27.2.05

Por falar em esconder corrupção...

Marcio Pinheiro

Recordar é viver. Em dezembro de 1998, dois meses depois de vencer a eleição presidencial no primeiro turno, Fernando Henrique ligou para Lula para fazer um agradecimento ao petista.

FH agradeceu Lula por não ter usado o "dossiê Caribe" (documento forjado que comprovaria que Covas e outros tucanos teriam contas não declaradas fora do país) na campanha sucessória.

Lula autofágico

Marcio Pinheiro


Ao dizer que encobertou sujeiras no governo FHC, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva consegiu o que parecia quase impossível: ser acusado de corrupto (ou leniente com a corrupção).

Não é válido evocar aqui o argumento Waldomiro Diniz - ele não atingiu Lula diretamente; a "suspeita" caiu e cabia somente a José Dirceu, justamente pelo acusado ter sido seu assessor e amigo.

Ao falar qualquer coisa, não prezar a racionaliade e ligar de mais para o que Fernnado Henrique fala, Lula tende a perder fôlêgo onde mais precisa: o Congresso Nacional.

As asneiras de Lula colocam, a cada dia, em xeque sua reeleição. E, pra variar, seus áulicos assessores seguem sem alertar o chefe.

Uma crise dada de bandeja para a oposição. Fevereiro, recordemos o caso Waldomiro, é , definitivamente, o pior mês para o governo Lula.


PSDB, oposição responsável. Sei...

O mesmo PSDB que votou em peso em Severino Cavalcanti fala em impeachment de Lula e processo no Supremo.

Os dois partidos mais importantes do Brasil, PT e PSDB, descem a um nível desnecessário. Cabem a eles dar o melhor exemplo, mas isso não vem sendo feito.

Quando dois grandes brigam, sempre aparece um terceiro e leva. 2006 está aí, mas ainda dá tempo de consertar o estrago.

Ellen Gracie e a França

Marcio Pinheiro

Nesta semana o o ministro francês da Economia, Herve Gaymard, renunciou porque, pressionado pela opinião pública, vivia em um apartamento de alto padrão num bairro bem chique de Paris com despesas pagas pelo governo.

"Eu estou consciente do sério erro de julgamento [que cometi] sobre as condições de minha moradia oficial", delcarou.

Na mesma semana, a ministra do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie Northfleet, mandou construir uma banheira de hidromassagem em seu apartamento funcional de 523 metros quadrados onde parrasá a morar em março.

Declaração da excelentíssima: "É claro que eu vou botar uma banheira lá, não tem nada demais nisso. E tem que ser paga com dinheiro público, sim, porque está em um imóvel público", disse a O Globo.

Pergunta que não quer calar: se é público, eu posso usar? A minsitra acaba de abrir um precedente muito peculiar para nosso país.

15.2.05

A vingança dos 300 picaretas...
...e a culpa é toda do PT

Marcio Pinheiro

Com 300 votos - especialmente aqueles do baixo clero - Severino Cavalcanti (PP-PE) foi eleito presidente da Câmara dos Deputados. Trata-se do terceiro homem na hierarquia da República.

Um azarão que só conseguiu esse status graças ao PT, o do Planalto e o do Congresso, nesta ordem.

O processo de escolha do candidato petista à sucessão de João Paulo Cunha (PT-SP) foi burra e ingênua. Burra, porque Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) não naturalmente o mais votado e não era o mais querido (tanto da bancada do PT quanto na Câmara em geral). O concorrente Virgilio Guimarães (PT-MG), por outro lado, não perdeu tempo e lançou sua candidatura avulsa. Ele também errou ao insistir nisso até o fim, fechando acordos até com garotinhos.

Mas o grande culpado, vamos logo deixar claro, não foram os petistas Greenhalgh x Virgilio, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (e sua trupe) que trata com desprezo o Congresso nesses dois anos e dois meses de mandato.

Quinze anos depois, os "300 picaretas" se vingaram. Eles aproveitaram o racha do PT para lembrar os acordos e promessas não-cumpridos, a falta diálogo de atenção do primeiro escalão com o baixo clero, as ligações não-atendidas. É o tal "menosprezo pelo sentimento político da Casa", como resumiu bem o governador tucano Aécio Neves.

Lula até enviou 11 ministros para fazer lobby para a eleição de Greenhalgh. Mas era tade demais. Muitos desses ministros não atendiam os parlamentares há dois anos... Sem contar que o próprio presidente enrolou os parlamentares, aliados e inimigos por quase um ano ao não se decidir pelo apoio à emenda de reeleição para as Presidências da Câmara e Senado.

Além disso, o PT passou-se por ingênuo ao confiar na tradição da vitória ao partido com maior bancada, e esperava apoio oposicionista. Não passou pela cabeça das lideranças petistas que o "acordo de cavalheiros", que sempre ocorre nas eleições internas da Casa, poderia falhar.

Quem mais perde com a vitória de Severino não é o governo Lula - o deputado do PP tem tudo para fazer uma gestão sem grandes dificuldades para o Plantalto. Os grandes perdedores foram o Congresso Nacional e o Brasil.

O Congresso, especialmente pela imagem perante a opinião pública, ao eleger um ser reacionário, homofóbico, ultrareligioso e que defende abertamente o nepotismo e aumentos surreais de seu próprio salário. Além disso, questões como as da células-tronco, reforma política, dentre outras, entram automaticamente em xeque.

Quem vai pagar o pato com essa eleição, esperamos, será o próprio Congresso (oposição tucana e pefelista e partidos importantes para a base aliada como o PMDB, PL, PTB e o próprio PP). E o que é vingança hoje contra Lula poderá soar análogo a esses 300 inconseqüentes em 2006. O custo dessa eleição para o Brasil foi de anos para trás, e esperamos que os eleitores de Severino sejam punidos pelos cidadãos.

Por isso, é imprudente apontar a eleição de hoje como o "início da derrota da reeleição de Lula". Em breve chegará uma reforma ministerial na qual Lula terá que acolher os partidos traidores.

E para a nova estrela política brasileira, fica o paradoxo do político rasteiro que não tem o menor compromisso com o "projeto" de Lula para o Brasil. Severino diz que que governará com o Planalto, mas a base da Câmara o elegeu com motivos contrários ao palácio.

Não sabemos ainda como será a sua presidência, mas certamente a relação Executivo-Legislativo será mais trabalhosa e, por isso, o Congresso, que já anda devagar-quase-parando, ficará ainda mais lerdo nesses últimos anos do governo Lula.

2.2.05

Da barganha e da falta de esperança
Caio Junqueira


A reforma ministerial que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promoverá nas próximas semanas em muito revela a promiscuidade política e o jogo sujo com que a política é feita, desde sempre, no país.

Num jogo que se arrasta há meses, Lula tenta acomodar aliados do Congresso –e inimigos históricos do PT , como o malufista PP_, e dar mais espaço aos fisiológicos PMDB e PTB para, assim, garantir a governabilidade no Congresso nos dois últimos anos de seu governo e aprovar reformas importantes, como a política, a sindical e a trabalhista. Pretende ainda, de quebra, assegurar uma ampla coalizão de partidos com o PT nas eleições de 2006.

Porém, para isso, submete-se à bárbara lógica da política tupiniquim e ajuda a manter um círculo vicioso no qual o comandante que nela não entra acaba punido, seja pela incapacidade de aprovar seus projetos no Legislativo ou por futuras rejeições em alianças eleitorais _com as quais se garante maior tempo de exposição na televisão.

A regra é clara. Se o administrador não conceder cargos a indicados políticos, deputados e vereadores, integrantes do partido “rejeitado” vota contra projetos enviados pelo Executivo, ainda que importantes à população. O bem-estar e a relevância aqui pouco importam, já que as regras há muito estão postas. Em contrapartida, o legislador, líder político ou partido que a elas não se sujeitar pode cair no ostracismo, já que, sem um cargo importante, como uma secretaria, ministério ou autarquia, terá menos exposição na mídia.

Afora isso, o tempo que se perde na discussão de qual-cargo-vai-para-qual-indicado demonstra a insensibilidade dos políticos, que, ou imaginam que o país possui índices econômicos e sociais de uma Escandinávia ou assumem a cara de pau e a suposta incapacidade de poder fazer algo para que se alterem as regras. Isso mostra, além de indiferença, distância entre a política e a vida popular brasileira e a comprovação de que a intenção dos políticos neste país é lutar e conservar suas posições, seus nomes e seus status.

Em São Paulo, o prefeito José Serra (PSDB) tentou, no início, não se submeter às maliciosas regras e teimou em negociar com o chamado centrão, grupo de vereadores do PL, PP, PMDB e PTB que se juntaram para negociar cargos de primeiro escalão e participação nas 31 subprefeituras da cidade.

Serra até tentou depois negociar, mas já era tarde. O centrão apoiou o dissidente do PSDB, Roberto Tripoli, e, assim, o partido majoritário na Casa e do prefeito ficou sem a presidência da Câmara, essencial na condução das votações de interesse do Executivo.

Ainda assim, Serra não deve ser considerado o bom mocinho na luta pelos bons costumes políticos. Longe disso. À exemplo de Lula, teve de colocar políticos no seu governo para contemplar aliados de sua eleição, como PFL, PPS, PDT e PV e preterir as indicações técnicas que tanto prometeu no processo eleitoral.

Diriam, “evidente, esses partidos o apoiaram e a fatura chegou”. No entanto, o enxugamento administrativo da Prefeitura de São Paulo e a fusão de secretarias foram promessas feitas pelo tucano durante a campanha, que não puderam ser cumpridas justamente para acomodar esses “parceiros”.

Umas de suas críticas mais freqüentes à então prefeita e candidata à reeleição Marta Suplicy (PT) era de que ela fez apenas nomeações políticas. A prática, como visto, manteve-se. O que mudou foi o sexo, o nome e o partido.

Até mesmo o governador Geraldo Alckmin (PSDB) entrou na dança. A reforma de seu secretariado _que teve início no final do ano passado_ busca acomodar parceiros como PPS e PDT, de forma a assegurar ampla aliança na difícil campanha para o governo do Estado em 2006, já que o partido carece de nomes para a disputa enquanto no rival PT sobram nomes, como Marta, Aloizio Mercadante e João Paulo Cunha.

Alckmin cai também na ciranda da tradicional política brasileira ao fazer a reforma do seu secretariado de olho no relógio. Precisa terminá-la antes de 15 de fevereiro, data das eleições para a presidência da Assembléia Legislativa. Acomodando outros partidos no primeiro escalão paulista, garante os votos para o nome do PSDB ao cargo.

É revoltante ver que o amadurecimento político caminha a lentos passos no país. Nomes como o de Lula, Marta, Serra e Alckmin, que sempre tiveram como bandeiras políticas a luta pela ética repetem o que os velhos barões do PFL, PMDB e PP sempre fizeram: barganha. Se não pudermos esperar deles a limpeza ética, de quem esperaremos?