23.12.09

Serra oferecerá ministérios sociais a Aécio
Caio Junqueira, Valor Econômico, 23/12/2009

O comando dos ministérios da área social a partir de 2011 é a principal oferta que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), fará ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), para atraí-lo como vice na chapa presidencial que deverá ser encabeçada pelo paulista nas eleições de 2010.

Embora o assunto ainda seja tratado com reserva no Palácio dos Bandeirantes, a avaliação é de que "metade" de um eventual governo Serra em Brasília deverá ser oferecido a Aécio para que ele aceite a composição. O governador de Minas só não teria ingerência nos ministérios da área econômica, como Fazenda e Planejamento, que liberam verbas para a área social, e ficariam sob controle de Serra.

O que o governador paulista pretende é algo semelhante ao que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fez com ele em seu primeiro mandato. Serra iniciou a era FHC como ministro do Planejamento. Deixou-a para disputar a Prefeitura de São Paulo em 1996 e, sem conseguir lugar no segundo turno (disputado por Celso Pitta e Luiza Erundina), voltou a Brasília e pediu o Ministério da Fazenda, então ocupado por Pedro Malan.

FHC negou, sob a justificativa de que um ministério social daria projeção nacional e apelo popular a Serra. Foi o que acabou acontecendo a partir de 1998. Até hoje o governador vale-se de seus feitos como ministro da Saúde -genéricos e programa da Aids, por exemplo- como capital eleitoral de todas as disputas de que participa.

É esse argumento que tem sido elaborado pela articulação política do governador paulista na tentativa de seduzir Aécio. Tendo sob seu domínio ministérios como Desenvolvimento Social , Desenvolvimento Agrário, Educação, Esporte, Saúde e Trabalho, o governador mineiro conseguiria projetar seu nome em setores com forte apelo popular e ainda implementar o que foi a tônica de seu discurso neste ano: o de que a próxima era seria o "pós-Lula".

Isso porque são nessas pastas que se concentram os programas-vitrine do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como o Bolsa-Família (Desenvolvimento Social) e o Pronaf (Desenvolvimento Agrário). O ministério dos Esportes terá grande destaque nos próximos oito anos, com a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016. Aécio, aliás, ao contrário de Serra, é muito próximo ao presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira. O Ministério do Trabalho vem sendo comandado há anos pelo PDT, partido com o qual tem ótima relação e inclusive ameaçava sair do barco da ministra da Casa Civil e pré-candidata a presidente, Dilma Roussef (PT), caso o mineiro fosse o candidato.
Com essas áreas em mãos, Aécio conseguiria se projetar nacionalmente e ser o sucessor de Serra em 2018, já que o projeto de poder pensado no PSDB paulista para ser apresentado a Aécio é de 16 anos.

Os tucanos avaliam que Lula não voltará em 2014, pois não pretende colocar em risco o prestígio nacional e internacional que conseguiu obter. "Ele vai ficar lá em São Bernardo do Campo, tomando uma cachaça no boteco com os metalúrgicos, depois volta para casa, põe terno e vai tomar chá com a rainha da Inglaterra. Já é um mito e assim vai querer permanecer", afirma uma fonte do Palácio dos Bandeirantes.

Em São Paulo, apesar do governo ter sido pego de surpresa pela desistência de Aécio, acredita-se que todo o processo está sendo premeditado pelo mineiro. A antecipação do anúncio da desistência teria o objetivo de dar tempo aos mineiros para absorverem a desistência de seu popular governador e ampliar o tempo durante o qual os oposicionistas vão implorar a Aécio para que ele componha a chapa com Serra.

Até lá aumentaria seu poder de negociação, visto que ele sabe que Serra, sem seu apoio em Minas, enfrentaria mais dificuldades para vencer Dilma em outubro. A oferta a Aécio ainda não foi feita, tendo em vista que Serra mantém o discurso de que o debate sucessório não deve ser antecipado, mas a partir de janeiro as tratativas começarão a ser feitas diretamente entre os dois governadores. "Os dois conversam direto", afirma um interlocutor de ambos.

Alckmin intensifica agenda no interior para neutralizar Nunes Ferreira
Caio Junqueira, Valor Econômico, 22/12/2009

Favorito para a sucessão ao Palácio dos Bandeirantes, o secretário de Desenvolvimento de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), reforçou neste fim de ano sua agenda pelo interior paulista, onde tem índices de apoio muito superiores aos da capital. É uma estratégia para neutralizar a preferência da cúpula do governo paulista pelo secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB). No espaço de 20 dias corridos entre os dias 1º e 20 de dezembro, o ex-governador paulista visitou 18 municípios, quase um por dia.

A agenda pelo interior incluiu, majoritariamente, as Etecs, escolas técnicas do governo paulista. Alckmin tem viajado seja para vistoriar obras dessas escolas (como na cidade de Rancharia, no sábado), inaugurar essas obras (como em Birigui, no dia 4) ou assinar convênios liberando recursos para viabilizar essas obras (como no dia 12, na região de Marília, ocasião em que liberou R$ 2 milhões para os municípios de Santa Cruz do Rio Pardo e Ourinhos).

Outros eventos de que participou são mais atípicos, como a assinatura, no dia 16, do "credenciamento provisório do Parque Agrotecnológico de Barretos (AgroTechPark) no Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (SPTec)". Ou a inauguração da "nova fábrica de luminárias baseadas na tecnologia LED do grupo belga Schréder", em Vinhedo, no dia 1º .

O governador também se reuniu com representantes de dez prefeituras do interior, dentre os quais alguns dos principais colégios eleitorais do Estado: Agudos, Campinas, Iperó, Jaguariúna, Jundiaí, Pedra Bela, Piracicaba, Porto Feliz, Santos e São José dos Campos. O encontro foi para apresentar os trabalhos da Investe SP, agência que fomenta investimentos no Estado.

Por trás da agenda da secretaria, Alckmin percorre o Estado para viabilizar seu retorno ao governo paulista. Embora seus concorrentes estejam distantes nas pesquisas eleitorais - no Datafolha divulgado ontem ele tem 50%, contra 14% quando o principal adversário é Ciro Gomes (PSB) e 14% se for Marta Suplicy (PT) -, o que atrapalha o ex-governador é sua situação interna no PSDB.

Rusgas de outros processos pré-eleitorais como o presidencial de 2006 e o municipal em São Paulo em 2008 permanecem. Nessas ocasiões, Alckmin impôs sua candidatura contra a vontade da cúpula do partido. Em 2006, Serra queria ser candidato a presidente e teve de recuar. Dois anos depois, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) era o candidato apoiado por parte do PSDB, que dividia com ele a administração municipal.

Alckmin, porém, lançou sua candidatura e o PSDB sangrou. Kassab venceu a campanha enfrentando ataques diretos de Alckmin a ele e seus aliados, como o ex-governador Orestes Quércia (PMDB). Hoje os dois, ao lado da maior parte da cúpula do PSDB paulista, defendem a candidatura Nunes Ferreira. Ele é o candidato oficial do governador, mas tem desempenho pífio nas pesquisas. No levantamento publicado ontem, seu nome nem sequer foi considerado pelo Datafolha.

Nos mesmo período em que Alckmin visitou 18 cidades, Nunes Ferreira esteve em seis, em algumas delas com caráter estritamente político: Araras (encontro com o prefeito), Vera Cruz (anúncio de obras), Caraguatatuba (assinatura de termo de cessão do imóvel do município ao Estado para instalação de unidade do Poupatempo), Ribeirão Preto (encontro partidário), Avaré (recebeu o título de Cidadão Avareense) e São José do Rio Preto (assinatura de convênio para área esportiva).

Com os dois postulantes, a possibilidade de prévias não está descartada e isso explica o périplo de Alckmin pelo interior ser muito maior que o de Nunes Ferreira. Alckmin tem poucos recursos em mãos em comparação com o volume total do orçamento paulista. Sua secretaria é responsável basicamente pelas escolas técnicas. Já Nunes Ferreira é responsável pela liberação de recursos aos prefeitos. Só neste ano, liberou R$ 239 milhões.

Por outro lado, o desempenho eleitoral de Alckmin é melhor no interior do que na capital. O Datafolha de ontem mostrou que chega a 54% nesta região, contra uma variação entre 39% e 46% na capital. Reforçar esse apoio em encontros com lideranças municipais, além de tentar anular os recursos financeiros de Nunes Ferreira, pode auxiliá-lo no caso de prévias, onde cerca de 4 mil delegados espalhados pelo Estado votam.

O único que poderia evitar o confronto direto entre os dois é Serra, aceitando a candidatura Alckmin como solução para não enfrentar problemas em seu Estado durante a campanha presidencial. Para tanto, teria que articular com seus aliados. O mais provável atualmente é que Kassab indique a vice de Alckmin, que hoje seria preenchida pelo secretário de Trabalho paulista, Guilherme Afif Domingos (DEM).

16.12.09

PTB busca apoio do PT à Adin que antecipa direitos políticos de Jefferson e Dirceu
Caio Junqueira, Valor Econômico - 16/12/2009

O PTB e o PT negociam um acordo que pode aproximar os dois partidos na campanha eleitoral de 2010. Em recente encontro entre lideranças dos dois partidos, foi oferecida ao PT a possibilidade de atuar como co-autor em uma ação direta de inconstitucionalidade (Adin) que tramita no Supremo Tribunal Federal, cujo objetivo é alterar a contagem do prazo para o cálculo da suspensão dos direitos políticos.

Na prática, os beneficiados imediatos seriam o ex-ministro da Casa Civil do governo federal José Dirceu e o presidente nacional do PTB, ex-deputado Roberto Jefferson. Os dois tiveram os direitos políticos suspensos pela Câmara dos Deputados por oito anos em decorrência das denúncias de corrupção que envolveram a cúpula do governo federal em 2005, no que ficou conhecido como escândalo do mensalão.

Uma vez julgada procedente a ação, ambos poderiam antecipar seu retorno em um processo eleitoral de 2016 para 2014, quando ocorrem eleições para presidente, governadores, deputados e senadores.

O questionamento que a Adin do PTB faz é quanto ao início da contagem da suspensão. Os advogados do partido alegam haver tratamento diferenciado a presidentes da República e a deputados, à medida que o prazo da contagem para presidentes cassados se inicia na data da suspensão enquanto para deputados, ao término da legislatura. Desse modo, Dirceu e Jefferson, como foram cassados, respectivamente, em 1º de dezembro e 14 de setembro de 2005, poderiam retornar nessas mesmas datas no ano de 2013.

Com acordo em estudo, o PTB avalia que a Adin ganha força política com a participação direta do PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, responsável pela nomeação de oito dos onze ministros do STF. Trata-se, portanto, de uma tentativa de anistia pela via judicial, pois avalia-se que pela via política (o encaminhamento de um projeto a ser votado no Congresso Nacional) não haveria aceitação pela opinião pública.

Além disso, o plano poderia fazer com que a Procuradoria Geral da República, acusadora de Dirceu e Jefferson no processo do mensalão, liberasse a Adin, que está parada no órgão desde agosto de 2008. O motivo é que o ministro relator da Adin no STF, Ricardo Lewandowski, por se tratar de um tema delicado, pediu que a Advocacia Geral da União (AGU), a Presidência da República, o Congresso Nacional e a PGR se manifestassem sobre a Adin. Os três primeiros se posicionaram, em poucos dias, contrariamente à procedência da ação. A PGR está com os autos do processo há um ano e meio, sem previsão de devolver.

"A PGR está cometendo um crime ao "sentar" no processo. Todos os outros responderam no prazo de cinco dias. Isso mostra que se trata mais de uma avaliação política do que jurídica, já que nossa tese tem grande plausibilidade", afirma o advogado do PTB Luiz Gustavo da Cunha. De acordo com a assessoria da PGR, o elevado volume de processos a serem apreciados dificulta a apreciação desta Adin.

Por trás do acordo, há um cálculo político dos dois lados. Uma vez no polo passivo da ação e dando força política à celeridade do julgamento da ação, o PT consegue aproximar o PTB do arco de alianças que pretende montar para a campanha presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).

Já o PTB consegue forçar o governador paulista e provável candidato a presidente pelo PSDB, José Serra, a se decidir quanto aos seus candidatos a senador por São Paulo. O PTB-SP exige que o senador Romeu Tuma seja um dos dois principais candidatos na chapa da sucessão tucana paulista. A outra vaga estaria prometida a Orestes Quércia (PMDB), como resultado do apoio do seu partido ao candidato a prefeito de São Paulo eleito em 2008, Gilberto Kassab (DEM).

O Palácio dos Bandeirantes, porém, tem pelo menos quatro candidatos ao Senado do partido do governador: o secretário de Educação, Paulo Renato Souza; o líder do governo na Câmara, José Aníbal; o presidente do PSDB-SP, Mendes Thame; e o mais recente postulante, o secretário de Meio Ambiente, Xico Graziano.

Hoje, o PTB é dividido em três forças, sendo que cada uma delas controla aproximadamente um terço do partido. Os defensores de uma aliança com os tucanos em 2010 são Roberto Jefferson e o deputado estadual paulista Campos Machado. Os que querem uma aliança com os petistas são os que integram o chamado "PTB do Nordeste", que tinha no ex-ministro José Múcio (Relações Institucionais) sua principal representação.

Com a nomeação de Múcio para o Tribunal de Contas da União (TCU), os governistas do PTB perderam força. Por outro lado, a cada vez mais iminente saída do governador Aécio Neves (MG) do páreo na indicação tucana com o governador José Serra, neutralizou um pouco o posicionamento de Jefferson, que defendia a candidatura do mineiro.
Eleição no diretório paulista coloca em jogo domínio de Quércia no PMDB
Caio Junqueira, Valor Econômico, 11/12/2009


Uma das principais bases do PMDB anti-lulista do país pode sofrer abalos neste domingo, quando o diretório paulista da legenda escolherá seus dirigentes para os próximos dois anos. A tranquilidade do processo eleitoral com a recondução a presidência do ex-governador Orestes Quércia foi interrompida por dissidentes encampados pelo deputado federal Francisco Rossi, ex-Arena, ex-PDS, ex-PTB, ex-PDT e pemedebista desde 2005. Há dez dias, ele saiu da chapa única de Quércia e lançou sua candidatura.

Sua bandeira é a candidatura própria do PMDB ao governo do Estado, cargo a que pretende se candidatar. "Já fui candidato duas vezes, tive quase 7 milhões de votos", afirma, relembrando seu apogeu político, quando foi ao segundo turno em 1994 contra Mário Covas (PSDB). Tentou ainda a prefeitura de São Paulo em 1996, tendo 400 mil votos (7,6%). Em 2004 tentou novamente e obteve 77,9 mil votos (1,3%).

Para a eleição de domingo, parte de uma base de 65 delegados dos mais de 750 que devem votar. É uma manobra de alto risco. Se ficar nesse índice, abaixo de 20%, não terá sequer o direito de indicar um dos 67 nomes do diretório estadual que elegerá os 15 da Executiva no próprio domingo. Pode perder, assim, tantos as eleições internas quanto a possibilidade de conseguir se lançar a governador no próximo ano.

No entanto, está otimista. Seus cálculos apontam ter cerca de 55% dos votos, o que, pela primeira vez em mais de vinte anos, tiraria o grupo de Quércia do poder. "São lideranças da base que estão aderindo espontaneamente, pois desejam a candidatura própria em todos os níveis em 2010", afirma.

Nenhum nome de relevo aparecia até ontem em sua chapa, embora sua candidatura seja atribuída ao PT em articulação com presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), seu único colega de bancada do PMDB-SP na Câmara e cotado para vice na chapa da ministra Dilma Roussef (PT) a presidente. Rossi já há alguns anos é próximo ao PT. Com base política em Osasco, onde foi prefeito por duas vezes, uniu-se em 2004 ao PT local, comandado pelo deputado João Paulo Cunha, para derrotar o PSDB nas eleições municipais daquele ano. No primeiro semestre deste ano defendeu o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Tem, portanto, credencial para enfraquecer Quércia e melar o acordo dele com com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), pelo qual Quércia sairia candidato a senador na chapa tucana.

Temer, assim como o PT, nega ter trabalhado por Rossi. Afirma ter acordo com Quércia para dividir poder no diretório. Apesar disso, Rossi declara que Temer o apóia. "Sei bem o que ele pensa disso tudo", diz Rossi, para quem a presença de Temer na chapa de Quércia é mera formalidade. "Eu também estava na chapa dele e nem havia sido consultado. Além disso, o voto é secreto", afirma.

Seu principal articulador, Fernando Fantauzzi , é explícito: "Foi Temer que convidou Rossi a ser candidato a governador em São Paulo". Mais beligerante que Rossi, é dele que partem os ataques a Quércia. "Há um afloramento dos sentimentos negativos que Quércia cultivou ao longo do tempo e que culminará na sua derrota", diz Fantauzzi.

Empresário na área de comércio internacional, sua empresa, a Interglobal, atua junto ao poder público. Integra, por exemplo, o consórcio com a Siemens e a Odebrecht para o projeto do trem-bala brasileiro. Em fevereiro deste ano, assinou com o governo José Roberto Arruda (DEM), do Distrito Federal, e com uma empresa americana, um Termo de Cooperação Técnica para a construção, em Brasília, de um Centro Financeiro Internacional, como alguns já construídos nos Emirados Árabes e na Malásia.

Ex-delegado de polícia, sua ligação com Rossi é antiga. Foi seu principal articulador durante a campanha ao governo do Estado, em 1998. Chegou a ocupar a Secretaria de Planejamento de São Paulo durante os dezoito dias em que o vice Régis de Oliveira assumiu a prefeitura, no auge da crise política envolvendo o então prefeito Celso Pitta, em 2000. Um ano antes, auxiliou o ex-presidente Fernando Collor na campanha a prefeito de São Paulo.

A dissidência é vista pelos quercistas como ato isolado e sem representatividade, majoritariamente apoiado por filiados de Osasco, embora haja apreensão quanto a eles comporem o diretório se tiverem mais de 20% dos votos. Mas a aposta é que Rossi não chegue a 15%.

Nas últimas eleições internas, em 2006, foi o deputado estadual Jorge Caruso que incorporou o anti-quercismo. Obteve mais de 30% dos votos, mas ali havia um apoio mais explícito de Temer a ele. Agora, para acalmar opositores, o que os quercistas fizeram foi juntar todas as lideranças em uma chapa e deixar a discussão que divide o partido -se aliar ao PT ou PSDB em 2010- para o primeiro semestre. Uma terceira corrente tem crescido e quer a candidatura própria, recém lançada pelo governador do Paraná, Roberto Requião, que acompanhará as eleições em São Paulo neste domingo.

"O que estamos discutindo é a chapa dos próximos dois anos, não a candidatura própria e a coligação estadual e nacional. Isso só vai ser decidido em junho", afirma Caruso, que justifica sua reaproximação a Quércia a uma democratização da legenda implementada pelo ex-governador.
O discurso da unidade também agrada os insatisfeitos com um partido cada vez mais à míngua no Estado, após governá-lo por oito anos, entre 1986 e 1994. O enfraquecimento coincide com o controle absoluto de Quércia na sigla. Participando do chapão, os opositores se sentem prestigiados no debate interno.

Para Airton Sandoval, secretário-geral da legenda e principal operador de Quércia dentro do PMDB paulista, o que a chapa propõe é levar a idéia da unidade para o PMDB nacional. "Pretendemos fazer no país o que estamos fazendo aqui: unir todas as lideranças para a campanha de 2010". Definir ao lado de quem é tarefa para o próximo ano.

2.12.09

Empresas de tecnologia reforçaram esquema
Caio Junqueira, De São Paulo, Valor Econômico, 02/12/2009

As principais empresas envolvidas nas denúncias de corrupção e crime eleitoral envolvendo a cúpula do governo do Distrito Federal e, em especial, seu governador, José Roberto Arruda (DEM), são ligadas ao setor de tecnologia da informação. No inquérito judicial do Superior Tribunal de Justiça (STJ), há a informação de que Arruda reuniu durante a campanha eleitoral de 2006 empresários do setor estabelecidos no Distrito Federal para pedir-lhes a doação de R$ 1 milhão e pagamento de despesas de campanha em troca de "benefícios futuros".

Uma dessas empresas é a Info Educacional, cujo presidente, Alexandre Tavares de Assis, também conhecido como "Mineirinho", aparece em um dos vídeos gravados pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa. Ele é acusado de dar R$ 60 mil ao secretário de Educação do DF, José Luiz Valente, que atuou no Ministério da Educação entre 1997 e 2004, responsável pelo gerenciamento de projetos executados pela Secretaria de Educação Superior do MEC.

A empresa desenvolve programas de de alfabetização tecnológica e tem como clientes, além do Distrito Federal, quatro outros Estados: Rio Grande do Norte, da governadora Wilma de Faria (PSB), Amapá, do governador Waldez Góes (PDT), Minas Gerais, do governador Aécio Neves (PSDB), e São Paulo, do governador José Serra (PSDB).

Os contratos com o governo paulista, porém, foram assinados nas gestões passadas, de Geraldo Alckmin (PSDB) e Cláudio Lembo (DEM). Juntos, somam mais de R$ 10 milhões e se destinaram à contratação de um software educacional. Alckmin chegou até a visitar uma escola que tinha o software, ao lado do seu então secretário de Educação, Gabriel Chalita (ex-PSDB, hoje no PSB), conforme relata um texto extraído do site da empresa: "Tanto o governador quanto o secretário puderam conhecer de perto os benefícios do projeto, ao passarem o dia em uma aula de reforço de alunos do ensino fundamental em uma das escolas públicas beneficiadas pelo projeto". De acordo com o informe, entre 2004 e 2005, o projeto foi expandido de 1,1 mil escolas para 3 mil escolas. A Secretaria de Educação de São Paulo informou não ter mais contrato com a empresa.

O mesmo programa foi implementado em Minas Gerais em 2007, no primeiro ano do segundo mandato de Aécio, e, ainda segundo o site da empresa, "os resultados desta iniciativa foram tão significativos que a proposta foi integrada aos projetos estruturantes no ano de 2008". A empresa já recebeu diversos prêmios por sua atuação no mercado, dentre os quais se destaca o "Top of Quality", concedido pela Ordem dos Parlamentares do Brasil.

A holding TBA, um dos mais importantes parceiros comerciais da Microsoft na América Latina, por meio de uma de suas empresas, a B2BR, também é mencionada no depoimento de Durval Barbosa. Sua fundadora e presidente do Conselho Executivo, Cristina Boner, é citada oito vezes por ele. Os R$ 50 mil que Arruda é flagrado recebendo teriam origem nas empresas de Boner, destacada pelo ex-secretário como uma pessoa que "ganhou notoriedade nacional porque por muitos anos foi detentora exclusiva da comercialização dos produtos Microsoft, ganhando com isso notoriedade nacional".

Barbosa relata que Boner ganhou um contrato emergencial como parte de uma doação não-contabilizada de R$ R$ 1 milhão para a campanha de Arruda. Afirmou também que os contratos da TBA com o governo do Distrito Federal eram conseguidos com a intermediação do vice-governador, Paulo Otávio, tendo em vista que "Cristina e Arruda não têm bom relacionamento pessoal".

Procurada, Boner não quis se pronunciar sobre o assunto. Por meio de nota, a empresa informou que "não faz parte das empresas investigadas e repudia as especulações políticas e eleitoreiras que estão acontecendo". Citada nominalmente oito vezes no inquérito, Cristina está reunida com seus advogados e estuda a possibilidade de mover ação judicial contra Durval Barbosa.

O perfil dessas empresas de TI envolvidas no escândalo mostra que suas atuações vão além do Distrito Federal e com contratantes de variados partidos políticos. É também o caso da Vertax, que tem sede em Brasília e filial no Rio. No rol de clientes, aparecem a Caixa Seguros (ligada a Caixa Econômica Federal), Embratur, Câmara dos Deputados, Banco do Brasil, Metrô do Distrito Federal, Câmara Legislativa do Distrito Federal, Ministério das Comunicações, Tribunal Regional do Trabalho de Goiás e o governo do Estado do Paraná.

A empresa é citada nas denúncias com uma menção a R$ 2 milhões que seriam seus para abastecer o esquema de corrupção. Segundo a empresa, trata-se de um reconhecimento legal de dívida. A assessoria de imprensa relata ainda que está no mercado há 18 anos e tem faturamento projetado para este ano de R$ 45 milhões., dos quais 10% desta quantia se refere ao Distrito Federal e 3% a uma filial em Miami, nos Estados Unidos.

Outra envolvida é a Linknet, especializada em criação de softwares. Seu proprietário, Gilberto Lucena, é citado nominalmente por Durval Barbosa como integrante do esquema. Lucena já era conhecido da Polícia Federal por suspeita de financiamentos irregulares para a campanha à reeleição de Joaquim Roriz (PMDB), em 2002. (Colaborou André Borges)