18.6.04

O mínimo não foi feito

Marcio Pinheiro

A culpa pela não-aprovação da MP do salário mínimo, a maior derrota de Lula no Congresso, foi do próprio presidente da República.

Desde o início de 2003 ao não tentar um outro tipo de relação com o Congresso que não fosse o toma-lá-dá-cá, Lula não teve a consciência de que o preço a ser pago seria muito caro; a conta chegou hoje. Preferiu a Reforma da Previdência à Reforma Política, no auge de sua popularidade. Mas o jogo estava só começando.

Em janeiro de 2004, Dirceu deixa o que de melhor sabia fazer: articulação política; ele que foi o grande articulador de “Lula Presidente” (aliás, se está no Palácio até agora é devido a esse reconhecimento de Lula). No entanto, foi aí que começou a ciumeira com Aldo, o novo articulador. Lula deixou correr solto o desgaste da cúpula palaciana: se Gushiken, Luiz Dulci e Aldo não se dão com Dirceu é porque algo está errado, não? Isso no nariz do presidente, “o grande conciliador”.

E desde o início do mandato até ontem: deixou senadores e deputados à espera, sem atenção (ele não havia escolhido em 2003 esse tipo de relação com o Parlamento?). Levou “no bico” relação com gente séria, Sarney inclusive, com quem fala pouco. Lula paga o preço do seu desapreço pelo Parlamento. Quando foi ligar para parlamentares, se rastejando por votos para o salário mínimo de R$ 260, já era tarde.

Outro motivo que mostra ser de Lula a culpa pela não-aprovação da MP é o mérito da questão, que vem desde a campanha: o então candidato do PT alardeou em 2002 que ia dobra o valor do salário mínimo. Ele não vai querer fazer isso de uma vez só no último ano de mandato, vai?

A perda do governo nessa votação, e pra Lula especificamente, é pra lá de simbólico. Símbolo que vem desde a era Vargas, político que introduziu o salário mínimo, usado como populismo, que os trabalhistas usavam e abusavam; do qual os trabalhadores-companheiros da então oposição petista sempre reclamavam, por ser de tão baixo valor. A MP de hoje seria a aprovação de uma medida que é base, o sustentáculo do trabalhador.

Depois de um ano e meio, o amadorismo do governo assusta. Numa casa onde sabidamente não tem sustentação forte, deixou o barco correr solto (vide o desleixo com a emenda de reeleição no Congresso); deixou rixas palacianas influírem.

Foi colocado em xeque o tão propagado “poder de convencimento” do presidente, ou seu poder de costuras políticas (não conseguiu porque delegou essa tarefa a duas pessoas que não se dão bem pessoalmente – Aldo e Dirceu). Além da “culpa” presidencial, ainda cabem outras observações.

1- A confirmação da política como “palco” e hipocrisia. Vide o incrível comportamento da dobradinha tucano-pefelê, que por oito anos comandou a ferro e fogo o Congresso e não foi capaz de, assim como Lula 2004, dar um aumento razoável ao salário mínimo (só pra lembrar um indicador econômico que justifique esse sentimento: o poder de compra do trabalhador conquistado desde o Real já foi perdido em termos reais).

2- O banho de realidade política pode ser visto sob a égide de uma lição da Democracia. É muito saudável que se veja na prática a independência entre os poderes da República, ver um Poder não refém do outro.

Mas não sejamos ingênuos ao cair de cabeça neste segundo tópico. O balcão foi reafirmado pelo governo do PT: a moeda de troca está mais do que nunca entranhada entre Planalto e Congresso, tanto que liberação de verbas foram postas no cardápio (e nem assim o Planalto levou..).

3- O medo e a infelicidade de ter que reconhecer que Regina Duarte é vanguarda. Medo de que a moda pegue e o Executivo simplesmente pare. Isso: uma crise institucional a essa altura.


6 ANOS DEPOIS...
A Embratel conquistou o primeiro lugar – dentre 180 marcas – no Ranking Info de Confiabilidade em Serviços de Comunicação, Voz e Dados na segunda Pesquisa Info de Marcas em Tecnologia da Informação. Quanto prestígio. Algo impensável até 1998, quando da privatização das teles. Um sucesso.
Mas só um detalhe: a pesquisa foi feita com base na opinião de 152 executivos das maiores empresas do país. Certamente pessoas que não tem idéia de qual prestadora cobra a menor tarifa ou qual delas deixa você esperando por mais tempo até ser atendido.


10 ANOS DEPOIS...
Rubens Ricupero volta às manchetes dos jornais. Não, não é como ministro do Real para dar uma notícia excelente sobre o plano. Muito menos para dizer que "não tem escrúpulos” ou que “o que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde”.
Escondeu e não faturou: caiu no dia seguinte à exibição dessa delcaração.
Mas Ricupero deu uma volta por cima e tanto. Ele volta à mídia como secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), cuja última reunião ocorreu em São Paulo. O ex-ministro da Fazenda de Itamar trabalha hoje em prol das nações pobres. Está faturando o que é bom mostrando o que é ruim.

17.6.04

Robin Hood às avessas

Caio Junqueira

Um país fudido querendo ajudar outros países mais fudidos e que acaba fodendo os fudidos que vivem nesse país fudido. Essa é a interpretação grosseira da intenção de Lula de querer comprar produtos dos países da América do Sul, ainda que sejam mais caros, proposta durante a reunião da Unctad na última segunda, em São Paulo.
Então o presidente quer economizar R$ 260 no mínimo mas quer gastar milhões com importações caras? Por favor né, ou para com essa demagogia ou já pode passar a chamar os brasileiros de palhaços.

EMBRIÃO DE CORONEL
Está provado. O Nordeste brasileiro é o grande renovador do fisiologismo político brasileiro. O marido da atriz Patricia Pillar, Ciro Gomes, é um desses casos em desenvolvimento. Ciro, que além de marido de atriz famosa, é ministro da Integração Nacional do governo Lula, está começando a se emburrar com o governo, surpreendentemente ao mesmo tempo em que o governo começará a ser mais questionado, criticado e colocado em xeque, devido às eleições municipais.
Ele, que ficou um ano e meio quietinho e mansinho, quase imperceptível, agora já percebe que é hora de se mexer para não correr o risco de afundar junto com o governo.

ATRAÇÃO PAULISTANA
Agora é regra. Todo gringo que pisar por aqui tem que visitar os CEUs da Marta. Nesta semana o privilegiado foi o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que foi até o escolão do Campo Limpo, zona sul de SP, um dos bairros mais violentos da capital. Annan achou o "ambiente maravilhoso".
O mais interessante é o “maquiamento” dado a essas regiões quando “gente importante” por lá aparece. Um aluno da escola disse que nunca tinha visto tantos policiais em sua vida como durante a visita de Annan.

JUSTIÇA HEIN?
“A hipótese ora tratada não é de mera desclassificação ou mesmo de absolvição do paciente, mas, sim, de decisão que reconhece a inexistência do crime contra o sistema financeiro nacional. Ou seja, essa infração jamais ocorreu.”
Naji ficou famoso por ter feito operações, em 1989, que provocaram prejuízos à Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, culminando no seu fechamento. Segundo a Justiça, nada aconteceu.

UM DIA CHEGA
O papa João Paulo 2º pediu perdão pela Inquisição, período entre os séculos 13 e 17 em que a Igreja torturou, fez julgamentos sumários, conversões forçadas e queimou na fogueira acusados de heresia. Se demorou mais de 300 anos para o pedido de perdão da Inquisição, podemos calcular que lá pro ano de 2300 o papa da época pedirá perdão pelo apoio do papa Pio 12 ao 3º Reich de Hitler.

CLÁUSULA DE BARREIRA
Pelo dispositivo que será apresentado à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) pelo relator da reforma política, deputado Rubem Otoni (PT-GO), os partido pequenos não serão tão censurados como na proposta anterior.
A idéia é que o partido tenha 2% dos votos nacionais (e não 5%, como antes), não mais tenha votação mínima no Congresso. Porém, será preciso eleger deputados federais em pelo menos cinco Estados e ter votação em 9 Estados. Ponto para a democracia.

FACETAS IRRITANTES DE UM PAÍS DESIGUAL
70% do faturamento de pet shops correspondem a comercialização de produtos importados, como um frasco de perfume por R$ 2 mil, uma gargantilha de R$ 2,5 mil ou uma cama alemã com base de ferro, de R$ 1 mil.
Enquanto isso, no Brasil Real, a média nacional dos alunos da rede pública e particular em 2003, na prova de português da 4 série, foi de 169,4 pontos numa escala de zero a 500. Em 2001, havia ficado em 165,1 pontos. Essas pontuações deixam os alunos no nível 2, numa classificação que tem oito níveis de conhecimento. Nesse nível, os alunos só identificam informações explícitas em pequenos textos e precisam do apoio de ilustrações para reconhecer o tema de narrativas simples como histórias infantis.

REGISTRO
Todo mundo já bateu, mas eu também quero. O artigo de Danusa Leão criticando a festa de Lula por ser jeca, caipira, símbolo de um país atrasado foi elitista, preconceituosa e nojenta.

QUENTE
To vendo na TV Senado. O governo perdeu a votação do mínimo. Pode comparar ae com os outros sites . 44 a 31 com uma abstenção. O 3 palavras deu primeiro.

15.6.04

Tarso Genro, a luz no fim do túnel

Virgilio Abranches

Com a proposta do ministro da Educação, Tarso Genro, de utilizar parte dos recursos destinados ao pagamento da dívida externa para o desenvolvimento educacional do país vê-se que enfim alguém resolveu trabalhar em cima de idéias no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Até agora, a parte que mais colheu resultados - ainda que pouco expressivos - foi a econômica, que não adotou um projeto original, mas sim um simples aprofundamento do que já vinha sendo aplicado ao país pela trupe da PUC do Rio sob a aprovação de Fernando Henrique Cardoso.
De resto, só trapalhadas. Apenas programas que não saíram do papel (vide Primeiro Emprego e Fome Zero), golpes marqueteiros sem nenhum resultado prático (vem aí o Farmácia Popular) e fofocalhadas, intriguinhas palacianas que paralisam o governo e teleguiam as pautas da mídia e da imprensa. Talvez seja esse o intuito do ministro José Dirceu, o campeão dos mexericos: ocupar os jornalistas com as encenações de bastidores e impedi-los de notar que esse governo não anda.
Vamos esquecer e fingir que não ouvimos a proposta de Tarso Genro de criar uma loteria para financiar as universidades. Foi um lapso, consideremos. Como bem observou Élio Gaspari, em sua coluna na Folha de S. Paulo do último domingo, seria tirar dinheiro dos pobres (os maiores apostadores de loterias) para dar aos ricos (os maiores beneficiários das universidades públicas).
A proposta esdrúxula da loteria não diminui o mérito da idéia de investir em educação o dinheiro da dívida. Obviamente não será fácil convencer os credores do Brasil. Mas só a discussão do tema e uma articulação internacional, como defende o ministro, já são passos importantes. Seria uma forma de driblar a falta de recursos e de imprimir uma certa justiça na relação do país com os agentes financeiros, sem abalar os tão prestigiados ânimos do mercado.
A maior decepção do governo Lula até agora, independente de juros altos, superávit, transgênicos e afins, é a não atenção à educação. Imaginou-se que um governo de esquerda veria no tema prioridade, inclusive para alcançar o tão desejado crescimento (se é para analisar a tudo sob a ótica econômica). Não foi assim. Não está sendo assim. Tarso Genro mostra agora que pretende agir para mudar a situação. Só pretender não adianta. Ainda mais se tratando apenas do ministro. É preciso ação. E do presidente.

DEPRIMENTE
É ridículo as pessoas se ocuparem em criticar a festa junina do presidente Lula. Por qualquer ângulo.

CAMPEÃ
É lógico que o título de idiota da semana vai para Danuza Leão em seu artigo preconceituoso e ignorante na Folha de S. Paulo. Está estabelecido. A partir de hoje, em todas as terças será eleito "O idiota da semana".

OLHOS NELES
Vamos ver quem serão os incoerentes de PFL e PSDB dessas vez na votação do salário mínimo no Senado. E vamos ver quem são os petistas que continuam achando que vivem na Albânia.


14.6.04

Um círculo viciado

Marcio Pinheiro

O caso Law Kin Chong faz lembrar o clássico dilema presente no debate sobre o tráfico de drogas, que existe porque há demanda pelo produto. O mesmo se aplicaria aos produtos roubados: eles são comercializados porque tem gente que compra.
Mas ao contrário das drogas, as pessoas consomem esses produtos de origem duvidosa (mais baratos) simplesmente porque não podem pagar pelo produto legal (mais caro).
Em comum com o mercado dos entorpecentes, o hábito de comprar produtos ilegais se alastra por todas as classes.
Mas o curioso é que 47% da classe A e 49% da classe B preferem as mercadorias à la “Law Kin Chong”. Justo aqueles que 1- têm dinheiro para pagar pelo produto legal, mas optam pelos de origem duvidosa e 2- geralmente, são os que sofrem na pele as dificuldades de se manter no mercado legal, pagando em dia a brutal carga tributária. Boa parte das classes A e B é dona de empresas (pequenas ou médias), ou de alguma forma estão a ela vinculados (prestam algum serviço ou têm algum parente envolvido, trabalhando nesse negócio) e, portanto, são os mais conscientes sobre essa situação.
Esse é o retrato da elite no Brasil: reclama da carga tributária, mas consome produtos roubados. Produtos, frequentamente, roubados deles próprios, e que muitas vezes são vendidos para engrossar os lucros do tráfico de drogas, em que o número de consumidores é, certamente, mais elevado nas classes mais altas, de maior poder de compra.
Mas certamente o caminho mais fácil seria culpar essa elite. No entanto, lembramos aqui também da (in)competência do Congresso Nacional e da omissão do Executivo sobre questões dessa natureza.
Cabe ao legislativo votar a reforma tributária, que não sai do papel (enquanto o comércio ilegal incha e as pequenas empresas continuam quebrando); o projeto de lei para legalizar as drogas simplesmente não existe e os traficantes, mesmo se condenados, não tem para onde ir (afinal, o crime de tráfico é um crime federal, mas simplesmente não existem presídios federais; a obra do primeiro, em Mato Grosso, foi suspensa).

O TREM DA HISTÓRIA
Além dos projetos parados acima, outra demanda da sociedade que não é desengavetada é o projeto de lei da então deputada federal Marta Suplicy, de 1995, que regulamente a união civil dos homossexuais. Só ontem em São Paulo, a Parada do Orgulho Gay reuniu cerca 1,5 milhão de pessoas (gays, bissexuais, heterossexuais etc.) que gostariam de ver um Parlamento que acompanhasse as causas de seu tempo.

QUEM É O ASSASSINO?
Anthony Garotinho foi eleito governador em 1998 como o homem que iria resolver os problemas de segurança do Rio. O discurso era duro; ele se especializou no assunto. Quem leu “Violência e Criminalidade no Estado do Rio de Janeiro” (editora Hama, 1998, 170 páginas) não tem dúvida de que os autores (entre eles Garotinho) eram muito bem informados sobre o tema, e que o problema seria solucionado.
Teve gente que acreditou, tanto que elegeram a mulher de Garotinho para o governo do Rio, e ela, claro, chamou o marido especialista para comandar a segurança do Estado.
É claro que toda boa análise é feita a posterori, tudo bem. Mas alguns resultados da atuação do ex-governador e atual secretário podem ser comentadas. Mas não vou comentar; melhor é lembrar:
1- Garotinho manteve presos de facções rivais em uma mesma unidade. Resultado na Casa de Custódia de Benfica: 31 mortos;
2- Caso 174. Por ordem do então governador, a polícia não agia enquanto esperava ordens de Garotinho. Resultado: uma professora morta pela polícia “especializada” com um tiro na cabeça e um seqüestrador asfixiado por policiais (eles foram absolvidos);
3- A novela dos bloqueadores de celular: Garotinho era favorável ao uso do celular nas prisões porque o criminoso, ao falar ao telefone, teria a conversa grampeada pela polícia, o que ajudaria nas investigações. Depois, concluiu que a idéia não era tão eficaz assim, quando informado de que esses traficantes punham fogo na cidade e controlavam o tráfico de dentro das celas pelo celular;
4- Caso Staheli: o secretário de segurança apresenta ao vivo e a cores o “assassino” do casal norte-americano na Barra da Tijuca. O acusado desmentiu o depoimento no dia seguinte. Certamente nenhum inimigo político de Garotinho conseguiria dar uma rasteira dessas nele com tamanha eficiência;
5- Sem contar os bandidos que nesse período fugiram pela porta de frente de perídios ou que vendiam/ vendem drogas e fumam maconha nas cadeias (imagens estas mostradas a exaustão pelas TVs no ano passado)
Conclusão: se eu fosse o Gilberto Braga, chamaria correndo o Garotinho para descobrir quem é o assassino de Lineu Vasconcelos.

EU JURO
O Copom não deve aumentar os juros nesta semana. Basta olhar o mercado futuro: a taxa Selic já está alcançando o mínimo aceitável. Leia-se: com um taxa ainda menor de juro (ou bem menor, como deseja o presidente Lula), os investidores evaporam. A avaliação é reiterada pelo ministro Palocci, que no último dia 7 disse que “os juros já cumpriram seu papel na retomada da atividade econômica”, ou seja: não precisam mais cair.

Do legislar

Caio Junqueira

Ou o Poder Legislativo muda ou o país não muda. Creditar aos quase-513 e aos quase-81 imbecis responsáveis pela elaboração e aprovação das normas jurídicas que conduzem a vida dos quase-200 milhões de imbecis que deram o cargo a eles não passa de ilusão, ingenuidade e, acima disso, burrice.
O abuso dos congressistas brasileiros é tão escrachado que a maneira medíocre como conduzem seu ofício expõem os cidadãos brasileiros ao ridículo. Isso mesmo. Somos todos palhaços desse grande circo chamado Congresso Nacional.
Por falta de espaço, fica impossível mencionar todos as faltas-de-vergonha já produzidas na Casa, afinal, são 113 anos de republiqueta capenga tupiniquim. Porém, basta ater-se à mais nova paródia que assistiremos nesta semana: a aprovação da PEC (proposta de emenda constitucional) dos vereadores.
Desenterrada há cerca de dois meses pela Câmara, depois de mais de 12 anos estacionada _e esquecida_, a proposta reapareceu depois que o STF (Supremo Tribunal Federal), mediante consulta do Ministério Público, fez a interpretação correta da Constituição e decidiu que a contagem que as câmaras municipais fizeram do número de vereadores estavam erradas. Com base nessa decisão, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) refez as contas e revelou que 8.500 cargos de vereadores estavam sendo preenchidos indevidamente.
Não bastasse o aspecto jurídico-constitucional que justifica redução, outros pontos reforçam a necessidade da medida: vereadores têm uma média salarial de R$ 7 mil, 35% dos municípios gastam com as Câmaras mais do que sua receita, 19% mais do que com habitação e urbanismo e _pasmem_ 8% mais do que com saúde e saneamento.
No entanto, preocupado com a perda de cargos e apoios eleitorais em anos de eleições, o Congresso ignorou o bom senso, a interpretação do Judiciário e o princípio constitucional de equilíbrio entre os três poderes e, mais uma vez, legislou em causa própria. Tudo com a anuência silenciosa do Executivo, que não quer entrar na briga por uma causa contrária ao fisiologismo que tem praticado.
Perdeu-se o já limitado tempo de trabalho dos deputados e senadores com um assunto que, em respeito à interpretação correta da Constituição e a situação de um país miserável, deveria ter finalizado na instância competente.
Não me iludo com os homens, tampouco com os políticos. Mas imagino que um país sério aproveitaria o ensejo do debate proporcionado pela decisão do TSE para, pelo menos, iniciar o debate de uma reforma política. Ainda que fosse limitado ao aspecto do Legislativo e do seu funcionamento.
Trazendo o debate de “baixo para cima”, é perfeitamente cabível a discussão, por exemplo, da atuação das Assembléias Legislativas. Essas Casas trabalham às escuras, sem qualquer acompanhamento da imprensa, do Ministério Público e, principalmente, dos eleitores. Ali, concentram-se deputados estaduais que representam _à exemplo do Congresso_ lobbies classistas ou representantes de municípios.
No caso do Estado de São Paulo, que tem 645 cidades e 104 deputados estaduais, a imensa maioria dos seus municípios fica ou mal representada ou sem qualquer representação. E, por favor, não me venham falar que há deputados que representam “a região” de seu berço político. Essa é uma das grandes balelas com que políticos e candidatos tentam enfiar goela abaixo da patuléia. Quem acompanha a vida política de qualquer município do interior sabe que esses fulanos só aparecem em cidades próximas da qual tem sua base eleitoral em ano de eleição. A equação, então, é essa: ou o município elege um deputado estadual ou aguarda a próxima eleição.
Sem dúvida, a votação da PEC dos vereadores nesta semana será mais uma aula de como ganhar dinheiro, fama e poder e colaborar com a manutenção do atraso político-institucional de um país.
Assuntos levantados seja pela imprensa, pela Justiça, ou por qualquer outro meio, em vez de serem encaminhados para um debate útil, racional, e produtivo, acabam por cair na lógica histórica brasileira do confundir o interesse privado com o interesse público e que acaba por justificar a falta de confiança de um povo por seus representantes.

FANTASMA ARGENTINO
Os argentinos, historicamente muito mais politizados que os brasileiros, estão dando um exemplo de como a história, apesar de não ser feita pelos vencidos, pode ser, pelo menos, recontada e corrigida por eles.
Os hermanos estão promovendo um movimento para retirar as estátuas em homenagem ao general Roca, responsável, no século 19, pela conquista da Patagônia e conseqüente assassinato dos milhares de nativos indígenas que lá habitavam.
No Brasil, o mesmo poderia ser feito com a de Duque de Caxias, outro grande assassino consagrado em monumentos pelo pais. Só para lembrar, tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro, há uma rua com o nome do general argentino. Coincidência ou não, em abril do ano passado, nessa rua no Rio, um grupo incendiou um ônibus. Em outubro, houve uma troca de tiros. Parece que o espírito de Roca se exilou no Brasil.

FANTASMA ESPANHOL
O presidente americano, George W. Bush, vive uma situação difícil. Como americano e presidente, não deseja que seu país sofra um novo ataque terrorista. Como candidato, também não, mas, se for para ocorrer, que seja após o dia 2 novembro, a data marcada para as eleições. Um ataque antes desse dia sepulta de vez sua já complicada situação.
Segundo uma pesquisa do jornal ‘Los Angeles Times‘, o candidato democrata, John Kerry, aparece com 51% das intenções de voto contra 44% de Bush Filho. O fantasma do ex-primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar ronda a Casa Branca.

A TOCHA
De Zico, ao carregar a pentelha tocha olímpica: “A partir de agora, não falta mais nada na minha vida”. Ué, e a Copa do Mundo?

AINDA A TOCHA
Peraí. Xuxa e Toni Ramos carregaram a pentelha tocha olímpica. Zilda Arns também. Clientes da Samsung, uma das patrocinadoras do evento, também. Isso é Rio.

11.6.04

Recorte Paulistano

Caio Junqueira

PT queria o PMDB que queria o PSB que queria o PDT que queria o PL que queria o PFL que queria o PSDB que queria o PTB que queria o PT.

RUIM DE CONTA

Ou os colegas de partido do senador Paulo Paim (PT-RS) brincam com ele ou ele era muito mal aluno de matemática lá pros rincão de Caxias do Sul, sua cidade natal. Às vésperas da votação, na Câmara, da medida provisória que reajustou o salário mínimo de R$ 240 para R$ 260, Paim havia calculado que 18, dos 21 deputados petistas, votariam contra a MP. Foram cinco.
No Senado, ele agora faz cálculos dos votos da Casa contrários à medida, e não mais exclusivamente dos integrantes do PT. Para ele, 53 dos 81 senadores votarão contra a MP. Fica menos feio errar quando os números não são só do partido que ele integra.

EM CAMPANHA

Merval Pereira está dedicadíssimo em seu papel de libertar a cidade do Rio do Estado do Rio. Podem até negar, uma vez que ele não admitiu expressamente essa opinião em sua coluna no "Globo". Mas é impressionante a vontade com que dá espaço ao debate de um tema que, antes de mais nada, revela o maldito vício brasileiro de resolver os problemas à base da caneta.

EM CAMPANHA 2

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), está em alta entre a mídia do eixo Rio-SP. Diante da greve dos policiais mineiros, Aécio não hesitou em pedir o auxílio das Forças Armadas na noite da última sexta-feira. Os colunistas dos jornalões saudaram sua atitude como sensata, correta e racional. E a comparam com os Garotin, que no início do ano criaram um imbróglio com o governo federal em relação ao mesmo tema. De fato, Aécio agiu corretamente. Mas dá para ver que a campanha dos jornais para elegê-lo em 2006 já começou.

CIRCO OFICIAL

O palácio Xuxu foi ao Congresso em protesto à votação da PEC dos vereadores. Sentiu-se em casa.

MAIS DO MESMO

Depois do retorno do menino Iruã, o assunto que mais me tem irritado é a passagem da tocha olímpica do Brasil. Fala-se muito de um assunto chato. Qual é a relevância da tocha? O Brasil é péssimo em esportes olímpicos, sempre dá vexame, não tem tradição nem investimento.


10.6.04

Lula, o domador de leões

Virgilio Abranches

É o que dá ficar sentado em cima de um governo que virou refém para tudo quanto é lado. Vários têm sido os algozes de Lula neste ano, principalmente depois que estourou o caso Waldomiro Diniz, em fevereiro. O escândalo jogou o presidente aos leões. E para escapar de um, Lula precisa correr a outro. E assim sucessivamente. Vai chegar a hora em que se virá cercado por uma matilha faminta por devorá-lo.
O preço de se render ao PMDB está aí. O partido está rachado, é infiel e poucas vezes garante maioria segura ao governo no Congresso. A votação da medida provisória do salário mínimo de R$ 260 no Senado está aí para mostrar. Não há quem se arrisque a dar certeza da vitória governista.
O governo fica refém por qualquer motivo. Um melindre de Sarney já detona uma crise de confiança na base. O presidente do Senado queria ficar com a boquinha por mais dois anos. Como o governo não o apoiou, e a emenda que permitia sua perpetuação no cargo caiu, ficou irritado. Para ajudar, agora, dá trabalho.
O PMDB, em geral, ataca com vários leões de uma vez. Para vencer Sarney, Lula recorreu a Renan Calheiros, senador alagoano que foi ministro de Collor e FHC. Agora terá que apoiar Renan para a presidência do Senado. Ou então recorrer a outro leão.
Orestes Quércia, talvez. Que hoje já ataca o governo federal mexendo seus pauzinhos no seu feudo paulista. Quércia se recusou a apoiar Marta Suplicy em São Paulo porque não conseguiu colocar nenhum de seus apadrinhados no ministério de Lula. Pague-se o preço.
Há outros leões: Valdemar Costa Neto, Roberto Freire, enfim, todos membros de uma base aliada que apresenta dois problemas básicos: 1) uma parte (PPS, PSB, PC do B) foi eleita acreditando no antigo PT - que hoje não existe mais - e agora se decepciona e reage; 2) outra parte foi costurada na base do puro fisiologismo e não se vê fazendo parte do todo do governo, mesmo porque esse governo não tem todo, e sim uma série de fragmentos muito mal colados. É um mosaico vagabundo, do qual os pedacinhos vão, pouco a pouco, se despregando.
A parte que deveria ser mais coesa no governo Lula seria a sustentação petista. Depois que os quatro radicais foram esconjurados, a união sólida da trupe parecia certa. Deu errado. De novo, por vários motivos: 1) o PT ainda tem a sua esquerda. Light, tudo bem, que até aceita taxar inativos. Mas que não topa um salário mínimo de R$ 260 com facilidade. É uma esquerdinha bem ordinária, é verdade, porque no fim das contas acabou ficando com o governo. Mas, talvez por ser ordinária, dê um certo trabalho; 2) o poder aguçou vaidades. E Lula agora é refém de José Dirceu. O ministro da Casa Civil passou a ser mais um dos leões aos quais Lula tem que domar. Dirceu está insatisfeito com seu espaço no governo. Crê que perdeu terreno para Palocci, outro petista. E declarou guerra. Ou seja, agora Lula escolhe: ou fica com Palocci e ganha Dirceu como inimigo _o que não seria um bom negócio, dado ao estilo, digamos assim, agressivo do ministro_, ou cede a Dirceu, dando-lhe poderes que o farão pensar que manda definitivamente no governo; 3) ficando com a segunda hipótese _que considero a mais provável_ Lula ganha mais um leão: o PC do B, de Aldo Rebelo, ministro do qual o presidente terá que tirar poder para agradar o chefe da Casa Civil. E tome crise na base. Alguém ainda acredita que o governo Lula vai deslanchar?

VILLAGE PEOPLE
Antonio Carlos Magalhães não precisava dizer na tribuna do Senado que macho. Todo mundo já sabia. Não dá para pensar outra coisa de quem tem coragem de, depois de aprontar tudo o que aprontou, ainda fazer exposição de sua figura com tanta firmeza. Esse é macho!

PENSANDO BEM
Até dá para pensar que ACM é apenas mais um simples cara-de-pau. Mas seria muita maldade.

LINHA EDITORIAL A LA CONTIGO
Faltou pouco para que o Globo desse a seguinte manchete na quarta-feira: “Namorada de Rodrigo Santoro, modelo é acusada de ser laranja”. Sim, porque a matéria mostrando quem é a modelo Ellen Jabour teve quase o mesmo tamanho que o texto noticiando que ela é suspeita de ser laranja do pai, Jaisler Jabour, um dos vampiros da Saúde.

QUEM VÊ CARA...
Por falar em Vampiro, basta olhar a cara do ex-coordenador de Recursos Logísticos do Ministério da Saúde, Reginaldo Muniz Costa (antecessor de Luiz Cláudio Gomes da Silva), para saber que dali sairia, no mínimo, uma Operação Lobisomem. A foto está na página 48 da revista Veja, que saiu no começo desta semana.

PEDIDO
Mas, por favor, não comprem a revista. Não vale a pena. Dêem uma olhadinha no dentista ou no médico.

AINDA NELA
Ainda sobre a Veja: acabou de ser lançada a campanha Palocci 2010. Descaradamente.

BASTIDOR
É bom trabalhar na redação do maior jornal do país. Só assim é possível ver um vice-governador ligando ao repórter para passar informações quentinhas. Pelo menos foi dessa forma que alguns jornalistas ficaram sabendo que o PFL vai apoiar a candidatura Serra em SP.

O "TRÊS PALAVRAS" ADIANTOU
Já disse Marcio Pinheiro em seu artigo desta quinta-feira (logo aí abaixo): o Brasil precisa renegociar sua dívida. O mesmo pensa o cientista político e brasilianista Jeffrey W. Cason. Ele deu sua opinião no 7º Congresso da Associação de Estudos Brasileiros (Brasa, na sigla em inglês), que ocorre no Rio de Janeiro. Para o americano, o governo precisa gastar dinheiro em investimentos, pois só assim o país vai crescer.

E a economia, como vai? Pergunta pro Sarney

Marcio Pinheiro

Que a economia vai mal há anos todo mundo sabe. Solução pra isso ninguém deu ou não teve coragem para fazer. Então, qual então a margem de mudança econômica que um governo - qualquer que seja, do PP, do FH ou do Lula- pode ter? Como mudar a economia e, ao mesmo tempo, manter os contratos, conquistar respaldo internacional?
Bem, essas duas linhas parecem ser incompatíveis. No entanto, algumas rupturas, não totais, deveriam ser praticadas.
Exemplo: otimizar o contrato com o FMI, que engessa a economia. É pra lá de notório que o acordo com o FMI precisa ter suas regras de contabilidade revistas. E não sou eu que diz isso, mas o presidente do Senado, José Sarney. É claro que ele fala com a autoridade de presidente do Congresso, mas, sobretudo, com a experiência de ex-presidente da República que, mesmo tendo feito um governo muito duvidoso, tem capacidade de análise o bastante para chegar a essa conclusão.
A primeira vez que recorremos (às pressas) ao FMI no governo FHC foi em 1998 (às vésperas das eleições presidenciais) por causa da crise da Rússia. E os acordos continuam se renovando (mesmo sem crises internacionais de grandes proporções)sucessivamente até hoje, sem mudanças. Entre as cláusulas (absurdas) que se repetem está a que obriga o governo a economizar muito com os gastos públicos para pagamento de bilhões de juros da dívida, entre outros. Só em 2003, Lula gastou R$ 412,9 bilhões (ou 54,61% de todos os gastos do país) para amortizar essa dívida.
Por outro lado, ser “amiguinho” do fundo traz, segundo os governos, calma ao mercado financeiro, credibilidade para os credores e grana para o país (que não é gasta nas áreas que mais precisamos, mas isso é assunto pra outra ocasião). O que é mentira: o país continua vulnerável, só atrai capital externo de curto prazo e por causa dos altos juros e o risco-país permanece alto. Essa cridibilidade alegada simplesmente não existe.
Portanto, com uma dívida cavalar (tão cavalar que só pagamos parte dos juros dela) o jeito é sentar numa mesa e conversar com os credores. O governo do PT, no entanto, seria o último a ter alguma credibilidade para refazer essa negociação, tanto que nunca se propuseram a fazer isso. Portanto, são mais quatro anos jogados no lixo, mais quatro anos de dinheiro economizado pra pagar esses juros. Perdemos uma oportunidade histórica porque nosso superávit nunca foi tão alto (o que seria um argumento muito bom para flexibilizar as regras do Fundo).
E justiça seja feita: o único candidato que defendeu abertamente e seriamente a renegociação foi o hoje ministro Ciro Gomes; e a imprensa inteira dava “piti” quando o então candidato falava a respeito em 2002. É uma pena que o assunto seja tratado de modo leviano até hoje.
Além de Ciro, outra figura republicana a reclamar da dívida foi (de novo) José Sarney, em entrevista à “Folha de S.Paulo” em dezembro passado. Mas o mercado logo reclamou e o dólar explodiu no dia seguinte.
Enquanto ninguém reclamar pra valer dessa relação dominado-dominador, esquece: vamos continuar empurrando a economia com a barriga, como está fazendo direitinho o governo do PT. Mudança? Que venha 2006.


O PREÇO DA MENTIRA
Em Recife ninguém acredita que a candidatura de Raul Jungmann (PPS) à Prefeitura seja pra valer. Pudera. Em 2002, o então ministro da Reforma Agrária lançou candidatura pelo PMDB à presidência. A fatura da mentira chega agora.

O PREÇO DA AMIZADE
Tudo bem que nada foi provado diretamente sobre Dirceu (caso Waldomiro)e Humberto Costa (saúde). Mas fosse em outro governo ou em qualquer empresa séria, eles já teriam ido embora faz tempo. Bom, a Bené demorou mas foi embora.

O PREÇO DO APOIO
Programa “partidário” do PRTB na semana passada (sim, o PRTB de Levy Fidelix e seu trem supersônico) apoiou o programa de transportes implementado pela prefeita Marta Suplicy...

O PREÇO DA IGNORÂNCIA
Na semana seguinte ao escândalo da corrupção envolvendo os hemoderivados, convulsão nos grandes hospitais de São Paulo: baixou para 40% o número de doadores de sangue.

O PREÇO DO IDEALISMO
O PSol (Partido do Socialismo e da Liberdade), de Heloisa Helena, já nasce com os dias contados. É que se nada for alterado, em 2006 entra em vigor a cláusula de barreira, conforme a Lei nº 9.096 (de 19 de setembro de 95). Ela estabelece que só os partidos que obtiverem, nacionalmente, pelo menos 5% dos votos válidos nas eleições para a Câmara dos Deputados terão direito ao funcionamento parlamentar (leia-se: tempo de TV, dinheiro do fundo partidário, cargos em assessorias no Congresso, entre outros).


PESQUISA DA SEMANA: por que o Senado é tão conservador?
( ) Porque está cheio de caciques ex-governadores
( ) Porque PMDB e PFL são as maiores bancadas (parece que voltamos no tempo com MDB e Arena)
( ) Porque o Sarney Comanda a Casa
( ) Porque cada Estado da federação tem direito ao mesmo número de cadeiras, o que só faz aumentar o número de coronéis do Norte e Nordeste
( ) Porque a faixa etária lá é muito alta
( ) Todas acima estão corretíssimas

8.6.04

Coerência e outras notas

Virgilio Abranches

O deputado federal mineiro Lael Varella, apesar de ser do PFL, merece um destaque positivo. Votou a favor da medida provisória do governo para o salário mínimo. O mérito não está no conteúdo da MP, mas sim na atitude coerente do parlamentar: ‘Eu sou deputado de cinco mandatos no PFL, e o partido sempre defendeu salário mínimo baixo porque não tinha de onde tirar. Não vou fazer demagogia agora com o dinheiro do povo‘. Assim como o PT, o PFL tem lá seus radicais.

OBRA OFICIAL
Lula deve andar escrevendo horóscopos. Pelo menos as recomendações para os capricornianos no site Terra é a cara dos discursos do presidente: “Dia de fincar pilastras, fazer fundamentos. Nada de feitos grandiosos, mas bases sólidas, bem à moda capricorniana. Fique tranqüilo, planejando, limpando o terreno e tirando o entulho de construções antigas que não servem mais para nada e as ervas daninhas que roubam a força da terra. Em breve você estará colhendo novos frutos”. Versão mais provável: qualquer um, até quem escreve horóscopos, conseguiria escrever os discursos petistas. Te cuida, Gushiken!

AU REVOIR
Só um administrador público bastante enjoado como Marta Suplicy seria capaz de dar uma entrevista em francês, sem tradutor, a jornalistas brasileiros. Talvez o senador Suplicy tenha levado a pouca humildade da prefeita _ao lado da medida do bonfim e do disco do Pixinguinha_ em sua mala da separação. Na hora H, vai fazer falta.

O SENHOR É MEU PASTOR
De Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, ao responder às acusações de que o governo não anda: “Aqueles que dizem que há imobilismo na área social não estão seguindo o preceito bíblico do respeito à verdade”. Ou seja, ateus, mintam!

NO DOS OUTROS É REFRESCO
O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) resolveu sair atacando o número de medidas provisórias pelo presidente da República (não citou Lula nominalmente). E vejam a pérola: “Tanto se criticaram os governos militares, responsabilizando-os pela edição de um número sem conta de decretos-leis! Jamais os justifiquei nem justifico, mas entendia que um governo de exceção visse nos decretos-leis um instrumento mais eficaz que as leis para as condições excepcionais da época”. Condição excepcional é um fraudador de painéis eletrônicos e grampeador de telefones alheios ainda ocupar vaga de parlamentar.

MISS SÃO PAULO

Para José Serra ganhar uma votação, nem que seja para miss, só falta agora ficar bonito. Porque simpático já ficou. De repente. Foi só sair candidato a prefeito de São Paulo. Andou até abraçando jornalistas. Incrível, não?

7.6.04

Novo Velho PT

Caio Junqueira

O mais novo partido político brasileiro foi lançado ontem, em Brasília. Encabeçado pela senadora Heloísa Helena (AL) e pelos deputados João Fontes (SE), Babá (PA) e Lusitana Genro (RS) _expulsos do PT no ano passado por votarem contra as reformas constitucionais, o abrigo dos excluídos tem o cafonérrimo nome de PSOL (Partido do Socialismo e da Liberdade) e, claro, abarca com o nome esquisito o sugestivo símbolo que o nome oferece: um sol.
A escolha do nome seguiu a história da esquerda brasileira: desorganizada, muito sonora e pouco executiva. Até a semana passada, ele ainda não havia sido escolhido, depois de meses de conversas. O escrutínio final foi entre PS (Partido Socialista e PSOL). Porém, como, infelizmente, os nomes dos partidos não correspondem a suas condutas, a nomenclatura é irrelevante.
O partido nasce ideologicamente forte. Agrega antigas bandeiras petistas, como a ruptura ao FMI, o calote da dívida externa e ampla reforma agrária. Um ponto a favor é a união dos ex-integrantes petistas que, revoltados com a guinada à direita do partido, votaram, no primeiro ano do sonho presidencial dos Trabalhadores, em favor desses e contra o partido que leva o seu nome. Brasileiro gosta de gente batalhadora, que sofre, grita e luta contra o alto comando, esteja ele em qualquer lugar, seja ele de qualquer natureza. Mostra determinação e postura.
Sendo uma das poucas vozes da esquerda tradicional, a tendência é que o partido engrene como o pólo dissonante em um momento em que o cenário político brasileiro carece de opções. Não é de hoje que sobrevaloriza-se o Capital sobre o Humano, o possuir sobre o sentir. Esse foi o tom da história brasileira e mundial, salvo uma ou outra exceção, hoje já em processos de desmantelamento. A falta de reflexão sobre caminhos alternativos para o país gera a ilusão de que o rumo escolhido nos anos é o sistema ideal. Isso é agravado em um país como o Brasil, onde os modelos até hoje adotados foram importados e deram certo sim, só que para poucos, que hoje temem qualquer ruído de possibilidade de virada na estrada.
O PSOL surge no cenário político brasileiro como a voz dissonante. Tentará passar que combater o que foi imposto é possível. Algo que o PT, em 1980, fez e defendeu em toda a sua trajetória pré-2003. O começo será difícil. O próprio PT demorou anos para se consolidar. Há pouco mais de dez anos, sua bancada na Câmara era de pouco mais de dez deputados. Hoje são 91. Eleitos com o mesmo programa adotado pelo PSOL. Caberá às lideranças do novo partido cuidarem politicamente dele, de modo que não caia na mesmice da esquerda brasileira e se satisfaça apenas com o combate cego, sem planejamento e estratégia.
Nesta semana começa a primeira batalha do partido. Uma peregrinação jurídica rumo à campanha presidencial de 2006, que tentará levar Heloisa Helena à disputa pelo Planalto. Até setembro de 2005, serão necessários pelo menos 438 mil assinaturas. A minha, tenham certeza, estará lá. Com a esperança de que o PSOL de hoje não seja o PT de amanhã.

COINCIDÊNCIA OU EVIDÊNCIA?

O PL já cogita lançar o presidente da CPI da Pirataria, deputado Luiz Antonio de Medeiros (SP), candidato à Prefeitura de São Paulo. É muita, muita coincidência. O trabalho da CPI foi prorrogado por quatro vezes. A última vez, em dezembro do ano passado.
Tudo bem que a Operação Anaconda acabou por respingar na apuração dos deputados da comissão, mas, ainda assim, é difícil não vincular os acontecimentos finais da CPI _a leitura do relatório e a Operação Gatinho (em que Medeiros sofreu tenativa de suborno pelo "rei da pirataria", o sino-brasileiro Law Chong) com o mês de junho, quando, pela legislação eleitoral, é o mês em que são definidos os nomes dos candidatos às eleições.
Mas sejamos imparciais e neutros, como reza o bom jornalismo. Foi coincidência mesmo, além de um pouco de sorte de Medeiros. E ponto final.

LÁGRIMAS NO ORIENTE MÉDIO
Saddam deve estar triste. Um dos seus maiores colaboradores, o ex-presidente americano Ronald Reagan, morreu no último sábado. Reagan ajudou Saddam a montar um poderoso exército para liquidar o Irã. Ambos os países travaram um conflito violentíssimo entre 1980 e 1988. Os EUA queriam desestabilizar o aiatolá Ruhollah Khomeini, que depôs, durante a Revolução Islâmica do Irã em 1979, o governo iraniano apoiado pelos ianques.

Reagan também foi um bom presidente para terroristas. Em troca da libertação de reféns americanos ele vendeu, secretamente, armas ao Irã (que estava sob embargo comercial dos EUA), que foram repassadas aos “contras”, nicaragüenses anti-sandinistas.

FARINHA DO MESMO SACO
Marta Suplicy rendeu-se à tentação das alianças políticas com gente “diferente” do PT. Seu (ex) secretário de governo Ruy Falcão, que até a semana passada formaria a chapa puro-sangue petista nas eleições paulistanas, pode passar a coordenar a campanha da loira, o que deixa a vaga de vice aberta a galanteios de outrem, principalmente do PMDB. A convenção oficial do PT está agendada para o dia 26. Com o partido de Quércia, Marta passa a ter mais 5 min e 27 s de propaganda na TV. A tática da prefeita é oferecer cargos na administração municipal ao PMDB.

PALÁCIO DE ACARI
A Folha de domingo fez uma boa reportagem com o pastor Marcos Pereira da Silva, presidente da Assembléia de Deus dos Últimos Dias. Influente na alta bandidagem carioca (não, não falo aqui dos políticos), ele interveio na rebelião na casa de custódia e esfregou na cara dos Garotin que a sede do Estado paralelo no Rio é o palácio da Guanabara.

WE THE BEST
Os jornais "Estado de Minas" e "Correio Braziliense" furaram no domingo, 18 de abril, todos os jornalões do país, ao trazerem informações sobre a Operação Vampiro. Todo mundo ignorou. É a arrogância do eixo Rio-SP a desserviço da nação.

SERÁ?
Aliás, apesar da entrevista bacana, a foto da reportagem revela o preconceito que a mídia tem contra pastores de religiões dipóbri. Em vez de mostrar uma fotografia do rosto do pastor, ou, sentado, ou de uma maneira serena, a fotografia utilizada foi do religioso em pé, no altar, com uma cara “endemoniada” fazendo gestos com as mãos, muito diferente do que o jornal faz na “entrevista da segunda”, por exemplo. Será que se a reportagem fosse com um judeu exaltado a foto seria da mesma forma?

FAMÍLIA VERMELHA
Jilmar Tatto, o novo secretário de governo de Marta, assumiu sua quarta pasta neste governo. Já passou pelas secretarias do Abastecimento, Subprefeituras e Transportes. Ele é irmão do presidente da Câmara Municipal, Arselino Tatto (PT).
Além dos dois, os Tatto ocupam outros cargos importantes no PT. Dos dez irmãos, nove são filiados à sigla. Um deles, Ênio, é deputado estadual. Leonide é tesoureiro do PT no município. Deviam mudar o sobrenome para PTatto.