16.9.04

Palimpsesto

Virgilio Abranches

Por que, meu Deus, hão de me escolher entre centenas que passam por aquela rampa do metrô para pedir esmolas? “Meu senhor, o senhor poderia...”. Não, eu não posso. Eu tenho pressa. “O senhor teria...”, não, eu não tenho. Quer dizer, tenho, mas não quero dar. Francamente. Eu tenho cara de socialmente responsável? Não é possível.

Eu tenho cara de petista. Isso, um dia, já foi sinônimo de socialmente responsável, mas hoje... Hoje, francamente! Se bem que essa história de dizer que eu tenho cara de petista é coisa dos meus amigos tucanos da escola. Ou dos meus tios “amo-Mário-Covas”. Mesmo porque é difícil mensurar o que é “ter cara de petista”.

Eu tenho barba. Isso faz pouco tempo. Mesmo antes, já diziam que eu tinha “cara de petista”. Na verdade, tudo advinha das idéias. A minha visão de mundo me deixava com a tal cara. Por quê? Ora, porque eu falava em educação para os pobres, em comida para todos, em empregos, em salários melhores. Isso, hoje, não é mais ser petista. É ser... vejamos... isso é ser... Socialmente responsável!

É isso. O mendigo me escolhe porque vê em mim uma certa responsabilidade social. Está decidido. A partir de amanhã, além da barba, vou usar uma camisa com uma foto do Palocci. Para parecer mais petista. Quem sabe esses pobres me deixam em paz!

12.9.04

Mentalidade tacanha

Não deveria, mas a politicagem sempre fala mais alto. Em ano de eleição então, nem se fala. Ao longo das última semanas tivemos dois episódios, vindos dos representantes dos dois Estados mais importantes da federação.

Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin vai à TV, nas inserções e no horário eleitoral de José Serra (PSDB) , para dizer que "só me dou bem com ele", ou seja, só faltou dizer que não se dá bem (e nem se esforça para isso) com a atual prefeita, Marta Suplicy (PT).

No Rio de Janeiro, a governadora Rosinha Matheus não compareceu num dos mais importantes eventos na capital: o seminário Revitalização do Rio. Motivo? "Tinha muita gente do governo federal".

Esse é o nível dos políticos mais "importantes" do eixo São Paulo-Rio. A arrogância deles nos faz indagar: será que eles pensam que estão governando Pindamonhangaba ou Campos?

31.8.04

O Jornal Nacional e a Venezuela

Nesta quarta-feira o Jornal Nacional, da Rede Globo, comemora 35 anos no ar. Os brasileiros também devem se orgulhar do telejornal, de seus erros e seus acertos.

Contar a história do JN não é apenas contar a história do jornalismo brasileiro, mas sobretudo os momentos cruciais da história política do Brasil recente. Afinal, jornalismo é versão, e a que foi e vai ao ar no JN foi e é vista por mais de 31 milhões de pessoas, formadores de opinião, eleitores.

A análise mais pueril é sempre a da “teoria da conspiração”. Não vamos negar que Globo não tenha dado apoio a todos os presidentes (e retirado o apoio em momentos oportunos), ou que não tenha servido de “Voz do Brasil” no regime militar (1964-1985). Mas alguns fatos – mal analisados – deram margem a esse tipo de interpretação mais apressada.

Passados vários anos, certos episódios são reavaliados. Em pesquisas qualitativas de um importante instituto de pesquisa - que por motivos óbvios jamais serão veiculadas no JN, mas ao qual o TRÊS PALAVRAS teve acesso – indicam que o quesito "manipulação" ainda vem junto com o nome Rede Globo e Jornalismo.

Dizer, por exemplo, que a Globo prejudicou o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva no último debate com Fernando Collor em 1989 é fato. Mas a questão, nesses e em outros casos, é: foi incompetência ou má fé?

Ambos. E nenhum dos dois.

Os fatos. Às 13h entra no ar o "Jornal Hoje" de sábado. Na edição dos melhores momentos do debate da noite anterior, Collor e Lula ganham o mesmo tempo e uma edição que mostrava momentos bons e ruins de ambos os candidatos. Nada mais injusto: Collor se saíra bem melhor que o candidato do PT naquela noite! Conclusão: Lula foi beneficiado.

Horas depois, às 20h foi ao ar o JN. Uma edição bem diferente do “Hoje” e um pouco mais realista. Foram exibidas falhas de Lula, momentos bons de Collor (e este teve 1 minuto a mais que Lula; não é exagero dizer que 1 minuto em TV é uma eternidade). Conclusão: Collor foi beneficiado. Como o JN tem maior audiência, é claro que a celeuma se deu em torno da edição da noite, e não à da tarde.

Até hoje a autoria da edição do debate é reivindicada por alguns profissionais que eram da emissora à época. Isso aqui é o que menos importa. A questão era fazer uma edição com os melhores momentos (sic.) de um debate. E ninguém sabia como fazer isso. Era o primeiro debate da primeira eleição livre para presidente depois de 21 anos de ditadura militar.

Para se ter uma idéia desse absurdo, hoje, quando os candidatos (da presidência à prefeitura) são convidados para um debate na Globo, norma do contrato diz que a emissora se compromete a não fazer uma edição de debate. A história teve que mostrar isso. Errou-se para aprender. Assim como ocorre com o eleitor que erra o voto: não dá pra voltar atrás, mas aprende-se muito elegendo um candidato ruim. O troco virá na eleição seguinte. No caso da Globo, o aprendizado veio com debates e entrevistas seguintes.

O mea culpa de 89, por sinal, foi feito na edição do JN da última segunda-feira, dia 30 de agosto de 2004. Demorou 15 anos, já com Lula na Presidência da República. Mas já em anos tucanos, a própria apresentadora do jornal, Fátima Bernardes, já corroborava com essa visão. Em palestra em uma universidade do Rio de Janeiro em 1999 foi questionada por um estudante se “a Globo continuava a manipular”. Resposta da jornalista: “Já tivemos problemas no passado”. A fala de Fátima Bernardes é emblemática exatamente 5 anos depois ao vermos o telejornal correndo atrás de um outro erro: o modo de divulgação de uma pesquisa eleitoral.

Na edição desta terça (31 de agosto), o JN apresentou a margem de erro na pesquisa eleitoral – algo inédito na divulgação de pesquisas eleitorais em telejornais – em divulgação de pesquisa Ibope sobre a sucessão da prefeita Marta Suplicy (PT). Que ironia.

Tivesse tido o mesmo cuidado na apresentação de uma pesquisa do Ibope às vésperas do pleito do governo de São Paulo em 1998, talvez a hoje prefeita-candidata Marta fosse governadora. Mas a inexperiência mais uma vez atrapalhou.

Não só diretores do Ibope, mas todos os cientistas políticos com quem conversei desde então são unânimes: o erro na pesquisa não foi a pesquisa em si, mas a divulgação dela. E se Covas passou para o segundo turno foi graças ao “voto útil” de petistas que viram, na noite anterior, o nome de três candidatos acima do de Marta na telinha azul do telejornal.



A emissora que apóia todos os presidentes

A linha editorial do JN não é de apoio a um político ou um presidente específico, a um partido ou a um projeto de política pública. A Rede Globo adota, sobretudo, a linha preservacionista e, conseqüentemente, apóia aquele que está no poder. A moeda? A permanência da concessão com a família Marinho – autorizada com a bênção da Presidência da República – e, em troca, a estabilidade democrática no maior país da América Latina.

Tivesse o JN uma linha editorial crítica à la Folha de S.Paulo, certamente o Brasil se transformaria rapidamente numa Venezuela.

É a opção mais responsável para o único veículo que, se quiser, pode “derrubar” um presidente ou provocar uma crise institucional em segundos, pois somente a Globo fala simultaneamente para todo, todo o país (ok, vamos ser mais exatos, que fala para 99,8% do território nacional) e detém a maior audiência.

Esse tipo de preservacionismo ficou bem claro com a vitória de um candidato que, por décadas, foi renegado pelo dono da emissora.
A cobertura eleitoral de 2002 foi exemplar: todos os candidatos entrevistados no JN tiveram o mesmo tempo e tratamento semelhante; a emissora, portanto, não se comprometera com nenhum candidato, exceto com o vencedor, fosse quem fosse. Essa mudança de rumo na cobertura presidencial, claro, tem outras causas (que serão abordadas aqui neste espaço no momento oportuno), mas, por enquanto cabe a análise de que seja quem for o eleito, ele será “preservado” pelo jornalismo da Globo.

A crítica, a vigilância, a análise sobre o veículo de informação mais importante e de maior audiência do país devem estar sempre presentes. Ter a audiência desses milhões de brasileiros e escolher aquilo que o brasileiro vai ouvir, ver e sentir todas as noites é uma responsabilidade tão grande quanto governar o país. Maior até.



CRÍTICOS DO JN

Aqueles que criticam o JN por ser rápido, superficial e pouco analítico vão ao cerne da alma do jornal e pecam pela ignorância: o objetivo do JN é exatamente esse o descrito acima. Quer profundidade? Vá ler os clássicos, o JN decididamente não é pra você.




28.8.04

São Paulo vai ganhar as eleições
Caio Junqueira

Não é apenas o PT ou o PSDB que sairá vitorioso nas eleições de outubro em São Paulo. A cidade também ganhará e o sucessor, em 2005, receberá uma cidade melhor. Tanto a prefeita Marta Suplicy quanto o tucano José Serra são bons candidatos e com bom retrospecto político e gerencial.

Evidente que, ao se analisar suas trajetórias políticas, principalmente nos cargos executivos (Marta na Prefeitura de São Paulo e Serra no Ministério da Saúde), deslizes e erros são facilmente apontados.

A capital paulista, de longe, não é o melhor lugar para viver. Tem os maiores índices de violência do país, um trânsito que prejudica a economia e a saúde mental dos habitantes e milhares de miseráveis nas ruas. Mas não se resolvem erros históricos em quatro anos.
Marta, nos quatro anos de sua gestão, procurou, a sua maneira, melhorar a cidade. Desde a posse, mostrou ter um projeto para a cidade, ainda que discutível _e falho_ em diversos aspectos. Os CEUs vão além do projeto pedagógico, são centros sociais, muito necessários nas periferias tão carentes de áreas de lazer e cultura e esporte. O Bilhete Único funciona. A frota de ônibus na cidade foi renovada. Diversos espaços públicos, como praças e avenidas, nas áreas nobres e na periferia, foram revitalizados e ficaram com ares de cidade decente.
Isso é comprovado quando vê-se que certas áreas como transporte e educação --antes alvo de qualquer candidato-- são esquecidas do debate político, justamente pelo fato de saber-se que o projeto nestas áreas resumem-se à continuidade e ampliação.

Os críticos de Marta _em geral, integrantes da elite_ ignoram suas realizações ou por preconceito petista comum à classe econômica que fazem parte ou por desconhecimento e falta de vontade de reconhecer nela uma prefeita, no mínimo, razoável. Claro que a arrogância da prefeita colabora com essa oposição desinformada. Incomoda uma mulher petista no terceiro cargo mais importante do país. Alia-se a isso os erros cometidos pela prefeita durante sua administração, devidamente dimensionados, como o loteamento político feito nas subprefeituras e à falta de prioridade na área da saúde. Propositalmente ou não, criou-se uma situação em que seus erros são dimensionados e suas virtudes esquecidas.

A cidade também ganhará com Serra prefeito. O tucano, além de ter sido um dos melhores legisladores da Nova República, mostrou-se bom gestor no Ministério da Saúde. Entre seus pontos positivos, destacam-se o caráter executivo, de tirar idéias do papel e colocá-las em prática. Negativamente, além de sua antipatia e falta de carisma, ele fez parte do governo FHC, tão celebrado pelas classes dominantes, mas não visto pelas camadas pobres da sociedade como um bom governo. Pudera, desde 1995, ano da posse de FHC, até 2004, a renda do brasileiro diminuiu, a economia estagnou e o desemprego aumentou. Resultados de modelos econômicos sentem-se na pele e a era FHC, da qual Serra teve participação ativa, foi dura para a maior parte da população.

Assim, o que parece que está em disputa em São Paulo são mais os projetos de poder dos dois maiores partidos do país do que ideologia e gestão em si. No âmbito gerencial, os fins de ambos os candidatos são os mesmos, embora os caminhos sejam diferentes. Mas São Paulo, depois de administrações desastrosas como a de Celso Pitta (1997-2000) e Paulo Maluf (1993-1996), estará em boas mãos com Serra ou com Marta.

Baixo clero
José Aníbal, ex-presidente nacional do PSDB, tem sido criticado por sair candidato a vereador em São Paulo. A decisão, no entanto, transcende o caráter pessoal. O interesse do partido é ter uma força articuladora na Câmara Municipal em um eventual governo Serra, uma vez que dificilmente os tucanos terão maioria na Casa. Agora, não é preciso mencionar que uma eventual derrota de Aníbal seria o fiasco do ano.

Medo
Nenhum tucano quer enfrentar Lula em 2006. Próximas eleições presidenciais somente em 2010, quando marta deixará o governo do Estado de São Paulo e Alckmin o Senado para travarem o duelo PT x PSDB, que irá se consolidar como marca desse início de século na política brasileira. Uma opção para o tucanato é colocar o senador Tasso Jereissati na disputa em 2006. Outra é repetir a aliança com o PFL, só que desta vez com os pefelistas encabeçando a chapa.

Duda
Tenho esperança de que os CEUs da saúde não contabilizem votos para Marta, apesar de não achar isso possível. A apresentação do projeto deu a Marta um aspecto malufista, de político que faz grandes promessas. Isso piora ao constatar que o que a prefeita e seu marqueteiro tentam é rebater as críticas à gestão pífia que fez na saúde. Deprimente.

Quem sabe...
A derrota de Maluf não o faz desistir da carreira de candidato para sempre. Como paulista, tenho vergonha até mesmo de ele ser candidato.

20.8.04

HORÁRIO ELEITORAL 20/08/2004

O contraponto tem que chegar

No segundo dia de horário eleitoral em São Paulo, posicionamentos são estabelecidos. Marta Suplicy (PT) direciona o discurso para a educação. José Serra (PSDB), para saúde.

Marta exibiu orgulhosa os seus CEUs, o vai-e-volta, os uniformes, o material escolar de graça. E
criticou Pitta, com suas escolas de latinha. Serra, por sua vez, criticou o descaso da prefeita com a saúde. Até aí, nenhuma novidade. Essas críticas já foram feitas anteriormente pela imprensa, no debate da TV Bandeirantes, em entrevistas isoladas com candidatos e no programa de estréia da propaganda eleitoral.

Mas quando os candidatos líderes nas pesquisas terão a coragem fazer crítica nos quesitos em que são mais bem avaliados respectivamente? Será que o PT vai criticar o modelo excludente de saúde implementado pelo tucano no governo FHC? A crise de dengue será lembrada?

E a campanha do ex-ministro, vai lembrar que nos CEUs faltam professores de matemática? Que alguns alunos que foram para os CEUs querem voltar para as escolas "comuns", onde pelo menos não tinham um défcit tão grande de professores? Os pais dessas crianças serão entrevistados no horário eleitoral?

Enquanto isso, os lanternas Paulo Maluf (PP) "requenta" o programa anterior e Luiza Erundina (PSB) decreta a derrota. A candidata usou todo o programa de hoje para "velar" os mendigos assassinados no centro de São Paulo. Beirou a demagia, sentimento até pouco tempo atrás identificado apenas em outros concorrentes, especialmente os das antigas. O novo programa da Erundina é a cara do PMDB; talvez o fundo azul do cenário e a roupinha da mesma cor da candidata não sejam mera coincidência.

Assim como também não é coincidência o jingle de Havanir (Prona): a "5ª Sinfonia", de Beethoven, em ritmo grave. Mas curioso o uso de uma trilha de um músico alemão no mais nacionalista dos partidos.

E ainda sobre os partidos pequenos: parabéns ao PSTU. Tirando os programas do Duda Mendonça (com a exceção de alguns poucos), trata-se da campanha política mais eficiente (mas também a mais fácil de ser produzida).

18.8.04

Eterno retorno

No Rio de Janeiro, o argumento de ataque de um candidato contra o outro é motivo de auto-reconhecimento quando fazemos um breve retorno ao passado.

No início de julho, a candidata à prefeitura, Jandira Feghali (PCdoB) disse que jamais apoiaria o PFL. No entanto, em 1986, na eleição de Moreira Franco (PMDB), os comunistas se aliaram à Frente Liberal contra Fernando Gabeira, então candidato pelo PT e dos verdes (que ainda não existia como partido constituído; foi formado no ano seguinte).

Em 2004, por sinal, Gabeira apóia Cesar Maia (o ex-PV e x-PT foi personagem ilustre no programa eleitoral de estréia do prefeito que concorre à reeleição). O mesmo Cesar, aliás, que critica o apoio do PCdoB ao PMDB de Moreira Franco, o PMDB pelo qual foi eleito prefeito pela primeira vez, em 1992! Crítica não só a Moreira Franco, mas também a seu rival e ex-superaliado, Conde, que mudou de mala e cuia do PFL para o PSB e de lá para o ex-MDB, acompanhando o o casal Garotinho.

Resumo da ópera: PCdoB, que ama o PFL, que ama o PMDB, que, pelo visto, ama todo mundo. De quadrilha a orgia. Antes assim.




HORÁRIO ELEITORAL 18/08/2004

Propaganda começa com reprises de 2002 e com estratégias de 2006


A eleição começou de verdade. Incia-se o horário eleitoral para os candidatos a prefeito e vice-prefeito no rádio e na TV. A partir de hoje, o TRÊS PALAVRAS passa a oferecer pra você a análise da propaganda em São Paulo.

E primeira leitura que faço programa de estréia é de, simultaneamente, um "deja vu" e uma "pre-monição".

"Deja vu" não apenas por José Serra ter repetido cenas da campanha eleitoral de 2002 (quando estava visivelmente menos magro, em imagens com os mesmos cortes do tucano na ONU etc.) ou pela repetição dos bordões de PSTU e PCO. Mas principalmente pela reedição do segundo turno PSDB x PT, que veio pra ficar.

E "Pré-monitório" porque o discurso de Marta Suplicy (PT) certamente será repetido à exaustão em 2006 pelo candidato Lula. "Não deu pra fazer tudo em quatro anos". Foi o que disse Marta hoje à noite. Duvido que Duda Mendonça mude a ordem das palavras na gravação do programa presidencial do PT daqui a dois anos.

O programa da tarde na TV praticamente repetiu o que já havia sido mostrado no rádio horas antes: foi exibida uma breve biografia dos principais candidatos. Mas com uma peculiaridade: Marta Suplicy (PT), Paulo Maluf (PP) e Luiza Erundina (PSB) justificaram de cara os aspectos mais embaraçosos para suas respectivas campanhas.

Marta usou maior pare do tempo para explicar que ainda é amiga do senador Eduardo Suplicy (PT) e que a decisão de terminar um casamento de mais de 30 anos não foi fácil. Duda Mendonça colocou o dedo na ferida, e se saiu muito bem. Tranformou a "vilã" na mulher "justa" e "sincera" com o marido.

O narrador do programa de Maluf não deixou por menos e soltou nos primeiros segundos: "Maluf nasceu numa família de posses"; é dono da Eucatex, "gerando mais de 10 mil empregos diretos e indiretos". O "Rouba, mas faz já era". Agora veio o "roubar pra que, se já sou milionário?".

Já Erundina, via Michel Temer, justificou a aliança com o PMDB quercista. A aliança PSB-PMDB "não é eleitoral" e, ainda segundo Temer, "é uma aliança para hoje e amanhã". Literalmente até amanhã? Historicamente os candidatos em horário eleitoral não levam ao pé da letra o que prometem, portanto... quem sabe não chegue a 2006?

Outra estratégia usada na estréia foi a dos candidatos se adequarem ao que "pediam" as pesquisas qualitativas. A prefeita de São Paulo, que passa uma imagem de arrogância, prepotência (segundo as qualis), foi mostrada como a Marta "vovó", ganhando até música composta pelo seu filho João.

José Serra, agora "do bem", dedicou os últimos 30 segundos teve direito no programa da tarde a um clipe com imagens sucessivas de sorrisos seus. Falta de carisma? É, até que deu pra (deixar) enganar.

Já Erundina não teve dinheiro para usar qualquer estratégia. No dia anterior, dia da propaganda dos vereadores, o espaço na TV e no rádio foi usado pelos presidentes regionais do PSB e PMDB, e nenhum candidato a vereador da coligação foi mostrad! O programa foi modificado de última hora, pois parte dos assessores e colaboradores de Erundina se mandaram: em crise e atrás nas pesquisas, a campanha da ex-prefeita (1989-1992) não estava pagando os salários da equipe em dia. Aliás, a falta de dinheiro foi lembrada em discurso de Michel Temer no horário de hoje. O programa foi o mesmo à tarde e à noite pelos motivos já expostos.

À noite, Marta, Maluf e Serra tiveram programas novos. Maluf, com poucas alterações. Uma mudança interessante foi quando o locutor disse que Maluf já "era rico antes de entrar para a política". Eis que surge uma animação com setas mostrando o fluxo de dinheiro do exterior para o Brasil; simulando a aplicação de investidores nas empresas do candidato do PP. Um fluxo ao contrário, do Brasil para o Exterior? Só na arte do "Jornal Nacional".

Mas como estamos em pleno Horário Eleitoral, recordar é viver. Vide a estratégia de José Serra, que copiou imagens da campanha à presidência (ainda bem que foi só no da tarde). É certo que o candidato ainda não quitou suas dívidas da campanha anterior e que as imagens de arquivo eram boas, mas a parte que tratava da biografia do tucano foi demasiadamente extensa. Candidato à presidente, até Rio Branco sabe que o Serra é filho do feirante da Mooca. No entanto, já à tarde, Serra anunciou o que estava pro vir: Saúde, saúde, saúde. "Especialmente à voltada para a mulher" (maior parte do eleitorado).

Cumpriu-se o prometido à noite, quando apareceu o Serra dos genéricos, o Serra do mutirão da catarata, o Serra ministro da saúde. Também foi enfatizada a dobradinha "Serra-Alckmin".

Nos mesmos moldes da dobradinha "Marta-Lula", à tarde. "Tenho muito orgulho de ser amiga do Lula", disse a prefeita.

Mas à noite, brilhou a Marta dos CEUs (Centros Educacionais Unificado). O programa foi encerrado (com direto à lágrimas nos olhos do espectador; afinal o programa foi produzido por Duda Mendonça) com uma apresentação de música dos alunos dos CEUs, tocando violino. E já "respondendo" Serra: a prefeita reafirmou o "mea culpa" na saúde e pediu mais quatro anos para repetir na saúde a revolução que fez nos transportes ("bilhete único") e educação.

No mais, candidatos afirmando cobrar para dar entrevista (PAN), prometendo acabar com a "indústria da multa" (PSDC) e candidata histriônica usando palavras como "visceral", "sistêmico" e "maquiavélico". Nem criando um milhão de CEUs o povo alcança isso.

Enfim, a novela continua na sexta. Até lá.



16.8.04

O PSDB na Esplanada dos Ministérios em pleno governo do PT

O presidente do Banco Central e deputado federal licenciado por Goiás será, a partir desta terça-feira, o primeiro ministro do PSDB a integrar o governo do PT.

Numa manobra de Lula-Palocci, Henrique Meirelles passa a ter status de ministro de Estado, ou seja, terá FORO PRIVILEGIADO NO STF (Supremo Tribunal Federal). O motivo mais óbvio é que Lula quer proteger Meirelles das denúncias que começaram a sair na imprensa há algumas semanas, que tratam de crimes de sonegação fiscal e evasão ilegal de divisas que teriam sido praticadas pelo "ministro" Henrique Meirelles.


Meirelles teria uma conta não-declarada no Goldman Sachs, de cerca de US$ 50 mil. Esse dinheiro teria sido enviado para uma outra conta de doleiros investigados pela CPI do Banestado por suspeita de lavagem de dinheiro... Por causa disso, o tucano é aguardado pelo Senado para dar explicações.

O governo do PT mostra-se mais uma vez mais rasteiro que o antecessor ao mudar o status de um ministro para encobertar possíveis crimes finaceiros e dificultar as investigações. O pt revela-se o partido menos transparente que já ocupou o Planalto desde os militares. Asssitimos, nesta terça, a um golpe.

Mas o recado que parece ser mais importante (para o governo e para o mercado) foi dado: Meirelles fica fortalecido; o fechamento da Bovespa amanhã certamente ( e infelizmente) indicará esse caminho. Mas o mercado, entende-se. Esse joga contra. Injustificável é termos eleito um governo que também joga contra; que joga contra democracia, contra a transparência das contas do presidente do BC, contra a chance de se investigar um integrante do governo.

Lula, Palocci e Meirelles deram mais uma prova de covardia e passaram recibo da culpa no cartório.


12.8.04

Vai dar Brizola na eleição do Rio

Bizola nos deixou, mas seu legado ficará. Nos anos 90, perdeu todos os cargos eletivos a que concorreu. Mas elegeu todos seus afilhados e ex-afilhados para a prefeitura e para o governo. Começamos a contar a partir de 1982, primeira eleição disputada por Brizola e sua trupe desde a volta do exílio.

Na prefeitura:
1983: Jamil Haddad assume a prefeitura pelo PDT, mas deixa o cargo por discordar do partido; assume o vice, Saturnino Braga (PDT).
1985: Saturnino Braga é eleito pelo PDT; hoje é senador pelo PT
1988: Marcello Alencar é eleito pelo PDT; hoje é tucaníssimo. Não anda bem de saúde, mas foi o principal articulador em tirar a deputada federal Denise Frossard da sucessão à prefeitura nesta ano e entregar à vice a Cesar Maia.
1992: Cesar Maia é eleito prefeito. Lembramos que trata-se de um filhote direto de Brizola. Foi secretário de fazenda de caudilho e eleito deputado federal constituinte pelo PDT, em 1986. Por isso eu entendo porque tanta gente foi às ruas no Rio chorar a morte de Brizola. As pesquisas indicam que Cesar ganharia em primeiro turno.
1996: O filho do filho de Brizola é eleito; "Conde é Cesar, Cesar é Conde". Conde foi eleito pelo PFL.
2000: o ex-brizolista Cesar Maia ganha de novo a prefeitura, desta vez pelo PTB.

No senado:
O Senado é um caso à parte. Brizola só conseguiu eleger dois "filhotes" de 1982 até hoje.
1982: Saturnino Braga foi eleito pelo PDT; foi reeleito em 1998 pelo PT.
1990: Darcy Ribeiro é eleito pelo PDT.

No governo:
1982: Com todo o problema com Globo, Proconsult, deu Brizola na cabeça.
1986: A exceção; naquele ano, com a febre do Plano Cruzado, os candidatos do PMDB ganharam praticamente todos os governos estaduais. No Rio deu Moreira Franco; Darcy Ribeiro, candidato de Brizola, perdia a eleição.
1990: Ddepois de perder por pouco a chance de ir ao segundo turno contra Collor em 1989, Brizola é eleito no ano seguinte em primeiro turno para o governo do Rio.
1994: um ex-pedetista é eleito governador, desta vez pelo PSDB (na onda da febre do Plano real). Marcello Alencar ganha, no segundo turno, contra Garotinho (PDT).
1998: Garotinho governador, Bené vice. PDT de novo no poder.
2002: Rosinha Garotinho governadora; Conde (o filho do filho de Brizola) na vice. Rosângela Matheus foi eleita pelo PSB, mas hoje está no PMDB, partido pelo qual Cesar Maia foi eleito prefeito pela primeira vez.
2004: Tudo leva a crer que o ex-pedetista Cesar Maia vai ser eleito em primeiro turno. É o que indica todas as pesquisas. E se ganhar, Cesar terá poder de fogo grande para disputar o governo do Estado em 2006.
E também em 2006: Clarisse Garotinho para a Câmara dos Deputados. Mesmo com o casal Garotinho brigado com Brizola, Clarisse era fiel amiga do caudilho, e foi a responsável pela reaproximação do casal com o ex-governador pouco antes dele morrer. Clarisse prefeita em 2008? Não estranharia se ela concorrer/ganhar.

Nem morrendo Brizola deixou de fazer estragos.


18.7.04

A moda que não veio mais pra ficar

Marcio Pinheiro
 
No meu primeiro artigo aqui no TRÊS PALAVRAS eu havia criticado o uso indiscriminado dos programas partidários na TV que ocorriam à época. Segundo a lei eleitoral, esses programas deveriam ser usados para que os partidos divulguem suas idéias e propostas para o país, ou para criticar modelos vigentes. Isso ficou na ficção. Fez-se propaganda dos então pré-candidatos. E hoje, os agora candidatos começam a colher o que plantaram: a falta de ética.
 
Só para citar os recentes condenados mais ilustres: Paulo Maluf (PP), Luiza Erundina (PSB), José Serra (PSDB) e Paulo Pereira da Silva (PDT), que foram multados em R$ 21 mil por propaganda fora do prazo.
 
É que todos estavam achando que 2004 repetiria 2002. Naquele ano, todos os então pré-candidatos à Presidência usaram o horário partidário como eleitoral.
 
Mas dessa vez o Ministério Público está de atento e a Justiça Eleitoral, quem diria, está dando conta do recado, ao acolher as denúncias de propaganda antecipada (e ainda querem diminuir os poderes do Ministério Público... ).
 
Isso tudo, lembramos, está inserido num contexto de revolução do Tribunal Superior Eleitoral. Revolução sim porque, pela primeira vez em sua história, a Justiça Eleitoral está fazendo valer leis importantíssimas (sem criar nenhuma lei nova!). O maior exemplo até agora é o tempo do horário eleitoral.
 
Até então, entre a eleição dos deputados em outubro e a posse em fevereiro, inflavam-se bancadas de partidos bandidos, que cooptavam deputados para não só ter uma bancada enorme no Congresso, ou para dominar as comissões e aumentar seu poder de fogo no balcão com o Planalto. O que esses partidos realmente queriam era aumentar sua bancada para conseguir o maior tempo eleitoral na TV possível. Por que? Porque até então a Justiça Eleitoral dividia o tempo de horário eleitoral com base na bancada que tomou posse (ou seja, inflacionada), e não na que foi eleita. Isso mudou. O TSE fez valer o bom senso.
 
A segunda velha novidade trazida à tona pelo Tribunal foi o número de vereadores. Simplesmente o tribunal pegou a máquina de calcular e fez valer a o que está na constituição, ou seja, que o tamanho das Câmaras Municiapis seja proporcional ao número de habitantes! 

Que a (r)evolução continue. O Judiciário foi a instituição que mais demorou a se acomodar à democracia. Por vários motivos: por ter tido até poucos anos atrás a maior parte de ministros nomeados na ditadura, por ter tido que encarar de frente problemas muito graves com a então recém-aprovada "Constituição Cidadã" (o impeachment do Collor foi um exemplo, quando  Supremo foi acusado de fechar os olhos).

Mais à vontade e oxigenado, a Justiça vai gozando as atribuições dos novos tempos. Que bom. 
  
  
    
MAS TAMBÉM NÃO VAMOS EXAGERAR
 
Na Rússia, o homem mais rico do país é preso por corrupção. Nos EUA o ex-diretorzão da Enron e amigo de George W. Bush também vai em cana. Martha Stewart (uma espécie de Ana Maria Braga dos EUA), idem. E no Brasil? Aqui, senador acusado de corrupção é nomeado para Tribunal que julga as contas do Estado, político que “rouba, mas faz” é segundo colocado em pesquisas, ex-banqueiro “falido” foge com todo o luxo... 
  

  
O NOVO REI DO HABEAS CORPUS
 
Antes era o presidente Marco Aurélio Melo. Agora é Nelson Jobim, que soltou o Sombra, suspeito no assassinato do ex-prefeito petista de Santo André, Celso Daniel. Parece que no STF as bancadas petista e tucana se afinam cada vez mais. 
No entanto, ainda falta muito para Jobim ganhar a coroa. Marco Aurélio soltou o advogado Carlos Alberto da Costa Silva, da Operação Anaconda, o “cantor” “Belo”, envolvido com tráfico, votou a favor da liberação de Lalau (mas a maioria do pleno vetou), do banqueiro Caciola, entre outros. 
  
  
SURREALISMO NO RIO
 
Jorge Bittar (PT) e Jandira Feghali (PCdoB) declararam guerra um ao outro. A máxima "semelhantes atraem semelhantes" nunca valeu tanto para esses candidatos (afinal, 4% de intenção de voto é bem próximo a 5%).
Enquanto isso, “lá em cima” (nas pesquisas, ok?), Crivella (PL) apresenta uma declaração de bens suerral (R$ 21 mil de patrimônio), César Maia usa a torto e a direito o Palácio da Cidade pra fazer campanha, e Conde (PMDB), bem o Conde... o Conde que se dane! 
  
  
A BAIXARIA E O COVARDE
 
De um deputadozinho do PSDB, em comício no último fim de semana, sobre a prefeita Marta Suplicy: "Vamos falar da importância de tirar a prefeitura das mãos desta mulher, que parece uma menininha que só quer saber de viajar e namorar e esquece da cidade".
O ex-Itamaraty FHC deve estar desolado com a falta de classe de integrantes de seu partido. E com a falta de coragem de seu candidato em São Paulo, que delega a terceiros (ou a quartos ou quintos) a tarefa de atacar os adversários.
A resposta da candidatura Marta? Utilizar o candidato a vice, Rui Falcão, para atacar Alckmin. E olha que ainda falta um mês para o horário eleitoral!
  
 
BLAIRO MAGGI e MST
 
O governador do Mato Grosso disse na noite de domingo, no programa "Canal Livre", da TV Bandeirantes: "O MST usa a terra para fazer política. Quando ele tem crédito, não tem conhecimento. Quando consegue produzir, não tem mercado. O que o Brasil precisa é uma reforma agrícola, e não agrária".


15.7.04

Eleição como diagnóstico

Virgilio Abranches
 
Mais do que um plebiscito do governo Lula, as eleições municipais deste ano devem tornar claros os caminhos pelos quais a política nacional tende a percorrer nos próximos anos. Esses caminhos não serão resultado do pleito, mas este servirá como uma espécie de termômetro (não é a melhor analogia), enfim, como algo que vai trazer à tona _a partir de um resultado prático_ como estão realmente divididas as forças políticas do país. Um diagnóstico, enfim.
Trocando em miúdos: até agora foi muito blá-blá-blá. Esquerdistas revoltados, esquerdistas que correram para o centro, outros que foram para a direita, partidos que se fortalecem, partidos que se enfraquecem, mas tudo isso solto no ar. Afinal, o que vai acontecer com a esquerda que outrora depositava suas esperanças no PT? Como eles vão se comportar nas eleições municipais? Vão ficar jogados no vento ou correr para sob o guarda-chuvas das siglas menores e mais radicais? Enfim, a partir destas eleições nós vamos ver para onde está indo, na prática, a esquerda nacional. 
Siglas: o PTB está ousando para voltar, quarenta anos depois da deposição de João Goulart, a ser um partido significativo. É claro que o PTB não é nada igual àquela sigla da Era Vargas. Outra história, tem até collorido. Mas o apoio a Marta Suplicy em São Paulo, a Jorge Bittar no Rio e a fidelidade ao governo Lula estão empurrando a sigla para ter um vice numa possível tentativa de reeleição do presidente. Se a aliança PT-PTB vingar neste ano, está formada uma dobradinha a la PSDB-PFL, que governou o país por oito anos. Outra tendência que as eleições vão mostrar.
O que será do tucanato? Já descolou de FHC? Dá para falar em voltar ao poder sem ter vergonha do passado? Vamos ver. E o PMDB? Cada vez mais fraco? Será o fim de uma era que dura desde a redemocratização?
Eleições regionais _como para governadores e prefeitos_ sempre, inevitavelmente, são sintomáticas em relação ao momento e ao futuro político do país. A História mostra isso. O PMDB se tornou o partido mais forte na década de 80 quando elegeu quase todos os governadores sob a égide dos planos econômicos de Sarney. Mais lá atrás, a ditadura começou a despencar quando foram eleitos prefeitos e governadores oposicionistas.
Com a eleição de Lula em 2002, o panorama político do país começou a tomar um rumo. Com a de 2004, nós vamos saber que rumo é esse.

18.6.04

O mínimo não foi feito

Marcio Pinheiro

A culpa pela não-aprovação da MP do salário mínimo, a maior derrota de Lula no Congresso, foi do próprio presidente da República.

Desde o início de 2003 ao não tentar um outro tipo de relação com o Congresso que não fosse o toma-lá-dá-cá, Lula não teve a consciência de que o preço a ser pago seria muito caro; a conta chegou hoje. Preferiu a Reforma da Previdência à Reforma Política, no auge de sua popularidade. Mas o jogo estava só começando.

Em janeiro de 2004, Dirceu deixa o que de melhor sabia fazer: articulação política; ele que foi o grande articulador de “Lula Presidente” (aliás, se está no Palácio até agora é devido a esse reconhecimento de Lula). No entanto, foi aí que começou a ciumeira com Aldo, o novo articulador. Lula deixou correr solto o desgaste da cúpula palaciana: se Gushiken, Luiz Dulci e Aldo não se dão com Dirceu é porque algo está errado, não? Isso no nariz do presidente, “o grande conciliador”.

E desde o início do mandato até ontem: deixou senadores e deputados à espera, sem atenção (ele não havia escolhido em 2003 esse tipo de relação com o Parlamento?). Levou “no bico” relação com gente séria, Sarney inclusive, com quem fala pouco. Lula paga o preço do seu desapreço pelo Parlamento. Quando foi ligar para parlamentares, se rastejando por votos para o salário mínimo de R$ 260, já era tarde.

Outro motivo que mostra ser de Lula a culpa pela não-aprovação da MP é o mérito da questão, que vem desde a campanha: o então candidato do PT alardeou em 2002 que ia dobra o valor do salário mínimo. Ele não vai querer fazer isso de uma vez só no último ano de mandato, vai?

A perda do governo nessa votação, e pra Lula especificamente, é pra lá de simbólico. Símbolo que vem desde a era Vargas, político que introduziu o salário mínimo, usado como populismo, que os trabalhistas usavam e abusavam; do qual os trabalhadores-companheiros da então oposição petista sempre reclamavam, por ser de tão baixo valor. A MP de hoje seria a aprovação de uma medida que é base, o sustentáculo do trabalhador.

Depois de um ano e meio, o amadorismo do governo assusta. Numa casa onde sabidamente não tem sustentação forte, deixou o barco correr solto (vide o desleixo com a emenda de reeleição no Congresso); deixou rixas palacianas influírem.

Foi colocado em xeque o tão propagado “poder de convencimento” do presidente, ou seu poder de costuras políticas (não conseguiu porque delegou essa tarefa a duas pessoas que não se dão bem pessoalmente – Aldo e Dirceu). Além da “culpa” presidencial, ainda cabem outras observações.

1- A confirmação da política como “palco” e hipocrisia. Vide o incrível comportamento da dobradinha tucano-pefelê, que por oito anos comandou a ferro e fogo o Congresso e não foi capaz de, assim como Lula 2004, dar um aumento razoável ao salário mínimo (só pra lembrar um indicador econômico que justifique esse sentimento: o poder de compra do trabalhador conquistado desde o Real já foi perdido em termos reais).

2- O banho de realidade política pode ser visto sob a égide de uma lição da Democracia. É muito saudável que se veja na prática a independência entre os poderes da República, ver um Poder não refém do outro.

Mas não sejamos ingênuos ao cair de cabeça neste segundo tópico. O balcão foi reafirmado pelo governo do PT: a moeda de troca está mais do que nunca entranhada entre Planalto e Congresso, tanto que liberação de verbas foram postas no cardápio (e nem assim o Planalto levou..).

3- O medo e a infelicidade de ter que reconhecer que Regina Duarte é vanguarda. Medo de que a moda pegue e o Executivo simplesmente pare. Isso: uma crise institucional a essa altura.


6 ANOS DEPOIS...
A Embratel conquistou o primeiro lugar – dentre 180 marcas – no Ranking Info de Confiabilidade em Serviços de Comunicação, Voz e Dados na segunda Pesquisa Info de Marcas em Tecnologia da Informação. Quanto prestígio. Algo impensável até 1998, quando da privatização das teles. Um sucesso.
Mas só um detalhe: a pesquisa foi feita com base na opinião de 152 executivos das maiores empresas do país. Certamente pessoas que não tem idéia de qual prestadora cobra a menor tarifa ou qual delas deixa você esperando por mais tempo até ser atendido.


10 ANOS DEPOIS...
Rubens Ricupero volta às manchetes dos jornais. Não, não é como ministro do Real para dar uma notícia excelente sobre o plano. Muito menos para dizer que "não tem escrúpulos” ou que “o que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde”.
Escondeu e não faturou: caiu no dia seguinte à exibição dessa delcaração.
Mas Ricupero deu uma volta por cima e tanto. Ele volta à mídia como secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), cuja última reunião ocorreu em São Paulo. O ex-ministro da Fazenda de Itamar trabalha hoje em prol das nações pobres. Está faturando o que é bom mostrando o que é ruim.

17.6.04

Robin Hood às avessas

Caio Junqueira

Um país fudido querendo ajudar outros países mais fudidos e que acaba fodendo os fudidos que vivem nesse país fudido. Essa é a interpretação grosseira da intenção de Lula de querer comprar produtos dos países da América do Sul, ainda que sejam mais caros, proposta durante a reunião da Unctad na última segunda, em São Paulo.
Então o presidente quer economizar R$ 260 no mínimo mas quer gastar milhões com importações caras? Por favor né, ou para com essa demagogia ou já pode passar a chamar os brasileiros de palhaços.

EMBRIÃO DE CORONEL
Está provado. O Nordeste brasileiro é o grande renovador do fisiologismo político brasileiro. O marido da atriz Patricia Pillar, Ciro Gomes, é um desses casos em desenvolvimento. Ciro, que além de marido de atriz famosa, é ministro da Integração Nacional do governo Lula, está começando a se emburrar com o governo, surpreendentemente ao mesmo tempo em que o governo começará a ser mais questionado, criticado e colocado em xeque, devido às eleições municipais.
Ele, que ficou um ano e meio quietinho e mansinho, quase imperceptível, agora já percebe que é hora de se mexer para não correr o risco de afundar junto com o governo.

ATRAÇÃO PAULISTANA
Agora é regra. Todo gringo que pisar por aqui tem que visitar os CEUs da Marta. Nesta semana o privilegiado foi o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que foi até o escolão do Campo Limpo, zona sul de SP, um dos bairros mais violentos da capital. Annan achou o "ambiente maravilhoso".
O mais interessante é o “maquiamento” dado a essas regiões quando “gente importante” por lá aparece. Um aluno da escola disse que nunca tinha visto tantos policiais em sua vida como durante a visita de Annan.

JUSTIÇA HEIN?
“A hipótese ora tratada não é de mera desclassificação ou mesmo de absolvição do paciente, mas, sim, de decisão que reconhece a inexistência do crime contra o sistema financeiro nacional. Ou seja, essa infração jamais ocorreu.”
Naji ficou famoso por ter feito operações, em 1989, que provocaram prejuízos à Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, culminando no seu fechamento. Segundo a Justiça, nada aconteceu.

UM DIA CHEGA
O papa João Paulo 2º pediu perdão pela Inquisição, período entre os séculos 13 e 17 em que a Igreja torturou, fez julgamentos sumários, conversões forçadas e queimou na fogueira acusados de heresia. Se demorou mais de 300 anos para o pedido de perdão da Inquisição, podemos calcular que lá pro ano de 2300 o papa da época pedirá perdão pelo apoio do papa Pio 12 ao 3º Reich de Hitler.

CLÁUSULA DE BARREIRA
Pelo dispositivo que será apresentado à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) pelo relator da reforma política, deputado Rubem Otoni (PT-GO), os partido pequenos não serão tão censurados como na proposta anterior.
A idéia é que o partido tenha 2% dos votos nacionais (e não 5%, como antes), não mais tenha votação mínima no Congresso. Porém, será preciso eleger deputados federais em pelo menos cinco Estados e ter votação em 9 Estados. Ponto para a democracia.

FACETAS IRRITANTES DE UM PAÍS DESIGUAL
70% do faturamento de pet shops correspondem a comercialização de produtos importados, como um frasco de perfume por R$ 2 mil, uma gargantilha de R$ 2,5 mil ou uma cama alemã com base de ferro, de R$ 1 mil.
Enquanto isso, no Brasil Real, a média nacional dos alunos da rede pública e particular em 2003, na prova de português da 4 série, foi de 169,4 pontos numa escala de zero a 500. Em 2001, havia ficado em 165,1 pontos. Essas pontuações deixam os alunos no nível 2, numa classificação que tem oito níveis de conhecimento. Nesse nível, os alunos só identificam informações explícitas em pequenos textos e precisam do apoio de ilustrações para reconhecer o tema de narrativas simples como histórias infantis.

REGISTRO
Todo mundo já bateu, mas eu também quero. O artigo de Danusa Leão criticando a festa de Lula por ser jeca, caipira, símbolo de um país atrasado foi elitista, preconceituosa e nojenta.

QUENTE
To vendo na TV Senado. O governo perdeu a votação do mínimo. Pode comparar ae com os outros sites . 44 a 31 com uma abstenção. O 3 palavras deu primeiro.

15.6.04

Tarso Genro, a luz no fim do túnel

Virgilio Abranches

Com a proposta do ministro da Educação, Tarso Genro, de utilizar parte dos recursos destinados ao pagamento da dívida externa para o desenvolvimento educacional do país vê-se que enfim alguém resolveu trabalhar em cima de idéias no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Até agora, a parte que mais colheu resultados - ainda que pouco expressivos - foi a econômica, que não adotou um projeto original, mas sim um simples aprofundamento do que já vinha sendo aplicado ao país pela trupe da PUC do Rio sob a aprovação de Fernando Henrique Cardoso.
De resto, só trapalhadas. Apenas programas que não saíram do papel (vide Primeiro Emprego e Fome Zero), golpes marqueteiros sem nenhum resultado prático (vem aí o Farmácia Popular) e fofocalhadas, intriguinhas palacianas que paralisam o governo e teleguiam as pautas da mídia e da imprensa. Talvez seja esse o intuito do ministro José Dirceu, o campeão dos mexericos: ocupar os jornalistas com as encenações de bastidores e impedi-los de notar que esse governo não anda.
Vamos esquecer e fingir que não ouvimos a proposta de Tarso Genro de criar uma loteria para financiar as universidades. Foi um lapso, consideremos. Como bem observou Élio Gaspari, em sua coluna na Folha de S. Paulo do último domingo, seria tirar dinheiro dos pobres (os maiores apostadores de loterias) para dar aos ricos (os maiores beneficiários das universidades públicas).
A proposta esdrúxula da loteria não diminui o mérito da idéia de investir em educação o dinheiro da dívida. Obviamente não será fácil convencer os credores do Brasil. Mas só a discussão do tema e uma articulação internacional, como defende o ministro, já são passos importantes. Seria uma forma de driblar a falta de recursos e de imprimir uma certa justiça na relação do país com os agentes financeiros, sem abalar os tão prestigiados ânimos do mercado.
A maior decepção do governo Lula até agora, independente de juros altos, superávit, transgênicos e afins, é a não atenção à educação. Imaginou-se que um governo de esquerda veria no tema prioridade, inclusive para alcançar o tão desejado crescimento (se é para analisar a tudo sob a ótica econômica). Não foi assim. Não está sendo assim. Tarso Genro mostra agora que pretende agir para mudar a situação. Só pretender não adianta. Ainda mais se tratando apenas do ministro. É preciso ação. E do presidente.

DEPRIMENTE
É ridículo as pessoas se ocuparem em criticar a festa junina do presidente Lula. Por qualquer ângulo.

CAMPEÃ
É lógico que o título de idiota da semana vai para Danuza Leão em seu artigo preconceituoso e ignorante na Folha de S. Paulo. Está estabelecido. A partir de hoje, em todas as terças será eleito "O idiota da semana".

OLHOS NELES
Vamos ver quem serão os incoerentes de PFL e PSDB dessas vez na votação do salário mínimo no Senado. E vamos ver quem são os petistas que continuam achando que vivem na Albânia.


14.6.04

Um círculo viciado

Marcio Pinheiro

O caso Law Kin Chong faz lembrar o clássico dilema presente no debate sobre o tráfico de drogas, que existe porque há demanda pelo produto. O mesmo se aplicaria aos produtos roubados: eles são comercializados porque tem gente que compra.
Mas ao contrário das drogas, as pessoas consomem esses produtos de origem duvidosa (mais baratos) simplesmente porque não podem pagar pelo produto legal (mais caro).
Em comum com o mercado dos entorpecentes, o hábito de comprar produtos ilegais se alastra por todas as classes.
Mas o curioso é que 47% da classe A e 49% da classe B preferem as mercadorias à la “Law Kin Chong”. Justo aqueles que 1- têm dinheiro para pagar pelo produto legal, mas optam pelos de origem duvidosa e 2- geralmente, são os que sofrem na pele as dificuldades de se manter no mercado legal, pagando em dia a brutal carga tributária. Boa parte das classes A e B é dona de empresas (pequenas ou médias), ou de alguma forma estão a ela vinculados (prestam algum serviço ou têm algum parente envolvido, trabalhando nesse negócio) e, portanto, são os mais conscientes sobre essa situação.
Esse é o retrato da elite no Brasil: reclama da carga tributária, mas consome produtos roubados. Produtos, frequentamente, roubados deles próprios, e que muitas vezes são vendidos para engrossar os lucros do tráfico de drogas, em que o número de consumidores é, certamente, mais elevado nas classes mais altas, de maior poder de compra.
Mas certamente o caminho mais fácil seria culpar essa elite. No entanto, lembramos aqui também da (in)competência do Congresso Nacional e da omissão do Executivo sobre questões dessa natureza.
Cabe ao legislativo votar a reforma tributária, que não sai do papel (enquanto o comércio ilegal incha e as pequenas empresas continuam quebrando); o projeto de lei para legalizar as drogas simplesmente não existe e os traficantes, mesmo se condenados, não tem para onde ir (afinal, o crime de tráfico é um crime federal, mas simplesmente não existem presídios federais; a obra do primeiro, em Mato Grosso, foi suspensa).

O TREM DA HISTÓRIA
Além dos projetos parados acima, outra demanda da sociedade que não é desengavetada é o projeto de lei da então deputada federal Marta Suplicy, de 1995, que regulamente a união civil dos homossexuais. Só ontem em São Paulo, a Parada do Orgulho Gay reuniu cerca 1,5 milhão de pessoas (gays, bissexuais, heterossexuais etc.) que gostariam de ver um Parlamento que acompanhasse as causas de seu tempo.

QUEM É O ASSASSINO?
Anthony Garotinho foi eleito governador em 1998 como o homem que iria resolver os problemas de segurança do Rio. O discurso era duro; ele se especializou no assunto. Quem leu “Violência e Criminalidade no Estado do Rio de Janeiro” (editora Hama, 1998, 170 páginas) não tem dúvida de que os autores (entre eles Garotinho) eram muito bem informados sobre o tema, e que o problema seria solucionado.
Teve gente que acreditou, tanto que elegeram a mulher de Garotinho para o governo do Rio, e ela, claro, chamou o marido especialista para comandar a segurança do Estado.
É claro que toda boa análise é feita a posterori, tudo bem. Mas alguns resultados da atuação do ex-governador e atual secretário podem ser comentadas. Mas não vou comentar; melhor é lembrar:
1- Garotinho manteve presos de facções rivais em uma mesma unidade. Resultado na Casa de Custódia de Benfica: 31 mortos;
2- Caso 174. Por ordem do então governador, a polícia não agia enquanto esperava ordens de Garotinho. Resultado: uma professora morta pela polícia “especializada” com um tiro na cabeça e um seqüestrador asfixiado por policiais (eles foram absolvidos);
3- A novela dos bloqueadores de celular: Garotinho era favorável ao uso do celular nas prisões porque o criminoso, ao falar ao telefone, teria a conversa grampeada pela polícia, o que ajudaria nas investigações. Depois, concluiu que a idéia não era tão eficaz assim, quando informado de que esses traficantes punham fogo na cidade e controlavam o tráfico de dentro das celas pelo celular;
4- Caso Staheli: o secretário de segurança apresenta ao vivo e a cores o “assassino” do casal norte-americano na Barra da Tijuca. O acusado desmentiu o depoimento no dia seguinte. Certamente nenhum inimigo político de Garotinho conseguiria dar uma rasteira dessas nele com tamanha eficiência;
5- Sem contar os bandidos que nesse período fugiram pela porta de frente de perídios ou que vendiam/ vendem drogas e fumam maconha nas cadeias (imagens estas mostradas a exaustão pelas TVs no ano passado)
Conclusão: se eu fosse o Gilberto Braga, chamaria correndo o Garotinho para descobrir quem é o assassino de Lineu Vasconcelos.

EU JURO
O Copom não deve aumentar os juros nesta semana. Basta olhar o mercado futuro: a taxa Selic já está alcançando o mínimo aceitável. Leia-se: com um taxa ainda menor de juro (ou bem menor, como deseja o presidente Lula), os investidores evaporam. A avaliação é reiterada pelo ministro Palocci, que no último dia 7 disse que “os juros já cumpriram seu papel na retomada da atividade econômica”, ou seja: não precisam mais cair.

Do legislar

Caio Junqueira

Ou o Poder Legislativo muda ou o país não muda. Creditar aos quase-513 e aos quase-81 imbecis responsáveis pela elaboração e aprovação das normas jurídicas que conduzem a vida dos quase-200 milhões de imbecis que deram o cargo a eles não passa de ilusão, ingenuidade e, acima disso, burrice.
O abuso dos congressistas brasileiros é tão escrachado que a maneira medíocre como conduzem seu ofício expõem os cidadãos brasileiros ao ridículo. Isso mesmo. Somos todos palhaços desse grande circo chamado Congresso Nacional.
Por falta de espaço, fica impossível mencionar todos as faltas-de-vergonha já produzidas na Casa, afinal, são 113 anos de republiqueta capenga tupiniquim. Porém, basta ater-se à mais nova paródia que assistiremos nesta semana: a aprovação da PEC (proposta de emenda constitucional) dos vereadores.
Desenterrada há cerca de dois meses pela Câmara, depois de mais de 12 anos estacionada _e esquecida_, a proposta reapareceu depois que o STF (Supremo Tribunal Federal), mediante consulta do Ministério Público, fez a interpretação correta da Constituição e decidiu que a contagem que as câmaras municipais fizeram do número de vereadores estavam erradas. Com base nessa decisão, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) refez as contas e revelou que 8.500 cargos de vereadores estavam sendo preenchidos indevidamente.
Não bastasse o aspecto jurídico-constitucional que justifica redução, outros pontos reforçam a necessidade da medida: vereadores têm uma média salarial de R$ 7 mil, 35% dos municípios gastam com as Câmaras mais do que sua receita, 19% mais do que com habitação e urbanismo e _pasmem_ 8% mais do que com saúde e saneamento.
No entanto, preocupado com a perda de cargos e apoios eleitorais em anos de eleições, o Congresso ignorou o bom senso, a interpretação do Judiciário e o princípio constitucional de equilíbrio entre os três poderes e, mais uma vez, legislou em causa própria. Tudo com a anuência silenciosa do Executivo, que não quer entrar na briga por uma causa contrária ao fisiologismo que tem praticado.
Perdeu-se o já limitado tempo de trabalho dos deputados e senadores com um assunto que, em respeito à interpretação correta da Constituição e a situação de um país miserável, deveria ter finalizado na instância competente.
Não me iludo com os homens, tampouco com os políticos. Mas imagino que um país sério aproveitaria o ensejo do debate proporcionado pela decisão do TSE para, pelo menos, iniciar o debate de uma reforma política. Ainda que fosse limitado ao aspecto do Legislativo e do seu funcionamento.
Trazendo o debate de “baixo para cima”, é perfeitamente cabível a discussão, por exemplo, da atuação das Assembléias Legislativas. Essas Casas trabalham às escuras, sem qualquer acompanhamento da imprensa, do Ministério Público e, principalmente, dos eleitores. Ali, concentram-se deputados estaduais que representam _à exemplo do Congresso_ lobbies classistas ou representantes de municípios.
No caso do Estado de São Paulo, que tem 645 cidades e 104 deputados estaduais, a imensa maioria dos seus municípios fica ou mal representada ou sem qualquer representação. E, por favor, não me venham falar que há deputados que representam “a região” de seu berço político. Essa é uma das grandes balelas com que políticos e candidatos tentam enfiar goela abaixo da patuléia. Quem acompanha a vida política de qualquer município do interior sabe que esses fulanos só aparecem em cidades próximas da qual tem sua base eleitoral em ano de eleição. A equação, então, é essa: ou o município elege um deputado estadual ou aguarda a próxima eleição.
Sem dúvida, a votação da PEC dos vereadores nesta semana será mais uma aula de como ganhar dinheiro, fama e poder e colaborar com a manutenção do atraso político-institucional de um país.
Assuntos levantados seja pela imprensa, pela Justiça, ou por qualquer outro meio, em vez de serem encaminhados para um debate útil, racional, e produtivo, acabam por cair na lógica histórica brasileira do confundir o interesse privado com o interesse público e que acaba por justificar a falta de confiança de um povo por seus representantes.

FANTASMA ARGENTINO
Os argentinos, historicamente muito mais politizados que os brasileiros, estão dando um exemplo de como a história, apesar de não ser feita pelos vencidos, pode ser, pelo menos, recontada e corrigida por eles.
Os hermanos estão promovendo um movimento para retirar as estátuas em homenagem ao general Roca, responsável, no século 19, pela conquista da Patagônia e conseqüente assassinato dos milhares de nativos indígenas que lá habitavam.
No Brasil, o mesmo poderia ser feito com a de Duque de Caxias, outro grande assassino consagrado em monumentos pelo pais. Só para lembrar, tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro, há uma rua com o nome do general argentino. Coincidência ou não, em abril do ano passado, nessa rua no Rio, um grupo incendiou um ônibus. Em outubro, houve uma troca de tiros. Parece que o espírito de Roca se exilou no Brasil.

FANTASMA ESPANHOL
O presidente americano, George W. Bush, vive uma situação difícil. Como americano e presidente, não deseja que seu país sofra um novo ataque terrorista. Como candidato, também não, mas, se for para ocorrer, que seja após o dia 2 novembro, a data marcada para as eleições. Um ataque antes desse dia sepulta de vez sua já complicada situação.
Segundo uma pesquisa do jornal ‘Los Angeles Times‘, o candidato democrata, John Kerry, aparece com 51% das intenções de voto contra 44% de Bush Filho. O fantasma do ex-primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar ronda a Casa Branca.

A TOCHA
De Zico, ao carregar a pentelha tocha olímpica: “A partir de agora, não falta mais nada na minha vida”. Ué, e a Copa do Mundo?

AINDA A TOCHA
Peraí. Xuxa e Toni Ramos carregaram a pentelha tocha olímpica. Zilda Arns também. Clientes da Samsung, uma das patrocinadoras do evento, também. Isso é Rio.

11.6.04

Recorte Paulistano

Caio Junqueira

PT queria o PMDB que queria o PSB que queria o PDT que queria o PL que queria o PFL que queria o PSDB que queria o PTB que queria o PT.

RUIM DE CONTA

Ou os colegas de partido do senador Paulo Paim (PT-RS) brincam com ele ou ele era muito mal aluno de matemática lá pros rincão de Caxias do Sul, sua cidade natal. Às vésperas da votação, na Câmara, da medida provisória que reajustou o salário mínimo de R$ 240 para R$ 260, Paim havia calculado que 18, dos 21 deputados petistas, votariam contra a MP. Foram cinco.
No Senado, ele agora faz cálculos dos votos da Casa contrários à medida, e não mais exclusivamente dos integrantes do PT. Para ele, 53 dos 81 senadores votarão contra a MP. Fica menos feio errar quando os números não são só do partido que ele integra.

EM CAMPANHA

Merval Pereira está dedicadíssimo em seu papel de libertar a cidade do Rio do Estado do Rio. Podem até negar, uma vez que ele não admitiu expressamente essa opinião em sua coluna no "Globo". Mas é impressionante a vontade com que dá espaço ao debate de um tema que, antes de mais nada, revela o maldito vício brasileiro de resolver os problemas à base da caneta.

EM CAMPANHA 2

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), está em alta entre a mídia do eixo Rio-SP. Diante da greve dos policiais mineiros, Aécio não hesitou em pedir o auxílio das Forças Armadas na noite da última sexta-feira. Os colunistas dos jornalões saudaram sua atitude como sensata, correta e racional. E a comparam com os Garotin, que no início do ano criaram um imbróglio com o governo federal em relação ao mesmo tema. De fato, Aécio agiu corretamente. Mas dá para ver que a campanha dos jornais para elegê-lo em 2006 já começou.

CIRCO OFICIAL

O palácio Xuxu foi ao Congresso em protesto à votação da PEC dos vereadores. Sentiu-se em casa.

MAIS DO MESMO

Depois do retorno do menino Iruã, o assunto que mais me tem irritado é a passagem da tocha olímpica do Brasil. Fala-se muito de um assunto chato. Qual é a relevância da tocha? O Brasil é péssimo em esportes olímpicos, sempre dá vexame, não tem tradição nem investimento.


10.6.04

Lula, o domador de leões

Virgilio Abranches

É o que dá ficar sentado em cima de um governo que virou refém para tudo quanto é lado. Vários têm sido os algozes de Lula neste ano, principalmente depois que estourou o caso Waldomiro Diniz, em fevereiro. O escândalo jogou o presidente aos leões. E para escapar de um, Lula precisa correr a outro. E assim sucessivamente. Vai chegar a hora em que se virá cercado por uma matilha faminta por devorá-lo.
O preço de se render ao PMDB está aí. O partido está rachado, é infiel e poucas vezes garante maioria segura ao governo no Congresso. A votação da medida provisória do salário mínimo de R$ 260 no Senado está aí para mostrar. Não há quem se arrisque a dar certeza da vitória governista.
O governo fica refém por qualquer motivo. Um melindre de Sarney já detona uma crise de confiança na base. O presidente do Senado queria ficar com a boquinha por mais dois anos. Como o governo não o apoiou, e a emenda que permitia sua perpetuação no cargo caiu, ficou irritado. Para ajudar, agora, dá trabalho.
O PMDB, em geral, ataca com vários leões de uma vez. Para vencer Sarney, Lula recorreu a Renan Calheiros, senador alagoano que foi ministro de Collor e FHC. Agora terá que apoiar Renan para a presidência do Senado. Ou então recorrer a outro leão.
Orestes Quércia, talvez. Que hoje já ataca o governo federal mexendo seus pauzinhos no seu feudo paulista. Quércia se recusou a apoiar Marta Suplicy em São Paulo porque não conseguiu colocar nenhum de seus apadrinhados no ministério de Lula. Pague-se o preço.
Há outros leões: Valdemar Costa Neto, Roberto Freire, enfim, todos membros de uma base aliada que apresenta dois problemas básicos: 1) uma parte (PPS, PSB, PC do B) foi eleita acreditando no antigo PT - que hoje não existe mais - e agora se decepciona e reage; 2) outra parte foi costurada na base do puro fisiologismo e não se vê fazendo parte do todo do governo, mesmo porque esse governo não tem todo, e sim uma série de fragmentos muito mal colados. É um mosaico vagabundo, do qual os pedacinhos vão, pouco a pouco, se despregando.
A parte que deveria ser mais coesa no governo Lula seria a sustentação petista. Depois que os quatro radicais foram esconjurados, a união sólida da trupe parecia certa. Deu errado. De novo, por vários motivos: 1) o PT ainda tem a sua esquerda. Light, tudo bem, que até aceita taxar inativos. Mas que não topa um salário mínimo de R$ 260 com facilidade. É uma esquerdinha bem ordinária, é verdade, porque no fim das contas acabou ficando com o governo. Mas, talvez por ser ordinária, dê um certo trabalho; 2) o poder aguçou vaidades. E Lula agora é refém de José Dirceu. O ministro da Casa Civil passou a ser mais um dos leões aos quais Lula tem que domar. Dirceu está insatisfeito com seu espaço no governo. Crê que perdeu terreno para Palocci, outro petista. E declarou guerra. Ou seja, agora Lula escolhe: ou fica com Palocci e ganha Dirceu como inimigo _o que não seria um bom negócio, dado ao estilo, digamos assim, agressivo do ministro_, ou cede a Dirceu, dando-lhe poderes que o farão pensar que manda definitivamente no governo; 3) ficando com a segunda hipótese _que considero a mais provável_ Lula ganha mais um leão: o PC do B, de Aldo Rebelo, ministro do qual o presidente terá que tirar poder para agradar o chefe da Casa Civil. E tome crise na base. Alguém ainda acredita que o governo Lula vai deslanchar?

VILLAGE PEOPLE
Antonio Carlos Magalhães não precisava dizer na tribuna do Senado que macho. Todo mundo já sabia. Não dá para pensar outra coisa de quem tem coragem de, depois de aprontar tudo o que aprontou, ainda fazer exposição de sua figura com tanta firmeza. Esse é macho!

PENSANDO BEM
Até dá para pensar que ACM é apenas mais um simples cara-de-pau. Mas seria muita maldade.

LINHA EDITORIAL A LA CONTIGO
Faltou pouco para que o Globo desse a seguinte manchete na quarta-feira: “Namorada de Rodrigo Santoro, modelo é acusada de ser laranja”. Sim, porque a matéria mostrando quem é a modelo Ellen Jabour teve quase o mesmo tamanho que o texto noticiando que ela é suspeita de ser laranja do pai, Jaisler Jabour, um dos vampiros da Saúde.

QUEM VÊ CARA...
Por falar em Vampiro, basta olhar a cara do ex-coordenador de Recursos Logísticos do Ministério da Saúde, Reginaldo Muniz Costa (antecessor de Luiz Cláudio Gomes da Silva), para saber que dali sairia, no mínimo, uma Operação Lobisomem. A foto está na página 48 da revista Veja, que saiu no começo desta semana.

PEDIDO
Mas, por favor, não comprem a revista. Não vale a pena. Dêem uma olhadinha no dentista ou no médico.

AINDA NELA
Ainda sobre a Veja: acabou de ser lançada a campanha Palocci 2010. Descaradamente.

BASTIDOR
É bom trabalhar na redação do maior jornal do país. Só assim é possível ver um vice-governador ligando ao repórter para passar informações quentinhas. Pelo menos foi dessa forma que alguns jornalistas ficaram sabendo que o PFL vai apoiar a candidatura Serra em SP.

O "TRÊS PALAVRAS" ADIANTOU
Já disse Marcio Pinheiro em seu artigo desta quinta-feira (logo aí abaixo): o Brasil precisa renegociar sua dívida. O mesmo pensa o cientista político e brasilianista Jeffrey W. Cason. Ele deu sua opinião no 7º Congresso da Associação de Estudos Brasileiros (Brasa, na sigla em inglês), que ocorre no Rio de Janeiro. Para o americano, o governo precisa gastar dinheiro em investimentos, pois só assim o país vai crescer.

E a economia, como vai? Pergunta pro Sarney

Marcio Pinheiro

Que a economia vai mal há anos todo mundo sabe. Solução pra isso ninguém deu ou não teve coragem para fazer. Então, qual então a margem de mudança econômica que um governo - qualquer que seja, do PP, do FH ou do Lula- pode ter? Como mudar a economia e, ao mesmo tempo, manter os contratos, conquistar respaldo internacional?
Bem, essas duas linhas parecem ser incompatíveis. No entanto, algumas rupturas, não totais, deveriam ser praticadas.
Exemplo: otimizar o contrato com o FMI, que engessa a economia. É pra lá de notório que o acordo com o FMI precisa ter suas regras de contabilidade revistas. E não sou eu que diz isso, mas o presidente do Senado, José Sarney. É claro que ele fala com a autoridade de presidente do Congresso, mas, sobretudo, com a experiência de ex-presidente da República que, mesmo tendo feito um governo muito duvidoso, tem capacidade de análise o bastante para chegar a essa conclusão.
A primeira vez que recorremos (às pressas) ao FMI no governo FHC foi em 1998 (às vésperas das eleições presidenciais) por causa da crise da Rússia. E os acordos continuam se renovando (mesmo sem crises internacionais de grandes proporções)sucessivamente até hoje, sem mudanças. Entre as cláusulas (absurdas) que se repetem está a que obriga o governo a economizar muito com os gastos públicos para pagamento de bilhões de juros da dívida, entre outros. Só em 2003, Lula gastou R$ 412,9 bilhões (ou 54,61% de todos os gastos do país) para amortizar essa dívida.
Por outro lado, ser “amiguinho” do fundo traz, segundo os governos, calma ao mercado financeiro, credibilidade para os credores e grana para o país (que não é gasta nas áreas que mais precisamos, mas isso é assunto pra outra ocasião). O que é mentira: o país continua vulnerável, só atrai capital externo de curto prazo e por causa dos altos juros e o risco-país permanece alto. Essa cridibilidade alegada simplesmente não existe.
Portanto, com uma dívida cavalar (tão cavalar que só pagamos parte dos juros dela) o jeito é sentar numa mesa e conversar com os credores. O governo do PT, no entanto, seria o último a ter alguma credibilidade para refazer essa negociação, tanto que nunca se propuseram a fazer isso. Portanto, são mais quatro anos jogados no lixo, mais quatro anos de dinheiro economizado pra pagar esses juros. Perdemos uma oportunidade histórica porque nosso superávit nunca foi tão alto (o que seria um argumento muito bom para flexibilizar as regras do Fundo).
E justiça seja feita: o único candidato que defendeu abertamente e seriamente a renegociação foi o hoje ministro Ciro Gomes; e a imprensa inteira dava “piti” quando o então candidato falava a respeito em 2002. É uma pena que o assunto seja tratado de modo leviano até hoje.
Além de Ciro, outra figura republicana a reclamar da dívida foi (de novo) José Sarney, em entrevista à “Folha de S.Paulo” em dezembro passado. Mas o mercado logo reclamou e o dólar explodiu no dia seguinte.
Enquanto ninguém reclamar pra valer dessa relação dominado-dominador, esquece: vamos continuar empurrando a economia com a barriga, como está fazendo direitinho o governo do PT. Mudança? Que venha 2006.


O PREÇO DA MENTIRA
Em Recife ninguém acredita que a candidatura de Raul Jungmann (PPS) à Prefeitura seja pra valer. Pudera. Em 2002, o então ministro da Reforma Agrária lançou candidatura pelo PMDB à presidência. A fatura da mentira chega agora.

O PREÇO DA AMIZADE
Tudo bem que nada foi provado diretamente sobre Dirceu (caso Waldomiro)e Humberto Costa (saúde). Mas fosse em outro governo ou em qualquer empresa séria, eles já teriam ido embora faz tempo. Bom, a Bené demorou mas foi embora.

O PREÇO DO APOIO
Programa “partidário” do PRTB na semana passada (sim, o PRTB de Levy Fidelix e seu trem supersônico) apoiou o programa de transportes implementado pela prefeita Marta Suplicy...

O PREÇO DA IGNORÂNCIA
Na semana seguinte ao escândalo da corrupção envolvendo os hemoderivados, convulsão nos grandes hospitais de São Paulo: baixou para 40% o número de doadores de sangue.

O PREÇO DO IDEALISMO
O PSol (Partido do Socialismo e da Liberdade), de Heloisa Helena, já nasce com os dias contados. É que se nada for alterado, em 2006 entra em vigor a cláusula de barreira, conforme a Lei nº 9.096 (de 19 de setembro de 95). Ela estabelece que só os partidos que obtiverem, nacionalmente, pelo menos 5% dos votos válidos nas eleições para a Câmara dos Deputados terão direito ao funcionamento parlamentar (leia-se: tempo de TV, dinheiro do fundo partidário, cargos em assessorias no Congresso, entre outros).


PESQUISA DA SEMANA: por que o Senado é tão conservador?
( ) Porque está cheio de caciques ex-governadores
( ) Porque PMDB e PFL são as maiores bancadas (parece que voltamos no tempo com MDB e Arena)
( ) Porque o Sarney Comanda a Casa
( ) Porque cada Estado da federação tem direito ao mesmo número de cadeiras, o que só faz aumentar o número de coronéis do Norte e Nordeste
( ) Porque a faixa etária lá é muito alta
( ) Todas acima estão corretíssimas

8.6.04

Coerência e outras notas

Virgilio Abranches

O deputado federal mineiro Lael Varella, apesar de ser do PFL, merece um destaque positivo. Votou a favor da medida provisória do governo para o salário mínimo. O mérito não está no conteúdo da MP, mas sim na atitude coerente do parlamentar: ‘Eu sou deputado de cinco mandatos no PFL, e o partido sempre defendeu salário mínimo baixo porque não tinha de onde tirar. Não vou fazer demagogia agora com o dinheiro do povo‘. Assim como o PT, o PFL tem lá seus radicais.

OBRA OFICIAL
Lula deve andar escrevendo horóscopos. Pelo menos as recomendações para os capricornianos no site Terra é a cara dos discursos do presidente: “Dia de fincar pilastras, fazer fundamentos. Nada de feitos grandiosos, mas bases sólidas, bem à moda capricorniana. Fique tranqüilo, planejando, limpando o terreno e tirando o entulho de construções antigas que não servem mais para nada e as ervas daninhas que roubam a força da terra. Em breve você estará colhendo novos frutos”. Versão mais provável: qualquer um, até quem escreve horóscopos, conseguiria escrever os discursos petistas. Te cuida, Gushiken!

AU REVOIR
Só um administrador público bastante enjoado como Marta Suplicy seria capaz de dar uma entrevista em francês, sem tradutor, a jornalistas brasileiros. Talvez o senador Suplicy tenha levado a pouca humildade da prefeita _ao lado da medida do bonfim e do disco do Pixinguinha_ em sua mala da separação. Na hora H, vai fazer falta.

O SENHOR É MEU PASTOR
De Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, ao responder às acusações de que o governo não anda: “Aqueles que dizem que há imobilismo na área social não estão seguindo o preceito bíblico do respeito à verdade”. Ou seja, ateus, mintam!

NO DOS OUTROS É REFRESCO
O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) resolveu sair atacando o número de medidas provisórias pelo presidente da República (não citou Lula nominalmente). E vejam a pérola: “Tanto se criticaram os governos militares, responsabilizando-os pela edição de um número sem conta de decretos-leis! Jamais os justifiquei nem justifico, mas entendia que um governo de exceção visse nos decretos-leis um instrumento mais eficaz que as leis para as condições excepcionais da época”. Condição excepcional é um fraudador de painéis eletrônicos e grampeador de telefones alheios ainda ocupar vaga de parlamentar.

MISS SÃO PAULO

Para José Serra ganhar uma votação, nem que seja para miss, só falta agora ficar bonito. Porque simpático já ficou. De repente. Foi só sair candidato a prefeito de São Paulo. Andou até abraçando jornalistas. Incrível, não?

7.6.04

Novo Velho PT

Caio Junqueira

O mais novo partido político brasileiro foi lançado ontem, em Brasília. Encabeçado pela senadora Heloísa Helena (AL) e pelos deputados João Fontes (SE), Babá (PA) e Lusitana Genro (RS) _expulsos do PT no ano passado por votarem contra as reformas constitucionais, o abrigo dos excluídos tem o cafonérrimo nome de PSOL (Partido do Socialismo e da Liberdade) e, claro, abarca com o nome esquisito o sugestivo símbolo que o nome oferece: um sol.
A escolha do nome seguiu a história da esquerda brasileira: desorganizada, muito sonora e pouco executiva. Até a semana passada, ele ainda não havia sido escolhido, depois de meses de conversas. O escrutínio final foi entre PS (Partido Socialista e PSOL). Porém, como, infelizmente, os nomes dos partidos não correspondem a suas condutas, a nomenclatura é irrelevante.
O partido nasce ideologicamente forte. Agrega antigas bandeiras petistas, como a ruptura ao FMI, o calote da dívida externa e ampla reforma agrária. Um ponto a favor é a união dos ex-integrantes petistas que, revoltados com a guinada à direita do partido, votaram, no primeiro ano do sonho presidencial dos Trabalhadores, em favor desses e contra o partido que leva o seu nome. Brasileiro gosta de gente batalhadora, que sofre, grita e luta contra o alto comando, esteja ele em qualquer lugar, seja ele de qualquer natureza. Mostra determinação e postura.
Sendo uma das poucas vozes da esquerda tradicional, a tendência é que o partido engrene como o pólo dissonante em um momento em que o cenário político brasileiro carece de opções. Não é de hoje que sobrevaloriza-se o Capital sobre o Humano, o possuir sobre o sentir. Esse foi o tom da história brasileira e mundial, salvo uma ou outra exceção, hoje já em processos de desmantelamento. A falta de reflexão sobre caminhos alternativos para o país gera a ilusão de que o rumo escolhido nos anos é o sistema ideal. Isso é agravado em um país como o Brasil, onde os modelos até hoje adotados foram importados e deram certo sim, só que para poucos, que hoje temem qualquer ruído de possibilidade de virada na estrada.
O PSOL surge no cenário político brasileiro como a voz dissonante. Tentará passar que combater o que foi imposto é possível. Algo que o PT, em 1980, fez e defendeu em toda a sua trajetória pré-2003. O começo será difícil. O próprio PT demorou anos para se consolidar. Há pouco mais de dez anos, sua bancada na Câmara era de pouco mais de dez deputados. Hoje são 91. Eleitos com o mesmo programa adotado pelo PSOL. Caberá às lideranças do novo partido cuidarem politicamente dele, de modo que não caia na mesmice da esquerda brasileira e se satisfaça apenas com o combate cego, sem planejamento e estratégia.
Nesta semana começa a primeira batalha do partido. Uma peregrinação jurídica rumo à campanha presidencial de 2006, que tentará levar Heloisa Helena à disputa pelo Planalto. Até setembro de 2005, serão necessários pelo menos 438 mil assinaturas. A minha, tenham certeza, estará lá. Com a esperança de que o PSOL de hoje não seja o PT de amanhã.

COINCIDÊNCIA OU EVIDÊNCIA?

O PL já cogita lançar o presidente da CPI da Pirataria, deputado Luiz Antonio de Medeiros (SP), candidato à Prefeitura de São Paulo. É muita, muita coincidência. O trabalho da CPI foi prorrogado por quatro vezes. A última vez, em dezembro do ano passado.
Tudo bem que a Operação Anaconda acabou por respingar na apuração dos deputados da comissão, mas, ainda assim, é difícil não vincular os acontecimentos finais da CPI _a leitura do relatório e a Operação Gatinho (em que Medeiros sofreu tenativa de suborno pelo "rei da pirataria", o sino-brasileiro Law Chong) com o mês de junho, quando, pela legislação eleitoral, é o mês em que são definidos os nomes dos candidatos às eleições.
Mas sejamos imparciais e neutros, como reza o bom jornalismo. Foi coincidência mesmo, além de um pouco de sorte de Medeiros. E ponto final.

LÁGRIMAS NO ORIENTE MÉDIO
Saddam deve estar triste. Um dos seus maiores colaboradores, o ex-presidente americano Ronald Reagan, morreu no último sábado. Reagan ajudou Saddam a montar um poderoso exército para liquidar o Irã. Ambos os países travaram um conflito violentíssimo entre 1980 e 1988. Os EUA queriam desestabilizar o aiatolá Ruhollah Khomeini, que depôs, durante a Revolução Islâmica do Irã em 1979, o governo iraniano apoiado pelos ianques.

Reagan também foi um bom presidente para terroristas. Em troca da libertação de reféns americanos ele vendeu, secretamente, armas ao Irã (que estava sob embargo comercial dos EUA), que foram repassadas aos “contras”, nicaragüenses anti-sandinistas.

FARINHA DO MESMO SACO
Marta Suplicy rendeu-se à tentação das alianças políticas com gente “diferente” do PT. Seu (ex) secretário de governo Ruy Falcão, que até a semana passada formaria a chapa puro-sangue petista nas eleições paulistanas, pode passar a coordenar a campanha da loira, o que deixa a vaga de vice aberta a galanteios de outrem, principalmente do PMDB. A convenção oficial do PT está agendada para o dia 26. Com o partido de Quércia, Marta passa a ter mais 5 min e 27 s de propaganda na TV. A tática da prefeita é oferecer cargos na administração municipal ao PMDB.

PALÁCIO DE ACARI
A Folha de domingo fez uma boa reportagem com o pastor Marcos Pereira da Silva, presidente da Assembléia de Deus dos Últimos Dias. Influente na alta bandidagem carioca (não, não falo aqui dos políticos), ele interveio na rebelião na casa de custódia e esfregou na cara dos Garotin que a sede do Estado paralelo no Rio é o palácio da Guanabara.

WE THE BEST
Os jornais "Estado de Minas" e "Correio Braziliense" furaram no domingo, 18 de abril, todos os jornalões do país, ao trazerem informações sobre a Operação Vampiro. Todo mundo ignorou. É a arrogância do eixo Rio-SP a desserviço da nação.

SERÁ?
Aliás, apesar da entrevista bacana, a foto da reportagem revela o preconceito que a mídia tem contra pastores de religiões dipóbri. Em vez de mostrar uma fotografia do rosto do pastor, ou, sentado, ou de uma maneira serena, a fotografia utilizada foi do religioso em pé, no altar, com uma cara “endemoniada” fazendo gestos com as mãos, muito diferente do que o jornal faz na “entrevista da segunda”, por exemplo. Será que se a reportagem fosse com um judeu exaltado a foto seria da mesma forma?

FAMÍLIA VERMELHA
Jilmar Tatto, o novo secretário de governo de Marta, assumiu sua quarta pasta neste governo. Já passou pelas secretarias do Abastecimento, Subprefeituras e Transportes. Ele é irmão do presidente da Câmara Municipal, Arselino Tatto (PT).
Além dos dois, os Tatto ocupam outros cargos importantes no PT. Dos dez irmãos, nove são filiados à sigla. Um deles, Ênio, é deputado estadual. Leonide é tesoureiro do PT no município. Deviam mudar o sobrenome para PTatto.

31.5.04

Rio do Rio

Caio Junqueira

Parece piada, mas é verdade. Está em estudo no Rio um projeto de separar o Estado da capital. Parece que o Rio ficou muito mal acostumado sem o leite do Estado e anos depois busca uma solução paliativa para enfrentar a sua economia pífia e seu orgulho grande.
A socióloga Aspásia Camargo, o secretário municipal Alfredo Sirkis e o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) são algumas das “cabeças do movimento”.
De acordo com a socióloga, o Rio sofreu dois “estupros institucionais”: deixar de ser a capital do país, em 1960, e ter sido obrigado a unir-se ao Estado, em 1975.
“A mudança da capital dos Estados Unidos, da Filadélfia para Washington, levou décadas, quase cem anos. A mudança de Bonn para Berlim levou dez anos, foi muito negociada, Bonn fez um pacto para redefinir suas novas funções, que incluiu dinheiro. O Rio, ao contrário, perdeu a capital e nada foi negociado. No espaço de um ano tudo acabou.”
Em outras palavras, ela diz que se Bonn ou Filadélfia tivessem virado capitais de seus países rapidamente teriam “sofrido” com a transição, assim como o Rio “sofre”, desde os anos 60 e 70 devido a perda do status quo de capital brasileira.
Esquece a socióloga que a mesma Berlim foi arrasada durante a Segunda Guerra Mundial e em alguns anos o seu lado ocidental _mesmo sem ser capital do Alemanha, já era muito mais desenvolvida que o seu lado oriental, que era capital de Estado.
Ocorre que deve ser muito difícil acostumar-se com mais de 100 anos de realeza e paparicos oficiais e de repente ver-se sem as amamentações que a fizeram grande.
É preciso enxergar que o que fez Bonn ou Filadélfia continuarem sendo boas cidades não foi o longo processo de transição, mas a cultura americana e alemã, focadas no trabalho, na disciplina e na visão de planejamento, virtudes que não fazem parte da maioria dos cariocas, paulistas e brasileiros.
Contudo, se por um lado o projeto é condenado pelas próprias razões que o motivam, por outro lado ele pode servir de uma colírio oficial aos cariocas, que poderão por meio dele refletirem sobre os reais caminhos que conduzem uma cidade ou um Estado ao desenvolvimento.

GRANDES FORAS DA VIDA DE UM FOCA
Roda de jornalistas cercam a dondoca-prefeita-mulher-de-gringo-bonitão Marta Suplicy, no dia seguinte em que o piloto americano fez um fuck you para as máquia fotográfica da Polícia Federal, no aeroporto de Cumbica.
Entre perguntas diversas, "das que a prefeita gosta de responder", vira o repórter Pantaleão Pantoja:
-Prefeita, o que a senhora achou da atitude do piloto americano que fez o gesto ontem?
-Não sou obrigada a responder isso, diz a loira sangue-azul, na frente de todos os jornalistas, deixando Pantaleão magoado.
Pantaleão concorda que não foi uma pergunta sobre um grande assunto. Mas também concorda que a prefeita não pode se esquivar de responder alguma coisa que tenha sido manchete de todos os jornais do dia.
Pantaleão jura que deu vontade de repetir o gesto do piloto americano para a prefeita Marta.

"DEUS ME DERA TIVESSE EU NASCIDO MUDA"
Aconteceu durante coletiva com o ex-presidente FHC durante inauguração do Instituto FHC, em São Paulo.
Na mesa, alguns ilustres, como os ex-primeiros-ministros da França, Lionel Jospin, e o filósofo espanhol Manuel Castells.
Uma jornalista de um canal de TV faz a pergunta:
- "O senhor não acha contraditório criar um instituto de pesquisa com esse orçamento mensal (R$ 150 mil mensais) em um país com tanta miséria como o Brasil?"
-"Contraditório é ter esse pensamento que você está tendo. Um país com tanta miséria precisa mesmo é de centros de estudos e pesquisas, como o iFHC", diz o FHC, o homem que ficou oito, mas que se pudesse ficaria dezoito.

LEMBRETE
São Paulo nunca foi capital do país. Há pouco mais de 120 anos era uma vila pobre, suja, periférica e abandonada pelo governo.

LIECHTENSTEIN TROPICAL
Se o sucesso do Rio depende da sua condição de capital brasileira, que a cidade se transforme em um reinado, independente do restante do Estado e do país. Benedita da Silva seria a cara da monarquia carioca.

O projeto de não ter projeto

Caio Junqueira

O presidente nacional do PSDB e candidato às eleições municipais paulistanas José Serra têm sido um bom exemplo do nefasto hábito dos políticos de utilizarem eleições para fazer aumentarem o volume de suas vozes.
Serra foi derrotado nas eleições presidenciais em 2002. Nada mais justo. A estagnação do nos dois últimos anos do governo FHC selaram a derrota do tucano, candidato do ex-presidente e visto pela população como partícipe no crime de colocar o país no sinal vermelho em que se encontra.
Após titubear, ficar em dúvida, despistar jornalistas e correligionários, resolveu, em um rompante, ser candidato. Ainda que seja passível de perdão a dúvida recorrente que o ex-ministro da Saúde teve até a sua decisão (afinal, ser prefeito da terceira maior cidade do mundo não é algo que se decida de uma hora para outra), o que mais impressiona nessa candidatura às pressas é a falta de projetos do tucano para a cidade.
Se ele demorou tanto tempo para tomar a decisão de enfrentar a prefeita Marta Suplicy no segundo turno deste ano, quanto tempo mais irá levar para apresentar o que de fato quer fazer com uma cidade que de problemas _e de promessas_ está cansada?
Por onde vai e dá entrevistas, ele se limita a dizer que São Paulo não tem prioridade, que ele quer ser prefeito porque é da Moóca, que os CEUs não são o caminho, blá, blá, blá. Ou seja, ele fixa-se nas críticas gerais à Marta, algo que qualquer vovô paulistano contrário ao petismo faz.
O único “projeto” apresentado até agora foi o mirabolante “entubamento” do Minhocão, algo que ficaria interessante se a avenida Duque de Caxias (por cima da qual passa a obra malufista) fizesse parte do Hopi Hari ou do Beto Carreiro World.
Da maneira como age, Serra faz da capital paulista um grande palanque não para as mudanças que a cidade precisa, mas para o seu partido, que governou o país por oito anos e sonha em voltar ao topo do Executivo nacional, se possível com ele no comando, a partir de 2007.
Do alto de sua capacidade gestora, o tucano precisa saber separar o cargo partidário que exerce do cargo eletivo que almeja, porque essa divisão, muito embora ele possa pensar o contrário, o eleitor paulistano, que convive com a violência, o trânsito, as enchentes e acompanhará as inaugurações que a gestão Marta Suplicy têm programadas até o final do ano, saberá separar o que é um projeto que poderá melhorar a sua vida do que é um projeto que poderá melhorar a vida do candidato Serra.

A hipocrisia tucano-malufista

Virgilio Abranches

Convenhamos que o quase fracasso petista no governo federal não pode ser generalizado. Dizer que é petista numa roda de amigos ficou parecendo crime. A rejeição à candidatura de Marta Suplicy mostrada pela última pesquisa Datafolha deve-se, em parte, ao desgaste do governo Lula. A outra parte fica por conta da própria Marta, com sua arrogância insuportável e suas taxas intermináveis. Mas sejamos serenos. Apesar dos defeitos, a prefeita fez um verdadeiro governo da reconstrução em São Paulo, que estava arrasada pela irresponsabilidade corrupta e ordinária da dupla Maluf/Pitta. Há muito o que discutir. Talvez o modelo educacional dos CEUs (Centros Educacionais Unificados) não seja o ideal. Talvez o túnel da Faria Lima não fosse tão necessário agora. Enfim, talvez talvez. Sobre as taxas especificamente: a hipocrisia tucano-malufista vai além da nossa capacidade de compreensão. O alvo predileto são as taxas. Pois bem. Ambos, Serra e Maluf, quando questionados se acabariam com a cobrança, tergiversaram e afirmaram que vão “estudar” o caso. Eles sabem _principalmente Maluf, que é especialista no assunto_ que a situação financeira do município é caótica e que as taxas são essenciais. Se Marta merece continuar no posto é uma outra história. Se ela é a melhor candidata, também é outro caso. Agora, não dá para dizer que todas as administrações petistas são um fracasso só porque o presidente da República enfia os pés pelas mãos. E não dá para aceitar impunemente os discursos oportunistas de um ex-prefeito que sabemos do que é capaz e de um homem que, mais uma vez, viu sua candidatura cair do céu sem sequer ter um plano de governo para a cidade. Comprovo o que digo: sobre Maluf, basta citar as contas no exterior. Sobre Serra: ele propôs construir paredes no Elevado Costa e Silva, o “Minhocão”. Francamente.

SABIDONA
Ainda bem que Vera Fischer é só atriz e que Lula não ouve a ela como ao Duda Mendonça. Veja o que a bela disse à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, sobre a situação do país: ‘Ou alguém vem e vira um ditador, ou vai continuar assim. Homeopaticamente não funciona. O Brasil é um país de índio, de bugre”. Agora dá pra entender o Felipe Camargo. Arre.

HOJE, SÓ AMANHÃ
O presidente Lula aguarda passar as eleições municipais deste ano para fazer uma nova reforma ministerial. Talvez esteja esperando para ver quais petistas serão os perdedores para presenteá-los com cargos no governo. Foi assim em 2002, né?

A FONTE
O deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB) qualquer dia ganha o Prêmio Esso. É dele que parte a maioria das informações que abastecem jornalistas que resolvem divulgar “segredos” sobre o novo Airbus do Lula. Deve estar doido pra dar uma voltinha.

MALDADE
Dizem por aí que Lars Grael deve ser o candidato a vice na chapa de José Serra, em São Paulo. Dizem também que vai ser um governo sem pé nem cabelo. O dó.

29.5.04

Sonâmbulo

Virgilio Abranches

Alguém precisa beliscar o presidente. Solução arcaica, método absolutamente rudimentar, mas necessário em alguns momentos em que o banho de água fria não resolve. Lula já tomou vários. Do PIB negativo em 2003 ao assessor trambiqueiro com o qual dividia o teto. Não adiantou. O presidente continua vendo coisas onde elas não existem ou não vendo coisas onde elas são elementares. Lula está dormindo. Não sei se o sono dos justos, mas parece confortável. Não existe outra explicação para os discursos esquizofrênicos que o presidente brasileiro desanda a fazer pelos recantos do mundo. “Todo o nosso sacrifício não impediu que se mantivessem inalteradas ou, pior, se agravassem as estatísticas da fome, da pobreza, do desemprego, da desesperança.” Ótimo. O trecho acima foi dito por Lula na 3ª Cúpula América Latina-Caribe-União Européia, em Guadalajara, no México. Seria uma autocrítica? Se sim, desimportante, porque só falar não adianta. Mudar “todo o nosso sacrifício” que é bom, nada. Se não, é uma crítica a quem? Aos governo anteriores, que adotaram um modelo ortodoxo menos ortodoxo do que o atual? Esquizofrenia. Hipóteses: ou o presidente não descobriu o que faz um presidente quando quer mudar, ou descobriu o que faz mas não sabe como, ou vai botar os pés em solo brasileiro e promover uma revolução coerente com o que diz (o que é improvável) ou só fez mais um discurso bonito pra turma ver. A pergunta: Lula acredita no discurso bonito que faz, mesmo sabendo que na realidade ele não é tão bonito assim? A resposta: provavelmente sim. É por isso que precisa de um beliscão daqueles.

VIROU TABU
A primeira-dama se constrangeu. Recusou um convite da organização da Cúpula de Guadalajara para uma viagem, com outras primeiras-damas, a Tequila, no México. A cidade é turística e terra da bebida símbolo do país. Talvez Marisa ande lendo muito o “New York Times”.

SINGER DO DIRCEU
Será que vai chegar o dia em que Merval Pereira vai assinar sua coluna do Globo como porta-voz oficial da Casa Civil?

OS LADOS DA MOEDA
Toda notícia ruim tem seu lado bom, e toda notícia boa tem seu lado ruim. Com o crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2004, Henrique Meireles fica fortalecido na presidência do Banco Central.

HERCULE POIROT
A tendência para a corrupção do ex-assessor do ministro Humberto Costa era mesmo imperceptível. O ministro tem razão ao dizer que foi enganado. Tão imperceptível, que mal chegou ao ministério, em agosto de 2003, e já foi rapidamente introduzido no esquema que fraudava as compras de hemoderivados da pasta. Ou Costa é muito lerdo, ou os membros da quadrilha alojados em seus gabinetes são muito espertos. Ou as duas coisas. Ou nenhuma coisa nem outra. Só mesmo o famoso detetive de Agatha Christie.

28.5.04

A moda que veio pra ficar

Marcio Pinheiro

Um juiz eleitoral de Barra Mansa (RJ) emitiu nesta semana portaria na qual determina a proibição de galhardetes - aquelas faixas horrendas com nome, números e (com a maior falta de modéstia do mundo) a foto das beldades que se candidatam- em lugares públicos. Você deve estar se perguntando: “o que eu tenho a ver com isso?”. Resposta: “A sua cidade vai ficar mais limpinha nas eleições”. Errado! Gente, já pensou se a moda pega em todo o país? Vai ser mais uma lei de fachada pra nossa coleção! Como umas e outras a que estamos assistindo.
Embora tenha gente que se preocupe com a lisura do processo eleitoral, só para termos uma idéia de como a coisa já está sendo desrespeitada, basta ligar a TV bem na hora em que você a desliga: na hora do programa “partidário”. Curioso é que nesses programas “partidários” só aparecem imagens e discursos de pré-candidatos.
A moda é antiga, mas vem se institucionalizando. Quem não lembra do “talk show” de Roseana Sarney (que era tratada só como “Roseana”, sem sobrenome, em programa também “partidário” de dezembro de 2001, quando ela chegou a alcançar posições inacreditáveis em pesquisas de opinião para a Presidência)? Ou mesmo o programa partidário do então candidato Lula, em que ele aparecia falando da infância sofrida, chorando. Coitado. Da gente!

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Outras aberrações que já começam a aparecer na TV é o uso de imagem de um membro de um partido pelo outro. O exemplo da semana foi a aparição do pré-candidato à Prefeitura de Recife do PMDB no programa do PFL! Nem pra disfarçar?! Outra aberração: 130 pré-candidatos (alguns já em campanha, aparecendo na TV) no sul da Bahia já foram considerados corruptos pelo Tribunal de Contas do Município. E ainda são mais de 5.500 municípios por aí! Medo.

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O presidente do PL, o excelentíssimo Sr. Deputado Valdemar Costa Neto já xingou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, de “Sabotador”, já pediu a cabeça do ministro Palocci...
O também liberal José Alencar, o Aureliano Chaves do Lula, não “larga mão” de reclamar dos juros nunca. E o que faz o programa partidário do PL na noite desta quinta-feira (27/5)? Exibe imagens lindas do presidente Lula no dia da posse...É a TV a serviço da conciliação.


É IGUAL, ELE FALOU
No programa “Roda Viva” da TV Cultura, há duas semanas, o pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, José Serra, disse que o PSDB está à esquerda do PT. Depois de rápidas divagações filosóficas, Serra explicou que ser “esquerda” significava gastar mais na área social. O que na comparação entre os governos petistas e tucano é quase a mesma coisa. Então, só dá pra concluir o seguinte: para Serra, PT ou PSDB dá tudo na mesma.

EFEITO HELENINHA ROITMAN
O efeito passou, mas ele voltou. O jornalista Larry Rother, que está na Argentina, escreveu esta semana no “New York Times” artigo esculachando o filme “Diários de Motocicleta” do Walter Salles. E pra variar tem coisas erradas; ele diz que o filme foi baseado em um livro, quando foi em dois, entre outras “besteirinhas”. O que só dá pra constatar que a economia norte-americana é incrível: até quem é muito ruim tem emprego.

“O PARTIDO DA ÉTICA”
Mais um político do PT é envolvido em corrupção. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou o mandato do vice-prefeito de Iraceminha (Santa Catarina) Carlos Bernardi. Motivo? Corrupção eleitoral e abuso de poder econômico. Isso porque se trata do “partido da ética”, lembra? Na campanha de 2002 usava-se esse slogan com imagem sobreposta da senadora Heloisa. E agora, quem vai entrar no lugar dela pra fazer papel de santo? O Humberto Costa??!