11.11.10

Empresas pulverizam doações a parlamentares
Caio Junqueira, De Brasília, Valor Econômico, 10/11/2010


Os “partidos” das siderúrgicas, dos bancos, das empreiteiras, da indústria alimentícia, das usinas, das montadoras e das varejistas, entre outros ramos empresariais, estarão tão presentes no Congresso Nacional, a partir de 2011, quanto os vinte e dois partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que conquistaram cadeiras na Câmara e no Senado.

Por meio de um cruzamento entre as 250 maiores empresas do país e bancos com maior ativo, com as pessoas jurídicas que mais fizeram doações nas eleições passadas e as prestações de contas das eleições deste ano, o Valor elencou trinta companhias que “garantiram” assento no Legislativo com números semelhantes aqueles obtidos pelos maiores partidos políticos do país. Os dados de cada empresa foram submetidos às suas respectivas assessorias.

Na lista estão representados praticamente todos os setores da diversificada economia brasileira, o que revela que o Congresso, ao contrário do senso comum, não é apenas financiado por bancos e empreiteiras. Das 30 empresas que financiaram o maior número de eleitos, aparecem três usinas de açúcar e álcool, duas de alimentos, duas de bebidas e fumo, duas ligadas ao comércio atacadista ou varejista, oito empreiteiras, dois bancos, uma empresa de energia elétrica, quatro siderúrgicas, duas de papel e celulose, uma de serviços especializados, duas de veículos e peças e uma de material de construção. Todas bem colocadas em qualquer ranking dos setores que representam.
A começar pela própria empresa que a encabeça, a Gerdau, o maior grupo siderúrgico do país. Com doações que somam R$ 5,75 milhões a empresa consegui “fazer” 86 parlamentares, sendo 73 deputados e 13 senadores.

A lista também mostra que a relação custo-benefício é positivo se comparado o valor doado por candidato eleito que tende, em tese, a defender os interesses do setor. Além da Gerdau, que só na área de aços longos teve receita líquida de R$ 7,2 bilhões em 2009, isso pode ser observado também nas demais companhias.

A que ocupa a segunda posição no ranking, grupo Itaú Unibanco, com ativo total de R$ 608,2 bilhões, doou R$ 5,1 milhões para 48 deputados e 13 senadores eleitos, obtendo um total de 61 parlamentares nas duas Casas. Em terceiro aparece a Camargo Corrêa, responsável por uma receita líquida em 2009 na ordem dos R$ 4,9 bilhões e que, ao doar R$ 1,725 milhão para 41 deputados e 13 senadores eleitos, fez a terceira maior “bancada” do Congresso.

Além de não ter muito peso sobre seus faturamentos, o dispêndio efetuado com as campanhas pode garantir um retorno compensador, na medida que possibilita a interlocução com parlamentares sobre a tramitação de projetos ligados ao setor.
Isso explica porque também há semelhança entre os escolhidos por empresas ligadas ao mesmo grupo. O setor sucroalcoleiro, por exemplo, costuma doar a parlamentares com atuação na bancada ruralista. Quando há interesse ou preocupação sobre o andamento de um projeto, mais de uma empresa aciona o parlamentar, o que pode vir a aumentar seu empenho por eventuais alterações. Empreiteiras, por sua vez, costumam doar a deputados e senadores ligados ao governo, que tem, assim, maior força para atuar na liberação de verbas de obras públicas. A Camargo Corrêa, por exemplo, ajudou a eleger 18 parlamentares do PT, contra 7 do PSDB e oito do DEM. O setor financeiro, insatisfeito com a crescentes tentativa de regulação tanto por parte do governo quanto de parlamentares da base, doou mais para oposicionistas do que para governistas. O Itaú Unibanco, seu maior representante, doou para 25 deputados e senadores eleitos pelo PSDB e DEM, enquanto contribuiu para eleger 15 parlamentares dos dois principais partidos da aliança do governo, PT e PMDB.

O setor de mineração, com grande interesse nas discussões sobre o novo Código de Mineração que irá permear a próxima legislatura, pulverizou suas contribuições, com leve preferência pelos governistas. Exemplo disso é a Gerdau, que contribuiu para 16 petistas, doze tucanos, doze integrantes do PP, onze pemedebistas e dez integrantes do DEM. O setor, porém, contou com o desfalque da Vale, que em 2006 ajudou a eleger 46 congressistas. Neste ano, nem ela nem suas subsidiárias aparecem nas doações registradas no TSE, assim como outras empresas líderes em seus setores. Uma possibilidade é que tenham optado por doar aos partidos que, por sua vez, repassaram o valor aos candidatos. Por esse meio, chamado de “doação oculta”, o destinatário da doação não aparece, apenas o montante doado ao partido quando esse prestar suas contas anuais, em abril do próximo ano. Procurada, a Vale não quis se manifestar sobre o assunto.

De um modo geral, as empresas alegam que as doações são importantes para que possam contribuir para o processo democrático brasileiro (veja reportagem nesta página), embora, reservadamente, declarem sua intenção de abrir canais de contato com parlamentares sobre projetos de lei que tramitam na Casa e afetam seus setores. “No Congresso nasce uma quantidade de projetos sem análise técnica aprofundada, mais atendendo a um clamor popular que acabam tramitando e abarrotando o processo legislativo”, afirma um alto executivo de uma dessas empresas, que teve participação direta na definição dos beneficiários de suas doações.

Sem querer se identificar, ele afirma que o interesse das empresas é de participar não só do debate desses projetos para aperfeiçoá-los, como também de outros projetos que interessam ao país. Cita o que cria o Cadastro Positivo, que, segundo ele, une os setores produtivo, financeiro e agrícola, assim como muitos outros projetos (ver quadro nesta página). No entanto, a essa “agenda positiva” que une os setores, há o contraponto de uma “agenda negativa”, mais específica e que prejudica mais determinados setores isoladamente.

As maiores "bancadas" (soma de senadores e deputados eleitos):

Gerdau - 86
Itaú Unibanco - 61
Camargo Corrêa - 54
BMG - 54
Frateli Vita Bebidas - 51
JBS - 47
Votorantim - 46
Cosan - 30
Usiminas - 30
Galvão Engenharia - 27
CBBM - 23
Suzano - 23
Klabin - 23
Tractebel - 22
Embraer - 21
Marcopolo - 20
Alusa - 19
Carioca Engenharia - 19
UTC Engenharia - 18
Bunge - 18
Schincariol - 18
Usina Coruripe - 17
Engevix - 17
Zaffari & Bourbon - 17
Usina Caete - 16
BMF/Bovespa - 14
V&M do Brasil - 13
OAS - 11
Mendes Júnior - 11
Copersucar - 11














PMDB defende bancada como critério para ministérios
Caio Junqueira, De Brasília, Valor Econômico, 04/11/2010

Antes da definição de nomes e cargos, o PMDB pretende acertar com o PT que o principal critério para definir a participação dos partidos no futuro governo Dilma Rousseff seja o da representação de cada legenda no Congresso Nacional. Com isso, sua intenção é desbancar o apetite de outros partidos, em especial o PSB, definido como seu principal adversário na composição da equipe.

Considerado um dos grandes vitoriosos nas urnas, o PSB, todavia, trabalha na contramão: deseja que o critério seja o número de eleitores governados pelo partido. Uma forma, aliás, de valorizar o seu patrimônio obtido nas urnas em outubro. O partido dobrou o número de governadores: foi dos atuais três (Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte) para seis (Amapá, Ceará, Espírito Santo,Paraíba, Pernambuco e Piauí). No entanto, seu desempenho no Legislativo foi aquém do esperado: saltou de 27 para 34 deputados. Menos da metade do PMDB, que elegeu 79 deputados, mas mais do que os cinco governadores pemedebistas eleitos (Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Maranhão). No Senado, o PSB saltou de duas para quatro cadeiras e o PMDB foi de 17 para 19.

Uma vez acertado esse parâmetro, os pemedebistas avaliam que o critério de distribuição de espaços não deva ter grandes alterações em relação ao segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando a sigla esteve formalmente coligada com o governo. Por essa razão, imaginam uma participação semelhante à atual, com seis ministérios (Agricultura, Comunicações, Defesa, Integração Nacional, Minas e Energia e Saúde), embora admitam a possibilidade de troca de Pastas, desde que à altura do que foi trocado.

O certo é que não querem entrar em atrito com o partido da presidente eleita, tampouco deixar passar à população a imagem de fisiologismo à qual costumam ser associados. O alvo, no caso, é outro. Por essa razão, o PMDB decidiu ontem que apenas seu presidente, o deputado Michel Temer (SP), tem autoridade para falar em nome do partido durante o período de transição entre os governos petistas de Lula e Dilma.

Eleito vice-presidente, Temer teve encontros com a cúpula do partido e tomou a decisão para evitar o que avaliou ser "retratos diferentes" do que tem sido a relação entre os dois partidos após a eleição e o que foi noticiado desde domingo. Basicamente, de que seus dirigentes estão ávidos por cargos e pressionando o PT nesse sentido.

Reconhece, porém, que o noticiário negativo foi uma decorrência de declarações de pemedebitas sobre a ausência de integrantes da sigla na primeira reunião de Dilma com seus auxiliares petistas mais próximos para tratar da transição.

O primeiro a polemizar foi o deputado Eduardo Cunha (RJ), que disse: "Eles não vão governar sozinhos, vão governar com todo mundo". O segundo foi o também deputado Henrique Eduardo Alves (RN), que declarou que "o PMDB não cederá um milímetro nos seus direitos nem ousará faltar um milímetro nos seus deveres" e que "essa é a síntese do partido". A avaliação é de que as declarações prejudicaram a estratégia do partido de tirar de si a pecha de fisiológico.

"O noticiário logo depois das eleições não tem retratado as reais tratativas entre o PMDB e o PT. E com uma certa razão em virtude das declarações que tem permitido passar à opinião pública a idéia de que o PMDB está jogando duro e com a faca no pesoço, fazendo exigências descabidas. Isso não tem havido. O PMDB não vai praticar o jogo fisiológico", afirmou ontem Moreira Franco, um dos principais representantes do partido.

Outra definição que o partido fez foi a de que só Temer negociará com Dilma o papel da legenda na transição e no futuro governo: "Qualquer outra palavra do PMDB nessa transição que não seja a do Temer, não corresponde à realidade dos fatos", disse Moreira.

A primeira conversa entre Dilma e Temer foi na manhã de ontem, mas sem qualquer menção a cargos. "Não vamos nem tocar nesse assunto agora. Toda vez que se toca nesse assunto se tem a impressão de que o PMDB quer status. Falo aqui mais como vice-presidente, portanto como membro do governo, do que como presidente do PMDB", disse Temer.

Anteontem à noite, o encontro foi entre Temer e o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Nele ficou definido que haverá um rodízio entre os dois partidos no comando da presidência da Câmara dos Deputados, assim como ocorreu no segundo mandato do governo Lula. Quem ocupa o cargo primeiro, porém, fica para o começo do próximo ano. "A única coisa que dissemos é que iremos firmar um rodízio. Eu vou ouvir o PMDB, o Dutra vai ouvir o PT, mas [haverá] um documento em que se afirme que haverá um rodízio. Quem ocupará o primeiro ou o segundo biênio é coisa que vamos deixar lá para janeiro", afirmou ontem Temer.

Uma próxima conversa entre Temer e Dilma deve ocorrer no domingo, quando ela retorna de uma viagem de descanso.















Histórico de abstenção valida temores de PT e PSDB
Caio Junqueira, De Brasília, Valor Econômico, 27/10/2010



Os temores das coordenações da campanhas de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) sobre as taxas de abstenção no segundo turno das eleições deste domingo encontram respaldo, no caso da petista, nas eleições presidenciais passadas, e para o tucano, nas únicas eleições em que houve feriado prolongado de Finados.

Desde a primeira disputa presidencial da redemocratização, em 1989, as taxas de abstenção em segundo turno de todas eleições decorrem de um conjunto de fatores que costumam se repetir a cada quatro anos. São elas as condições sócio-econômicas do eleitor (quanto menor, maior a abstenção), a extensão territorial (quanto maior o Estado, maior a abstenção), a densidade eleitoral (quanto maior, maior a abstenção) e a taxa de urbanização (quanto maior, menor a abstenção).


Foi com base nesses índices que o professor Homero de Oliveira Costa, da Universidade Federal de Rondônia, defendeu sua tese de doutorado na PUC-SP, intitulada "Alienação eleitoral no Brasil: uma análise dos votos brancos, nulos e abstenções nas eleições presidenciais (l989-2002)". Agregou a esses indicadores, a cada ano, outras variáveis, como a polarização e o acirramento de uma eleição. Em termos gerais, porém, cravou: "Os fatores se repetem neste ano".

Por meio de seu estudo, é possível verificar que em todas as eleições até 2010, as maiores taxas de abstenção aconteceram na região Norte, onde a taxa de urbanização é baixa (30% da população vive na zona rural) e localizam-se os dois maiores Estados do país (Amazonas e Pará). A essa combinação, deve ser acrescentada a dificuldade maior de locomoção do eleitor, devido à presença da floresta amazônica, ao grande número de rios existentes e ao baixo índice de pavimentação das estradas.

Nas duas últimas eleições presidenciais, em 2002 e em 2006, foi na região que se confirmaram as mais altas taxas de abstenção entre o primeiro e o segundo turno. Em se confirmando essa condição mais uma vez neste ano, quem deve perder mais votos ali deve ser Dilma, que no primeiro turno obteve 43,1% dos votos válidos na região, contra 34,5% de Serra.

As perdas de Dilma seriam aumentadas com a abstenção no Nordeste, onde as segundas maiores taxas de abstenção costumam ocorrer desde 1998 e onde melhor se visualiza a relação entre abstenção e condições sócio-econômicas do eleitor. Dos Estados com menor IDH do país -Acre, Alagoas, Bahia, Maranhão, Paraíba, Piauí e Sergipe- cinco se encontram na região e, juntos, foram responsáveis pela maior taxa de abstenção em 2002 e 2006 quando se utiliza o critério da ONU para medir riqueza, educação e expectativa de vida.

O mesmo vale quando o indicador é o Índice de Exclusão Social (IES), criado em 2002 para uma avaliação dos municípios brasileiros. Na prática, ele amplia a abrangência do IDH: mede a pobreza, emprego, desigualdade de renda, alfabetização, anos de estudo, homicídios e porcentagem de jovens na população. Os cinco Estados com menor IES são todos do Nordeste -Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe- e apresentaram as maiores taxas de abstenção neste ano. Na região, a petista bateu o tucano, no primeiro turno, por 58,69% a 24,67% dos votos válidos, a maior margem de diferença entre as cinco regiões do país.

No entanto, o ineditismo da ocorrência de um segundo turno em uma disputa presidencial durante um feriado prolongado pode equilibrar essa situação, se considerada a eleição de 2004, quando, assim como neste ano, o segundo turno das eleições municipais se deu em meio ao feriado de Finados. Naquele ano, Serra disputou a Prefeitura de São Paulo contra Marta Suplicy (PT) e ao levar a então prefeita ao segundo turno, , tal qual agora, sua campanha passou a propagandear a necessidade que seus eleitores não viajassem. No município, todavia, a abstenção subiu de 14,95% para 17,55% e não foi obstáculo para que ele vencesse.

Ocorre que, nos 44 municípios em que houve segundo turno no país em 2004 (22,59% do eleitorado), os critérios que embasaram a pesquisa de Costa apresentam um efeito diferente quando se olha para a variação da abstenção entre o primeiro e segundo turnos. São os eleitores do Sul do país, em que o tucano venceu Dilma no primeiro turno, que mais desistiram de votar quando a eleição não foi decidida em primeiro turno. As gaúchas Caxias do Sul, Pelotas e Porto Alegre, Florianópolis, as paranaenses Curitiba, Londrina, Maringá e Ponta Grossa, e a catarinense Florianópolis aumentaram a abstenção em 43,4%. No Centro-Oeste, onde Serra também venceu Dilma por 39,8% a 38,73%, a abstenção no segundo turno teve a segunda maior variação em 2004, com 29,9%. Aplicados nestas eleições municipais, os critérios de renda utilizados por Costa revelam que foram os eleitores dos locais mais instruídos e ricos que aumentaram a abstenção.

"É um receio fundamentado e legítimo dos candidatos em função do histórico das eleições", afirma Costa, que avalia que a preocupação maior deve ser do tucano pelo fato de ele estar atrás nas pesquisas. "É ele quem precisa de votos para vencer e convencer os indecisos e os eleitores da Marina Silva a participarem do processo e votar nele", diz.














Com 15 deputados, bancada do PCdoB fica aquém da planejada
Caio Junqueira, Valor Econômico, De Brasília, 25/10/2010

O partido com maior grau de fidelidade parlamentar ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu refletir essa condição nas urnas. Com 15 eleitos, dois a mais do que em 2006, o PCdoB teve cinco deputados a menos do que o planejado e foi uma das legendas da base governista que menos cresceram nesta eleição.

"A força da concorrência foi muito grande nos Estados", afirma o deputado Aldo Rebelo (SP), o mais experiente da bancada. Com 132.109 votos, ele mesmo viu sua votação diminuir neste ano. O parlamentar não acredita que isso tenha sido consequência da campanha feita por algumas ONGs ambientalistas contra a posição assumida por ele na relatoria do projeto de alteração do Código Florestal. "Não foi por conta disso. Mantive o mesmo padrão de voto de eleições anteriores. Meu eleitor continua sendo o dos grandes centros urbanos", diz ele, para depois repetir: "A concorrência é que foi forte."

Em São Paulo, a meta de dois deputados foi atingida, com a eleição, além de Rebelo, do delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, beneficiado por sua exposição nos últimos dois anos após deflagrar a Operação Satiagraha e iniciar um discurso nacional de combate à corrupção. Mesmo assim, Protógenes foi puxado, na coligação, pela votação de Tiririca.

Da bancada eleita, Protógenes é o único que foge aos dois perfis comuns no partido: o dos líderes estudantis, principalmente da União Nacional dos Estudantes, entidade controlada pelo PCdoB desde 1991, e dos sindicalistas. Do movimento estudantil, vieram Alice Portugal (BA), Jandira Feghali (RJ), Jô Moraes (MG), Luciana Santos (PE), Manuela Dávila (RS), Osmar Júnior (PI), e o próprio Aldo Rebelo.

Integra a facção sindical o soldador Assis Melo, vereador por Caxias do Sul (RS), presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da cidade. Ao contrário da maioria de seus futuros correligionários da Câmara, não tem curso superior. Concluiu o ensino médio há poucos anos. Outro integrante é o deputado estadual Edson Pimenta (BA), que presidiu a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-BA) durante oito anos.

A maior expressão dentre os "sindicalistas-comunistas", porém, é Daniel Almeida, que caminha para seu terceiro mandato na Câmara, depois de ter sido vereador em Salvador por 16 anos. Ex-presidente do Sinditêxtil e da CUT Metropolitana de Salvador, ele avalia que a bancada mantém o padrão das anteriores. "Sempre tivemos laços muito fortes com os movimentos sociais, seja sindical ou estudantil", afirma Almeida.

Ele diz ainda que, apesar dessa característica, as bancadas da legenda atuam além de temas relacionados às suas bases. "Não há uma visão corporativa. No exercício do mandato procuramos manter os laços com os movimentos sociais mas também tomamos a frente de projetos de grande relevância nacional", diz.















Garotinho sacode governismo do PR, que ficará 64% maior
Caio Junqueira, Valor Econômico, De Brasília, 22/10/2010


A tranquilidade que imperava entre os empresários, religiosos e empresários-religiosos da bancada do PR na Câmara deve ser alterada com a chegada do deputado eleito Anthony Garotinho, ex-governador do Rio. Arquirrival dos dois principais aliados do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Estado -o governador reeleito Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes- ele promete chegar não só para atacá-los, mas também para levantar questões caras ao atual governo federal, como a redistribuição dos royalties do petróleo.

Segundo deputado mais votado do país em números absolutos - teve 694.862 votos - Garotinho trouxe consigo mais seis deputados, fazendo a bancada fluminense saltar de uma para oito cadeiras. Será, a partir de 2011, a maior do partido, que hoje concentra sua força em Minas (tem seis deputados e elegeu mais um) e São Paulo (passou de dois para quatro).

Em geral, o perfil do PR tenderá a ser parecido com o atual, com parlamentares empresários e outros com forte atuação religiosa, tanto evangélica quanto católica, o que faz da sigla um guardião na defesa de valores ligados à propriedade e à família. São, por exemplo, contrários à reforma agrária, à união civil de homossexuais e ao aborto.

Na nova bancada, que aumentou de 25 para 41 deputados, vieram muito mais religiosos do que empresários, a despeito de o mais conhecido deles não ser nem um, nem outro. É o palhaço Tiririca (SP), o mais votado do país em números absolutos. As principais lideranças, porém, devem, além de Garotinho, continuar sendo o empresário Sandro Mabel (GO), o ex-presidente da Câmara Inocêncio Oliveira (PE) e Valdemar Costa Neto (SP), que liderava a legenda quando ainda se chamava PL e se envolveu no mensalão. Os três foram reeleitos.

Fundado após as eleições de 2006, a partir da junção dos antigos PL e Prona, nasceu sob o estigma do lulismo, conforme escreveu àquela época seu primeiro presidente, Sérgio Tamer: "Quando disse para uma repórter que continuaria compondo a base do governo Lula e que os desafios da sua nova gestão seriam os desafios do PR -não poderia imaginar que haveria tantos pontos convergentes nas políticas a serem desencadeadas e no manifesto de nossa nova agremiação política".

No entanto, Garotinho, filiado ao partido desde 2009, após passagens pelo PDT, PSB e PMDB, deve colocar em xeque alguns desses posicionamentos, em especial o que se refere à redistribuição dos royalties. No seu blog, comenta o assunto: "O silêncio de Dilma é mais inexplicável do que o de Serra. Porque no caso do ex-governador, seu Estado também será prejudicado, então, até é óbvio, ele não apoiaria tal medida. Mas e Dilma? O que ela tem a dizer sobre esse assunto que é de fundamental importância para o povo do Rio? Em recente entrevista ela disse que as regras novas passaram pelo seu crivo, ou seja, em outras palavras ela está dizendo que foi a Casa Civil que ajudou a elaborar as leis que podem levar o nosso Estado à falência".

No sábado, ele abordou outros assuntos ao criticar a "neutralidade temporária adotada pelo PR-RJ" ao não obrigar ambos a assinar carta de compromissos com a legenda. "Como o partido pode dar apoio a candidatos que se recusam a garantir que os royalties do petróleo continuarão sendo pagos ao nosso Estado e aos municípios pelos critérios atuais? Como o partido pode apoiar um dos dois, se eles não querem assumir o compromisso de levar adiante a PEC-300, que é fundamental para a segurança e para melhorar o salário de policiais e bombeiros? Nenhum dos dois também afirma claramente se vai rever os pontos do PNDH–3 que são contrários à maioria do povo ", escreveu.

O ataque a aliados de Lula é frequente. Sobre as entidades estudantis, em sua maioria aliada do presidente desde a posse em 2003, escreveu: "Por onde andam entidades como a UNE, UBES, AMES e UEE? A última grande manifestação que promoveram foi no ano passado, em solidariedade ao presidente Lula".

Mas é para a dupla Cabral e Paes que partem os ataques mais fortes. Com títulos como "O teatro de Sérgio Cabral no 2º turno", "A podridão na Secretaria de Segurança e a blindagem da imprensa", "O genocídio de Cabral" e "Eduardo Paes patrocina filme de Bruna Surfistinha", Garotinho faz contantes críticas a ambos. Ontem, o Valor procurou Garotinho, mas sua assessoria descartou qualquer possibilidade de entrevista com o deputado eleito.














PTB cresce no Nordeste ancorado no lulismo
Caio Junqueira, Valor Econômico, De Brasília, 19/10/2010


Consequência da adesão parlamentar ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as eleições deste ano consolidaram a força do Partido Trabalhista Brasileiro no Nordeste do país em detrimento do Sul e Sudeste, onde historicamente se concentram suas lideranças e o comando da legenda.

Em 2011, a bancada nordestina terá quase a metade do total de 21 eleitos que as urnas garantiram ao partido. Serão nove representantes da região, dois a mais que em 2006 e três a mais do que em 2002, quando Lula foi eleito pela primeira vez. Em contrapartida, o Sul e o Sudeste caíram nestes oito anos de 15 para oito representantes na bancada.

A opção pelo lulismo é o grande responsável por essa migração da força da bancada. Não à toa, o Estado que despontou na sigla nesses anos foi Pernambuco, o mesmo em que o presidente nasceu e de onde pinçou o então deputado José Múcio (PTB) para seu ministério e depois para o Tribunal de Contas da União. Sem nenhum eleito em 2002, o Estado fez três cadeiras em 2006 e três em 2010, além de um senador, Armando Monteiro Neto.

Ex-integrante do PSDB e ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Monteiro Neto conseguiu deixar na Câmara a vaga que conquistou há quatro anos para um "herdeiro", o também empresário Jorge Corte Real, presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe). "Em Pernambuco éramos um partido inexpressivo e hoje somos a segunda maior bancada estadual e a terceira federal. Passamos a ter peso", afirma Corte Real.

Em Alagoas, o senador neolulista Fernando Collor (PTB) conseguiu eleger dois deputados aliados, a popular Célia Rocha, ex-prefeita da segunda maior cidade do Estado, Arapiraca, e segunda deputada mais votada em Alagoas. Assim como Monteiro Neto, ela também foi filiada ao PSDB alagoano, por onde se elegeu e reelegeu prefeita durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

O que chama a atenção é que o crescimento dessa base parlamentar lulista do PTB não foi suficiente para barrar a direção do partido em apoiar o candidato da oposição a presidente, José Serra (PSDB). Com 60% do partido em mãos, a cúpula divide seu poder de forma praticamente equânime entre três Estados, Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul, cujas lideranças são o presidente e ex-deputado Roberto Jefferson (RJ); o secretário-geral e deputado estadual Campos Machado (SP) e o vice-presidente e senador Sérgio Zambiasi (RS).

A força nesses locais se explica pelo fato de neles estar o desenvolvimento do partido nos anos 80, após a ex-deputada Ivete Vargas, sobrinha do ex-presidente gaúcho Getúlio Vargas, assumir seu comando com o fim do bipartidarismo do regime militar. Dos 13 eleitos em 1982, cinco eram do Rio e oito de São Paulo. Em 1986 foram 17 eleitos, sendo 15 do Sul-Sudeste, e apenas um do Norte e um do Nordeste.

Nos anos 90, o PTB foi aliado nos governos Fernando Collor (1990-1992) e FHC (1995-2002), com quem se coligou para elegê-lo e reelegê-lo. Sempre esteve, portanto, do lado adversário ao PT. Foi nesse meio que as três lideranças que controlam hoje a sigla fizeram política, até a chegada de Lula ao poder, quando Jefferson aderiu ao lulismo e acabou por deflagrar a maior crise do governo petista, o mensalão. O escândalo atingiu o partido nas eleições de 2006, levando-o à queda da bancada de 26 em 2002 para 22 quatro anos depois, sendo que apenas 18 assumiram, uma vez que quatro migraram para outras legendas.

Mas, na avaliação de Jefferson, o que prejudicou o partido nesse período foi a "abertura" que ele e o ex-presidente José Carlos Martinez empreenderam, aceitando, sem muito critério, filiações de parlamentares.

"A política de abrir o partido tirou-o das mãos de velhos dirigentes. Trouxemos pessoas sem identidade conosco, sem história. Houve várias tentativas por parte dessas pessoas de afastar as antigas lideranças", afirma Jefferson. Para ele, agora virá uma nova fase. "Quero apurar o partido e crescer, junto com o que somos. Não me passa pela cabeça mais querer inchar o partido", diz.

Sobre as diferenças entre a cúpula e a base emergente do partido no apoio aos candidatos a presidente neste ano, Jefferson afirma que o que os une nacionalmente são suas duas principais bandeiras: a defesa de que alterações na Consolidação das Leis Trabalhistas só sejam feitas mediante plebiscito e a defesa da previdência solidária. "Não somos um partido ideológico, dogmático. Somos uma federação de interesses regionais que tem uma âncora nacional nessas bandeiras. Nesse sentido, somos muito parecidos com o PMDB. Somos um PMDB menor", diz.

Outro fator de união partidária é a pluralidade profissional de seus deputados, independentemente do local de origem. Há desde empresários, advogados, médicos, engenheiros, dentistas, arquitetos e comerciantes, razão por que classifica seu partido de adepto da "classe média baixa e conservadora". "Não é (partido) do trabalhador grevista e revolucionário. É um trabalhador religioso, de resultados", diz.













Grandes arrecadadores garantem 70% das cadeiras
Caio Junqueira, De Brasília, Valor Econômico, 18/10/2010

Os políticos em campanha eleitoral saem, ao mesmo tempo, à caça dos votos e dos recursos financeiros para custear a caçada. Na Câmara dos Deputados eleita no início do mês para os próximos quatro anos, esse duplo objetivo foi uma realidade bem sucedida para cerca de 70% dos seus 513 futuros integrantes, o que comprova a relação próxima entre dinheiro e voto durante o processo eleitoral.

Foram 358 deputados vitoriosos nas urnas que constam no rol de maiores arrecadadores de campanha em seus Estados, de acordo com a segunda prestação parcial de contas que os candidatos entregaram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um mês antes das eleições.

Por meio delas é possível verificar que em 24 dos 27 Estados mais da metade dos eleitos estão entre os grandes arrecadadores. Em alguns deles, os eleitos quase coincidem com os que mais obtiveram recursos. No Piauí, 9 dos 10 eleitos (90%) estão entre os que mais arrecadaram. Em Pernambuco, 22 dos 25 (88%). No Acre, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul foram 7 dentre os 8 eleitos (87,5%). Em Minas, 42 dos 53 (79,2%) e no Amapá e no Rio Grande do Norte, 6 entre 8 (75%).

Em apenas três Estados menos da metade dos eleitos figuram entre os que mais amealharam dinheiro para a campanha: Mato Grosso, Rondônia e Tocantins, onde três dos oito deputados atingem essa condição (37,5%). Isso mostra não ser possível fazer um recorte regional que relacione custo de campanha e voto. Colégios eleitorais de tamanho parecido, como Piauí e Mato Grosso, estão nos extremos da lista. Os três maiores colégios do país, São Paulo, Minas e Rio, estão em colocações diferentes no rol.

O levantamento revela ainda que, além do fator financeiro, outro aspecto que contribui para uma boa arrecadação e, consequentemente, eleição, é a ligação prévia com o meio político. Dos 27 candidatos que foram os maiores arrecadadores em seus Estados, 18 já haviam conquistado vagas no Legislativo federal ou estadual nas eleições de 2006, boa parte deles com sobrenomes tradicionais na política, como Irajá Abreu (DEM-TO), filho da senadora Kátia Abreu (DEM-TO) e Rui Palmeira (PSDB-AL), filho do ex-governador e ex-senador por Alagoas, Guilherme Palmeira.

"Quem tem mandato tem chances maiores de arrecadar mais porque transmite a confiança de ser reeleito, principalmente se tem serviços prestados. O [parlamentar] que tem mandato presta contas, o que não tem é uma esperança que precisa conquistar o eleitor e o financiador", afirma o deputado Júlio César (DEM-PI), o quinto mais votado em seu Estado, com 109.328 votos e o que mais arrecadou, com R$ 374,1 mil. Com 34 anos na política, foi eleito para o seu quarto mandato, o terceiro consecutivo. Sua prestação parcial mostra uma arrecadação maior do que as finais de 2006 (R$ 345,4 mil) e de 2002 (R$ 236,3 mil), o que confirma sua avaliação de que quanto mais mandato, mais chance de arrecadar.

Tanto que dos 27 maiores arrecadadores, os quatro que não foram eleitos não tiveram atuação nas eleições de 2006 e, contraditoriamente, têm ou tiveram nos últimos anos atuação profissional muito ligada ao capital. Wellington Salgado (PMDB-MG), grande empresário do setor educacional mineiro, exercia o cargo no Senado como suplente do ex-ministro das Comunicações Hélio Costa. Paulo Ferreira (PT-RS) era tesoureiro do PT; Guilherme Lacerda (PT-ES) era presidente da Funcef, o bilionário fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal; e Chiquinho Escórcio (PMDB-MA), é um dos grandes empresários da construção civil no Maranhão.

Exceção a esse grupo é Luiz Pitiman, vice-presidente da Federação das Indústrias do Distrito federal (Fibra) e ex-presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap). Disputou eleições pela primeira vez neste ano e foi o nono mais votado, mas ficou com a oitava vaga devido à distribuição de cadeiras para a sua coligação. Campeão de arrecadação no Distrito Federal, com R$ 483,5 mil, Pitiman afirma que, apesar do montante, afirma que, apesar do montante levantado, participou da disputa de em condições desfavoráveis com os políticos com mandato.

"O dinheiro não foi o principal motivo da minha eleição, que teve dificuldades. Ela foi quase toda desigual porque tinha entre os adversários gente com oito, doze anos de mandato parlamentar, que já entravam diferenciados, com exposição anterior na mídia e trabalho com suas bases", diz. Ele afirma que mais relevante do que o volume do dinheiro, é sua administração. "Uma campanha é como uma empresa. Se ela for de sucesso, em 90 dias elege o candidato. Se não for, abre processo de falência sem direito a recebíveis".
















PMDB perde posto de maior partido da Câmara e busca novos líderes
Caio Junqueira, Valor Econômico, De Brasília, 14/10/2010

A perda do status de maior partido da Câmara e de quadros que comandaram as negociações da pauta legislativa nos últimos anos deve reposicionar as forças internas do PMDB, com a ascensão de novos expoentes políticos. Pelo menos cinco integrantes do grupo que comandou o partido nas últimas legislaturas - Eliseu Padilha (RS), Eunício Oliveira (CE), Geddel Vieira Lima (BA), Jader Barbalho (PA) e Michel Temer (SP) - não mais integrarão a bancada, que, além disso, encolherá em 2011, de 89 para 79 deputados.

Com isso, cria-se um vácuo que deve ser ocupado por forças que despontaram nestes quatros anos ou foram eleitas para seu primeiro mandato, mas têm o respaldo de padrinhos políticos com experiência no Legislativo. Da futura bancada, é possível relacionar muitos eleitos que só atingiram essa condição mediante apoio explícito de ex-ministros, senadores, governadores e prefeitos.

Essas novas figuras, contudo, deverão, inicialmente, seguir os comandos ou das lideranças que permaneceram na Casa ou daqueles que vinham em rota ascendente. Figuras como Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que ruma para seu terceiro mandato, e Henrique Eduardo Alves (RN), indo para seu 11º mandato e cotado para a presidência da Casa, devem continuar sendo os condutores das negociações envolvendo o partido.

A abertura das urnas, porém, beneficiou os dois Estados que já controlavam o partido na Câmara: Rio e Minas. Os fluminenses perderam dois deputados e elegeram oito, ficando, assim, próximos aos mineiros, que mantiveram o mesmo patamar de 2006: sete deputados.

A proximidade numérica tende a aumentar a força de Minas, em cujos quadros desponta a liderança de Leonardo Quintão, que, após ser conduzido há dois anos ao segundo turno das eleições em Belo Horizonte, viu crescer sua influência não só entre os deputados mineiros, como também entre o restante. A eleição do ex-governador Newton Cardoso e a reeleição do presidente estadual da legenda, Antonio Andrade, e de um ex-secretário do presidente Itamar Franco (quando governador de Minas, entre 1999 e 2002), aumentaram o poder dos mineiros.

Por outro lado, a dupla fluminense Sérgio Cabral, governador do Rio reeleito em primeiro turno, e Eduardo Paes, prefeito do Rio eleito em 2008, conseguiu emplacar aliados. Cabral deu apoio a Washington Reis, que foi seu subsecretário de Obras nos últimos dois anos, eleito com mais de 138 mil votos. Paes conseguiu eleger dois deputados muito próximos a ele: Rodrigo Bethlem, secretário especial da Ordem Pública, idealizador do "choque de ordem" e filho da atriz Maria Zilda Bethlem, e Pedro Paulo, seu ex-secretário da Casa Civil.

Dos que deixaram o grupo pemedebista que comandava o partido na Casa, três fizeram sucessores. Os cearenses que colocaram Eunício Oliveira no Senado também elegeram deputado seu afilhado político, Genecias Noronha, prefeito por duas vezes do município de Parambu (CE). Geddel Vieira Lima (BA), derrotado em primeiro turno na disputa do governo baiano, fez dois deputados: seu irmão e presidente regional do partido, Lúcio Vieira Lima; e Arthur Maia, seu auxiliar na Assembleia Legislativa da Bahia. Jader Barbalho (PA) reelegeu sua ex-mulher, Elcione Barbalho, e seu fiel seguidor, José Priante. Ele tenta nos tribunais conquistar o mandato de senador, uma vez que foi atingido pela Lei da Ficha Limpa.

Vários governadores do PMDB fizeram aliados na Câmara. No Paraná, Roberto Requião, eleito senador, conseguiu eleger seu sobrinho, João Arruda. A bancada do Maranhão é formada por correligionários da governadora reeleita do Maranhão, Roseana Sarney. Três dos eleitos do PMDB de Santa Catarina foram secretários estaduais do ex-governador e futuro senador Luiz Henrique.

Em Goiás, tanto Iris Rezende quanto Maguito Vilela conseguiram fazer deputados. Íris fez dois, sua mulher, Íris de Araújo, e Thiago Peixoto, seu secretário de Governo na Prefeitura de Goiânia. Maguito fez Leandro Vilela, seu sobrinho, e Pedro Chaves, seu secretário de Obras. Germano Rigotto (RS), derrotado para o Senado, tem proximidade com dois ex-secretários estaduais - de Saúde e de Habitação - que integrarão a bancada gaúcha do PMDB. O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, fez campanha declarada para apenas um candidato, Lelo Coimbra, que se reelegeu.

Senadores também emplacaram deputados. Valdir Raupp (RO), por exemplo, reelegeu sua mulher, Marinha Raupp; Romero Jucá (RR), líder do governo e ex-ministro, elegeu a ex-mulher, Teresa Jucá; Renan Calheiros (AL) reelegeu-se senador e levou seu filho, Renan Filho, à Câmara.













PT consolida passagem dos movimentos sociais para máquina pública
Caio Junqueira
De Brasília

A presença do PT nas máquinas públicas federal, estaduais e municipais, nos últimos anos, aliada à consolidação de um processo de nacionalização do partido são as principais características da nova bancada do partido, que a partir de 2011 será a maior da Câmara dos Deputados.

Os Estados localizados na região Sul e Sudeste recuperaram força na bancada. São Paulo, por exemplo, foi a 16 deputados, dois a menos que o número obtido em 2002, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito para o primeiro mandato, mas dois a mais que há quatro anos, quando o núcleo paulista foi abatido pela crise do mensalão. Outro tradicional reduto petista, o Rio Grande do Sul, aumentou o número de parlamentares depois de duas eleições. Elegeu oito deputados em 2002, perdeu um em 2006, mas neste ano, potencializados pela eleição de Tarso Genro ao governo do Estado, passou a nove.

Não á toa a disputa interna do partido pela presidência da Câmara já aflora entre esses dois grupos. O líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), é o nome mais forte para o cargo, tendo dentro de seu Estado outros dois interessados, João Paulo Cunha e Arlindo Chinaglia —ambos presidentes da Câmara durante o governo Lula. Entre os gaúchos, dois nomes têm interesse, Marco Maia, atual vice-presidente da Casa; e Henrique Fontana, ex-líder do governo.

Nos outros Estados, em que o PT nunca teve a mesma força que no Centro-Sul do país, o que se constata no resultado das eleições para a Câmara é que o partido chegou aos grotões principalmente nas eleições de 2006 e que neste ano ocorreu uma sedimentação dessa conquista. A Região Norte subiu de sete em 2002 para dez em 2006 e recuou para nove neste ano. O Centro-Oeste foi de oito em 2002 para seis há quatro anos e subiu para sete agora. O Nordeste elegeu 24 deputados, patamar semelhante ao que teve na reeleição de Lula, quando elegeu 23. Em 2002 eram 17.

Estados como Pernambuco, Ceará e Bahia aumentaram suas bancadas no governo Lula e assim se mantiveram neste ano. É na região, aliás, que está o melhor exemplo da outra característica predominante da atual bancada: a intimidade com a máquina pública. Dos 88 eleitos, 54 se reelegeram e 36, embora distantes de Brasília, de alguma maneira, estiveram recentemente na máquina pública. Dez deles foram secretários estaduais durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dezessete são deputados estaduais, cinco foram prefeitos, dois atuaram no governo federal e apenas dois não tinham laços diretos com o poder, pois eram dirigentes partidários.

Na Bahia que reelegeu Jaques Wagner em primeiro turno, dos dez eleitos, cinco tinham ligação direta com o governo do Estado. Rui Costa foi secretário de Relações Institucionais e teve a maior votação da legenda, 212.157 votos (3,17%). Afonso Florence foi secretário de Desenvolvimento Urbano e terceiro mais votado, com 143.795 votos (2,15%). Valmir Assunção foi secretário do Desenvolvimento Social e quinto mais votado, obtendo 132.999 votos. Waldenor Pereira (sexto mais votado com 87.930 votos) é líder do governo na Assembléia e Amauri Teixeira chefe de gabinete da Secretaria de Saúde (foin nono mais votado com 63.729 votos).

Todos eles, a exemplo da maior parte de toda a bancada do partido, tinham um militância político-partidária anterior à chegada do PT ao Executivo. Rui Costa, o petista mais votado da Bahia, conhece o governador Jaques Wagner, de quem é o braço-direito, desde o movimento sindical dos petroleiros baianos e afirma: “A passagem pelo poder amadureceu o partido. Você passa a enxergar o funcionamento da administração por dentro, seus limites e dificuldades”.

Responsável na gestão baiana pela articulação política, ele compara o que pode vir a ser as diferenças entre a primeira bancada da era Lula e a primeira bancada do pós-Lula. “No primeiro mandato, tínhamos a cultura e tradição de quem sempre havia sido demandante e não era colocada a situação de realizar o que estava nos programas de governo. Quando passa do outro lado e tem a oportunidade de realizar os seus programas de governo, podemos ver a dificuldade de transpor as idéias para a realidade e ali encontramos dificuldades, seja de ordem do funcionamento da máquina do Estado, os entraves burocráticos ou as dificuldade de investimento”, afirma.

Para o líder do governo na Camara, Cândido Vaccarezza, o fato de boa parte da bancada ter passado por administrações é consequência das carreiras políticas que desenvolveram no partido e, por isso, ela tende a ser mais coesa e unida. “Não há outsiders ou novatos. A principal caracterísitca é a de antigos militantes”, afirma.