escolas e as AMAs, que fizeram com que Kassab roubasse muitos votos do PT na periferia nas eleições de 2008, onde o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre foi forte.As outras notas da pesquisa interna foram: “guarda municipal”, com 5,1, “obras públicas” e “urbanização”, ambas com 6,4; “limpeza”, com 6,3; “educação”, com 6,2; “funcionamento das escolas”, com 6; “iluminação”, com 5,8; e “saúde”, com 5,6.

Para integrantes do DEM, a avaliação do prefeito o credencia para pelo menos colocar seu nome à disposição de Serra para sucedê-lo no Palácio dos Bandeirantes a partir de 2010. Entretanto, a hipótese disso ocorrer é remota para dois correligionários muito próximos ao prefeito. Primeiro porque a avaliação se restringe à capital paulista, excluindo o interior, onde se concentra metade do eleitorado do Estado. Segundo porque Kassab teme uma má repercussão em abandonar o posto a que foi alçado em sua primeira eleição majoritária. Serra fez o mesmo em 2006, mas ancorado em mais de 40 anos de vida pública. E terceiro porque a candidatura do prefeito tem sido colocada para marcar posição contra o favoritismo de Geraldo Alckmin (PSDB), adversário derrotado nas eleições de 2008, que disparou diversos ataques à gestão Kassab durante a campanha eleitoral. O prefeito não gostaria de ver Alckmin retornar à vida política em posição superior a sua e apoiado por Serra, ao qual sempre foi leal, ao contrário do ex-governador.

Ministério Público incomoda prefeito com ações
De São Paulo

O Ministério Público do Estado de São Paulo foi o principal problema de Kassab nos seis primeiros meses de gestão. Atuando em três frentes, promotores conseguiram barrar o andamento do da maior proposta do prefeito para o ano, a revisão do Plano Diretor, trazer à tona suspeitas de fraudes em licitações da merenda escolar e colocar em risco o próprio cargo do prefeito.

O caso de maior repercussão é o da merenda escolar. O Ministério Público investiga a terceirização da distribuição da merenda na cidade, sob suspeita de formação de cartel e pagamento de propina a funcionários públicos. De acordo com o promotor Silvio Marques, já foram reunidos diversos indícios de fraudes em contratos na capital e de pagamento de propinas na ordem de 10% do valor faturado por mês pelas empresas. A prefeitura determinou que fosse realizada nova licitação, mas não acatou a recomendação do promotor e permitiu que as empresas suspeitas participassem da nova concorrência.

“Quem contratar essas empresas vai sofrer ação de improbidade, pois sabem que há provas inequívocas de irregularidades”, afirma Marques.Outro problema ocorreu com a revisão do Plano Diretor. A primeira derrota veio com a intervenção da promotoria de Habitação, que determinou que o plano fosse revisto separadamente das discussões da nova lei de zoneamento e do uso e ocupação do solo. Isso frustrou a expectativa da prefeitura de fazer alterações significativas na cidade. Anteontem veio outra derrota: uma liminar dentro dessa ação suspendeu a revisão do Plano Diretor, sob a justificativa de que a prefeitura tornou a revisão maior do que a lei permite. Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirmou estar analisando o conteúdo da decisão proferida e que entrará com os recursos cabíveis.

Por fim, o prefeito teve problemas com a Justiça Eleitoral. O Ministério Público Eleitoral pediu a rejeição das contas das campanhas de Kassab por considerar irregulares as contribuições feitas por empresas que atuam como concessionárias de serviços públicos. O advogado de Kassab, Ricardo Penteado, afirma que os questionamentos do Ministério Público já foram objeto de julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral, permitindo a doação eleitoral de sócias de concessionárias. Isso, segundo o advogado, afasta a possibilidade de condenação do prefeito.(C.J)