19.3.05

Boa imagem e a articulação

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin não anda numa boa fase: fugas espetaculares na Febem, altos índices de seqüestros no Estado. A imagem de bom administrador está indo pro espaço.

A do colega carioca Cesar Maia, idem. E pior ainda: mente descaradamente ao dizer que apóia a internvenção federal na Saúde (senão não teria entrado no Supremo contra a medida).

Bem, a imagem ainda pode ser recuperada. Mas esses dois políticos deveriam ter aprendido com a história algumas lições.

Cesar Maia deveria lembrar do preço que se paga ao lançar prematuramente uma pré-campanha presidencial. O caso Roseana é inesquecível nesse sentido. O prefeito do Rio está se queimando nacionalmente.

Já Alckmin não deve ter lembrado o que significa rachar com o PFL, como no caso da eleição do presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo. A rebeldia do partido em 2002 foi um dos responsáveis pela derrota de José Serra.

Bem faz Lula nos dois casos: está reorganizando a base aliada com a oferta de ministérios e continuou em campanha sem parar desde 2002. Isso é que é tática!

Mudanças no Oriente Médio

Marcio Pinheiro

Hoje, as mulheres podem votar no Afeganistão, os palestinos estão rompendo com os velhos modelos de violência e centenas de milhares de libaneses estão protestando para exigir soberania e direitos democráticos.

Essas palavras saíram da boca de George W. Bush, num discurso no rádio neste sábado pela manhã.

Faltou dizer obviamente que problemas gravíssimos continuam nesses países.

No Iraque, por exemplo, na véspera de completar dois anos de ocupação/guerra, os aliados ainda não suforaram (e vão conseguir sufocar?) a força "rebelde" - o que já custou 1.500 mortes e bilhões de dólares aos países interventores. Sem contar a morte de civis, mulheres, crianças iraquianas, as redes de hospitais e de esgoto destruídas, a proliferação de doenças etc.

Outro problema por vir é bem simbólico: o julgamento, sempre adiado, de Saddam Hussein. O tribunal responsável pelo julgamento tem legitimidade questionada porque violaria a Lei Fundamental, que entra em vigor até o final de 2005. Uma das cláusulas de lei estipula a proibição de tribunais especiais. Sem contar a falta de preparo dos jovens e inexperientes juízes.

Mas voltemos aos argumentos de Bush: ele realmente está fazendo uma revolução no Oriente Médio. As mudanças chegaram até a Arábia Saudita que, acreditem, passou por uma recente eleição (claro que as mulheres não votaram, mas houve um pleito!).

Quer dizer que Bush está certo? Erra quem afirma ou nega peremptoriamente. Os hábitos muito enraizados, o sentimento anti-imperialista e o fundamentalismo são impedimentos fortíssimos na luta pela "imposição (sic) democrática" de Washington e subjetivos ao ponto de não poderem ser enfraquecidos com bombas. Mas outras armas poderão ser usadas em breve pelos superpoderosos.

3.3.05

Jobim quer voltar para a Câmara?

Marcio Pinheiro

Depois da desconcertante delcaração da ministra Ellen Gracie sobre sua banheira paga com dinheiro público, desta vez foi a vez do ex-deputado federal pelo PSDB e atual presidente do Supremo, Nelson Jobim, se apequenar.

Conhecedor dos meandros das leis e das jogadas congressuais, Jobim alertou o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), que existia uma maneira de aprovar o aumento de deputados com apenas uma canetada, desde que a Mesa do Senado concordasse com o aumento de R$ 12,8 mil para R$ 19,1 mil.

Jobim negociou com deputados e senadores a equiparação do aumento dos salários dos congressistas com os dos ministros do Supremo.

Se presidente do Supremo Tribunal Federal sente saudades de seu tempo de Congresso, que tire a toga e tente voltar à politicagem pelo voto.

Só para lembrar: Jobim é cotado por parlamentares do PMDB para concorrer à Presidência.

2.3.05

Alckmin, o querido, Lula, o maldito
Caio Junqueira

O que mais irrita em um governo é a inércia, por falta de vontade ou incompetência, em solucionar os problemas da sociedade. A falta de vontade incomoda um pouco mais que a incompetência, já que pressupõe desvio da finalidade do governante, que foi eleito e é pago para propor soluções.

Mas a incompetência também perturba, porque ela, na maior parte das vezes, decorre da falta de análise do histórico do problema ou da visão a longo prazo equivocada dos resultados que uma medida ou um pacote delas pode oferecer.

A Febem do PSDB paulista é um desses exemplos. Com 69 unidades em todo o Estado, nunca se teve uma política a longo prazo para a construção de novas instalações, tampouco um eficiente combate à delinqüência e reinserção social dos menores.

Além das sucessivas rebeliões em sua história, os números do censo do sistema penitenciário revelam que 15% da população carcerária do Estado passou pelas unidades da Febem. Também aponta que 19% dos 6.623 internos de hoje voltam à instituição depois que saem dela. Ou seja, é fácil constatar que a Febem é um lixo, assim como a política adotada para a sua condução.

Os tucanos, que há dez anos governam o Estado _e, por conseqüência, a Febem, já bateram tanto a cabeça sobre o assunto que a instituição virou uma batata quente no Palácio dos Bandeirantes. Nos últimos anos, passou pelas secretarias de Assistência e Desenvolvimento Social, Esporte e Lazer, Educação e depois voltou à Justiça. E o lixo na sua gestão continua.

Já o modelo de concessão das rodovias adotado no Estado se enquadra no subitem da falta de vontade: a de desonerar o cidadão. Implementada pelo governador Mário Covas e continuada por Geraldo Alckmin, o plano de concessão das rodovias estaduais foi responsável pelo alto preço pago nos pedágios, já que a "concessão onerosa" define como ganhador da licitação o concorrente que, sabendo dos investimentos a serem feitos, e do valor da tarifa fixada pelo governo, fizer a maior oferta pela concessão.

A título de comparação, no processo de concessão das rodovias federais, a União privilegiou o concorrente que ofereceu a menor tarifa. Desse modo, o preço pago pelos usuários das estradas tende a ficar mais baixo.Um terceiro aspecto mistura incompetência com falta de vontade, o da segurança pública. Em 10 anos, não bastasse o crescente histórico de violência na capital, os tucanos não conseguiram segurar o que se chamou de interiorização do crime. No último levantamento trimestral apresentado pela Secretaria de Segurança Pública, mais da metade dos latrocínios e uma parcela crescente de homicídios dolosos ocorreram fora da capital e da região metropolitana. De um modo geral, no interior os crimes cresceram ou então caíram em proporção menor do que na capital.

Não faço aqui proselitismo político. Mas sempre me pareceu que, para essas três questões e
muitas outras de responsabilidade dos governos estaduais, foi esquecido quem é, ou quem são, os constitucionalmente responsáveis.

É mais fácil escutar por aí críticas (devidas) ao “avião do Lula” ou aos “CEUs da Marta” do que “a Febem do Alckmin” ou “o pedágio do Alckmin”. Talvez isso ocorra porque a própria atenção das pessoas esteja mais voltada às políticas de âmbito municipal e federal, culpa até mesmo de um falho federalismo brasileiro.

Mas talvez o fato de Alckmin ser médico, branco, limpo e cheiroso, e com uma filha que trabalha na Daslu, seja outra razão para um tratamento mais cauteloso com seu governo.Mas prefiro acreditar que o que acontece mesmo é falta de vontade e incompetência dos cidadãos em saber o que cobrar e de quem cobrar, apesar de não afastar a crença de que ainda há uma certa dificuldade _principalamente dos ricos_ em se desprender de preconceitos ideológicos e sociais.