31.8.04

O Jornal Nacional e a Venezuela

Nesta quarta-feira o Jornal Nacional, da Rede Globo, comemora 35 anos no ar. Os brasileiros também devem se orgulhar do telejornal, de seus erros e seus acertos.

Contar a história do JN não é apenas contar a história do jornalismo brasileiro, mas sobretudo os momentos cruciais da história política do Brasil recente. Afinal, jornalismo é versão, e a que foi e vai ao ar no JN foi e é vista por mais de 31 milhões de pessoas, formadores de opinião, eleitores.

A análise mais pueril é sempre a da “teoria da conspiração”. Não vamos negar que Globo não tenha dado apoio a todos os presidentes (e retirado o apoio em momentos oportunos), ou que não tenha servido de “Voz do Brasil” no regime militar (1964-1985). Mas alguns fatos – mal analisados – deram margem a esse tipo de interpretação mais apressada.

Passados vários anos, certos episódios são reavaliados. Em pesquisas qualitativas de um importante instituto de pesquisa - que por motivos óbvios jamais serão veiculadas no JN, mas ao qual o TRÊS PALAVRAS teve acesso – indicam que o quesito "manipulação" ainda vem junto com o nome Rede Globo e Jornalismo.

Dizer, por exemplo, que a Globo prejudicou o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva no último debate com Fernando Collor em 1989 é fato. Mas a questão, nesses e em outros casos, é: foi incompetência ou má fé?

Ambos. E nenhum dos dois.

Os fatos. Às 13h entra no ar o "Jornal Hoje" de sábado. Na edição dos melhores momentos do debate da noite anterior, Collor e Lula ganham o mesmo tempo e uma edição que mostrava momentos bons e ruins de ambos os candidatos. Nada mais injusto: Collor se saíra bem melhor que o candidato do PT naquela noite! Conclusão: Lula foi beneficiado.

Horas depois, às 20h foi ao ar o JN. Uma edição bem diferente do “Hoje” e um pouco mais realista. Foram exibidas falhas de Lula, momentos bons de Collor (e este teve 1 minuto a mais que Lula; não é exagero dizer que 1 minuto em TV é uma eternidade). Conclusão: Collor foi beneficiado. Como o JN tem maior audiência, é claro que a celeuma se deu em torno da edição da noite, e não à da tarde.

Até hoje a autoria da edição do debate é reivindicada por alguns profissionais que eram da emissora à época. Isso aqui é o que menos importa. A questão era fazer uma edição com os melhores momentos (sic.) de um debate. E ninguém sabia como fazer isso. Era o primeiro debate da primeira eleição livre para presidente depois de 21 anos de ditadura militar.

Para se ter uma idéia desse absurdo, hoje, quando os candidatos (da presidência à prefeitura) são convidados para um debate na Globo, norma do contrato diz que a emissora se compromete a não fazer uma edição de debate. A história teve que mostrar isso. Errou-se para aprender. Assim como ocorre com o eleitor que erra o voto: não dá pra voltar atrás, mas aprende-se muito elegendo um candidato ruim. O troco virá na eleição seguinte. No caso da Globo, o aprendizado veio com debates e entrevistas seguintes.

O mea culpa de 89, por sinal, foi feito na edição do JN da última segunda-feira, dia 30 de agosto de 2004. Demorou 15 anos, já com Lula na Presidência da República. Mas já em anos tucanos, a própria apresentadora do jornal, Fátima Bernardes, já corroborava com essa visão. Em palestra em uma universidade do Rio de Janeiro em 1999 foi questionada por um estudante se “a Globo continuava a manipular”. Resposta da jornalista: “Já tivemos problemas no passado”. A fala de Fátima Bernardes é emblemática exatamente 5 anos depois ao vermos o telejornal correndo atrás de um outro erro: o modo de divulgação de uma pesquisa eleitoral.

Na edição desta terça (31 de agosto), o JN apresentou a margem de erro na pesquisa eleitoral – algo inédito na divulgação de pesquisas eleitorais em telejornais – em divulgação de pesquisa Ibope sobre a sucessão da prefeita Marta Suplicy (PT). Que ironia.

Tivesse tido o mesmo cuidado na apresentação de uma pesquisa do Ibope às vésperas do pleito do governo de São Paulo em 1998, talvez a hoje prefeita-candidata Marta fosse governadora. Mas a inexperiência mais uma vez atrapalhou.

Não só diretores do Ibope, mas todos os cientistas políticos com quem conversei desde então são unânimes: o erro na pesquisa não foi a pesquisa em si, mas a divulgação dela. E se Covas passou para o segundo turno foi graças ao “voto útil” de petistas que viram, na noite anterior, o nome de três candidatos acima do de Marta na telinha azul do telejornal.



A emissora que apóia todos os presidentes

A linha editorial do JN não é de apoio a um político ou um presidente específico, a um partido ou a um projeto de política pública. A Rede Globo adota, sobretudo, a linha preservacionista e, conseqüentemente, apóia aquele que está no poder. A moeda? A permanência da concessão com a família Marinho – autorizada com a bênção da Presidência da República – e, em troca, a estabilidade democrática no maior país da América Latina.

Tivesse o JN uma linha editorial crítica à la Folha de S.Paulo, certamente o Brasil se transformaria rapidamente numa Venezuela.

É a opção mais responsável para o único veículo que, se quiser, pode “derrubar” um presidente ou provocar uma crise institucional em segundos, pois somente a Globo fala simultaneamente para todo, todo o país (ok, vamos ser mais exatos, que fala para 99,8% do território nacional) e detém a maior audiência.

Esse tipo de preservacionismo ficou bem claro com a vitória de um candidato que, por décadas, foi renegado pelo dono da emissora.
A cobertura eleitoral de 2002 foi exemplar: todos os candidatos entrevistados no JN tiveram o mesmo tempo e tratamento semelhante; a emissora, portanto, não se comprometera com nenhum candidato, exceto com o vencedor, fosse quem fosse. Essa mudança de rumo na cobertura presidencial, claro, tem outras causas (que serão abordadas aqui neste espaço no momento oportuno), mas, por enquanto cabe a análise de que seja quem for o eleito, ele será “preservado” pelo jornalismo da Globo.

A crítica, a vigilância, a análise sobre o veículo de informação mais importante e de maior audiência do país devem estar sempre presentes. Ter a audiência desses milhões de brasileiros e escolher aquilo que o brasileiro vai ouvir, ver e sentir todas as noites é uma responsabilidade tão grande quanto governar o país. Maior até.



CRÍTICOS DO JN

Aqueles que criticam o JN por ser rápido, superficial e pouco analítico vão ao cerne da alma do jornal e pecam pela ignorância: o objetivo do JN é exatamente esse o descrito acima. Quer profundidade? Vá ler os clássicos, o JN decididamente não é pra você.




28.8.04

São Paulo vai ganhar as eleições
Caio Junqueira

Não é apenas o PT ou o PSDB que sairá vitorioso nas eleições de outubro em São Paulo. A cidade também ganhará e o sucessor, em 2005, receberá uma cidade melhor. Tanto a prefeita Marta Suplicy quanto o tucano José Serra são bons candidatos e com bom retrospecto político e gerencial.

Evidente que, ao se analisar suas trajetórias políticas, principalmente nos cargos executivos (Marta na Prefeitura de São Paulo e Serra no Ministério da Saúde), deslizes e erros são facilmente apontados.

A capital paulista, de longe, não é o melhor lugar para viver. Tem os maiores índices de violência do país, um trânsito que prejudica a economia e a saúde mental dos habitantes e milhares de miseráveis nas ruas. Mas não se resolvem erros históricos em quatro anos.
Marta, nos quatro anos de sua gestão, procurou, a sua maneira, melhorar a cidade. Desde a posse, mostrou ter um projeto para a cidade, ainda que discutível _e falho_ em diversos aspectos. Os CEUs vão além do projeto pedagógico, são centros sociais, muito necessários nas periferias tão carentes de áreas de lazer e cultura e esporte. O Bilhete Único funciona. A frota de ônibus na cidade foi renovada. Diversos espaços públicos, como praças e avenidas, nas áreas nobres e na periferia, foram revitalizados e ficaram com ares de cidade decente.
Isso é comprovado quando vê-se que certas áreas como transporte e educação --antes alvo de qualquer candidato-- são esquecidas do debate político, justamente pelo fato de saber-se que o projeto nestas áreas resumem-se à continuidade e ampliação.

Os críticos de Marta _em geral, integrantes da elite_ ignoram suas realizações ou por preconceito petista comum à classe econômica que fazem parte ou por desconhecimento e falta de vontade de reconhecer nela uma prefeita, no mínimo, razoável. Claro que a arrogância da prefeita colabora com essa oposição desinformada. Incomoda uma mulher petista no terceiro cargo mais importante do país. Alia-se a isso os erros cometidos pela prefeita durante sua administração, devidamente dimensionados, como o loteamento político feito nas subprefeituras e à falta de prioridade na área da saúde. Propositalmente ou não, criou-se uma situação em que seus erros são dimensionados e suas virtudes esquecidas.

A cidade também ganhará com Serra prefeito. O tucano, além de ter sido um dos melhores legisladores da Nova República, mostrou-se bom gestor no Ministério da Saúde. Entre seus pontos positivos, destacam-se o caráter executivo, de tirar idéias do papel e colocá-las em prática. Negativamente, além de sua antipatia e falta de carisma, ele fez parte do governo FHC, tão celebrado pelas classes dominantes, mas não visto pelas camadas pobres da sociedade como um bom governo. Pudera, desde 1995, ano da posse de FHC, até 2004, a renda do brasileiro diminuiu, a economia estagnou e o desemprego aumentou. Resultados de modelos econômicos sentem-se na pele e a era FHC, da qual Serra teve participação ativa, foi dura para a maior parte da população.

Assim, o que parece que está em disputa em São Paulo são mais os projetos de poder dos dois maiores partidos do país do que ideologia e gestão em si. No âmbito gerencial, os fins de ambos os candidatos são os mesmos, embora os caminhos sejam diferentes. Mas São Paulo, depois de administrações desastrosas como a de Celso Pitta (1997-2000) e Paulo Maluf (1993-1996), estará em boas mãos com Serra ou com Marta.

Baixo clero
José Aníbal, ex-presidente nacional do PSDB, tem sido criticado por sair candidato a vereador em São Paulo. A decisão, no entanto, transcende o caráter pessoal. O interesse do partido é ter uma força articuladora na Câmara Municipal em um eventual governo Serra, uma vez que dificilmente os tucanos terão maioria na Casa. Agora, não é preciso mencionar que uma eventual derrota de Aníbal seria o fiasco do ano.

Medo
Nenhum tucano quer enfrentar Lula em 2006. Próximas eleições presidenciais somente em 2010, quando marta deixará o governo do Estado de São Paulo e Alckmin o Senado para travarem o duelo PT x PSDB, que irá se consolidar como marca desse início de século na política brasileira. Uma opção para o tucanato é colocar o senador Tasso Jereissati na disputa em 2006. Outra é repetir a aliança com o PFL, só que desta vez com os pefelistas encabeçando a chapa.

Duda
Tenho esperança de que os CEUs da saúde não contabilizem votos para Marta, apesar de não achar isso possível. A apresentação do projeto deu a Marta um aspecto malufista, de político que faz grandes promessas. Isso piora ao constatar que o que a prefeita e seu marqueteiro tentam é rebater as críticas à gestão pífia que fez na saúde. Deprimente.

Quem sabe...
A derrota de Maluf não o faz desistir da carreira de candidato para sempre. Como paulista, tenho vergonha até mesmo de ele ser candidato.

20.8.04

HORÁRIO ELEITORAL 20/08/2004

O contraponto tem que chegar

No segundo dia de horário eleitoral em São Paulo, posicionamentos são estabelecidos. Marta Suplicy (PT) direciona o discurso para a educação. José Serra (PSDB), para saúde.

Marta exibiu orgulhosa os seus CEUs, o vai-e-volta, os uniformes, o material escolar de graça. E
criticou Pitta, com suas escolas de latinha. Serra, por sua vez, criticou o descaso da prefeita com a saúde. Até aí, nenhuma novidade. Essas críticas já foram feitas anteriormente pela imprensa, no debate da TV Bandeirantes, em entrevistas isoladas com candidatos e no programa de estréia da propaganda eleitoral.

Mas quando os candidatos líderes nas pesquisas terão a coragem fazer crítica nos quesitos em que são mais bem avaliados respectivamente? Será que o PT vai criticar o modelo excludente de saúde implementado pelo tucano no governo FHC? A crise de dengue será lembrada?

E a campanha do ex-ministro, vai lembrar que nos CEUs faltam professores de matemática? Que alguns alunos que foram para os CEUs querem voltar para as escolas "comuns", onde pelo menos não tinham um défcit tão grande de professores? Os pais dessas crianças serão entrevistados no horário eleitoral?

Enquanto isso, os lanternas Paulo Maluf (PP) "requenta" o programa anterior e Luiza Erundina (PSB) decreta a derrota. A candidata usou todo o programa de hoje para "velar" os mendigos assassinados no centro de São Paulo. Beirou a demagia, sentimento até pouco tempo atrás identificado apenas em outros concorrentes, especialmente os das antigas. O novo programa da Erundina é a cara do PMDB; talvez o fundo azul do cenário e a roupinha da mesma cor da candidata não sejam mera coincidência.

Assim como também não é coincidência o jingle de Havanir (Prona): a "5ª Sinfonia", de Beethoven, em ritmo grave. Mas curioso o uso de uma trilha de um músico alemão no mais nacionalista dos partidos.

E ainda sobre os partidos pequenos: parabéns ao PSTU. Tirando os programas do Duda Mendonça (com a exceção de alguns poucos), trata-se da campanha política mais eficiente (mas também a mais fácil de ser produzida).

18.8.04

Eterno retorno

No Rio de Janeiro, o argumento de ataque de um candidato contra o outro é motivo de auto-reconhecimento quando fazemos um breve retorno ao passado.

No início de julho, a candidata à prefeitura, Jandira Feghali (PCdoB) disse que jamais apoiaria o PFL. No entanto, em 1986, na eleição de Moreira Franco (PMDB), os comunistas se aliaram à Frente Liberal contra Fernando Gabeira, então candidato pelo PT e dos verdes (que ainda não existia como partido constituído; foi formado no ano seguinte).

Em 2004, por sinal, Gabeira apóia Cesar Maia (o ex-PV e x-PT foi personagem ilustre no programa eleitoral de estréia do prefeito que concorre à reeleição). O mesmo Cesar, aliás, que critica o apoio do PCdoB ao PMDB de Moreira Franco, o PMDB pelo qual foi eleito prefeito pela primeira vez, em 1992! Crítica não só a Moreira Franco, mas também a seu rival e ex-superaliado, Conde, que mudou de mala e cuia do PFL para o PSB e de lá para o ex-MDB, acompanhando o o casal Garotinho.

Resumo da ópera: PCdoB, que ama o PFL, que ama o PMDB, que, pelo visto, ama todo mundo. De quadrilha a orgia. Antes assim.




HORÁRIO ELEITORAL 18/08/2004

Propaganda começa com reprises de 2002 e com estratégias de 2006


A eleição começou de verdade. Incia-se o horário eleitoral para os candidatos a prefeito e vice-prefeito no rádio e na TV. A partir de hoje, o TRÊS PALAVRAS passa a oferecer pra você a análise da propaganda em São Paulo.

E primeira leitura que faço programa de estréia é de, simultaneamente, um "deja vu" e uma "pre-monição".

"Deja vu" não apenas por José Serra ter repetido cenas da campanha eleitoral de 2002 (quando estava visivelmente menos magro, em imagens com os mesmos cortes do tucano na ONU etc.) ou pela repetição dos bordões de PSTU e PCO. Mas principalmente pela reedição do segundo turno PSDB x PT, que veio pra ficar.

E "Pré-monitório" porque o discurso de Marta Suplicy (PT) certamente será repetido à exaustão em 2006 pelo candidato Lula. "Não deu pra fazer tudo em quatro anos". Foi o que disse Marta hoje à noite. Duvido que Duda Mendonça mude a ordem das palavras na gravação do programa presidencial do PT daqui a dois anos.

O programa da tarde na TV praticamente repetiu o que já havia sido mostrado no rádio horas antes: foi exibida uma breve biografia dos principais candidatos. Mas com uma peculiaridade: Marta Suplicy (PT), Paulo Maluf (PP) e Luiza Erundina (PSB) justificaram de cara os aspectos mais embaraçosos para suas respectivas campanhas.

Marta usou maior pare do tempo para explicar que ainda é amiga do senador Eduardo Suplicy (PT) e que a decisão de terminar um casamento de mais de 30 anos não foi fácil. Duda Mendonça colocou o dedo na ferida, e se saiu muito bem. Tranformou a "vilã" na mulher "justa" e "sincera" com o marido.

O narrador do programa de Maluf não deixou por menos e soltou nos primeiros segundos: "Maluf nasceu numa família de posses"; é dono da Eucatex, "gerando mais de 10 mil empregos diretos e indiretos". O "Rouba, mas faz já era". Agora veio o "roubar pra que, se já sou milionário?".

Já Erundina, via Michel Temer, justificou a aliança com o PMDB quercista. A aliança PSB-PMDB "não é eleitoral" e, ainda segundo Temer, "é uma aliança para hoje e amanhã". Literalmente até amanhã? Historicamente os candidatos em horário eleitoral não levam ao pé da letra o que prometem, portanto... quem sabe não chegue a 2006?

Outra estratégia usada na estréia foi a dos candidatos se adequarem ao que "pediam" as pesquisas qualitativas. A prefeita de São Paulo, que passa uma imagem de arrogância, prepotência (segundo as qualis), foi mostrada como a Marta "vovó", ganhando até música composta pelo seu filho João.

José Serra, agora "do bem", dedicou os últimos 30 segundos teve direito no programa da tarde a um clipe com imagens sucessivas de sorrisos seus. Falta de carisma? É, até que deu pra (deixar) enganar.

Já Erundina não teve dinheiro para usar qualquer estratégia. No dia anterior, dia da propaganda dos vereadores, o espaço na TV e no rádio foi usado pelos presidentes regionais do PSB e PMDB, e nenhum candidato a vereador da coligação foi mostrad! O programa foi modificado de última hora, pois parte dos assessores e colaboradores de Erundina se mandaram: em crise e atrás nas pesquisas, a campanha da ex-prefeita (1989-1992) não estava pagando os salários da equipe em dia. Aliás, a falta de dinheiro foi lembrada em discurso de Michel Temer no horário de hoje. O programa foi o mesmo à tarde e à noite pelos motivos já expostos.

À noite, Marta, Maluf e Serra tiveram programas novos. Maluf, com poucas alterações. Uma mudança interessante foi quando o locutor disse que Maluf já "era rico antes de entrar para a política". Eis que surge uma animação com setas mostrando o fluxo de dinheiro do exterior para o Brasil; simulando a aplicação de investidores nas empresas do candidato do PP. Um fluxo ao contrário, do Brasil para o Exterior? Só na arte do "Jornal Nacional".

Mas como estamos em pleno Horário Eleitoral, recordar é viver. Vide a estratégia de José Serra, que copiou imagens da campanha à presidência (ainda bem que foi só no da tarde). É certo que o candidato ainda não quitou suas dívidas da campanha anterior e que as imagens de arquivo eram boas, mas a parte que tratava da biografia do tucano foi demasiadamente extensa. Candidato à presidente, até Rio Branco sabe que o Serra é filho do feirante da Mooca. No entanto, já à tarde, Serra anunciou o que estava pro vir: Saúde, saúde, saúde. "Especialmente à voltada para a mulher" (maior parte do eleitorado).

Cumpriu-se o prometido à noite, quando apareceu o Serra dos genéricos, o Serra do mutirão da catarata, o Serra ministro da saúde. Também foi enfatizada a dobradinha "Serra-Alckmin".

Nos mesmos moldes da dobradinha "Marta-Lula", à tarde. "Tenho muito orgulho de ser amiga do Lula", disse a prefeita.

Mas à noite, brilhou a Marta dos CEUs (Centros Educacionais Unificado). O programa foi encerrado (com direto à lágrimas nos olhos do espectador; afinal o programa foi produzido por Duda Mendonça) com uma apresentação de música dos alunos dos CEUs, tocando violino. E já "respondendo" Serra: a prefeita reafirmou o "mea culpa" na saúde e pediu mais quatro anos para repetir na saúde a revolução que fez nos transportes ("bilhete único") e educação.

No mais, candidatos afirmando cobrar para dar entrevista (PAN), prometendo acabar com a "indústria da multa" (PSDC) e candidata histriônica usando palavras como "visceral", "sistêmico" e "maquiavélico". Nem criando um milhão de CEUs o povo alcança isso.

Enfim, a novela continua na sexta. Até lá.



16.8.04

O PSDB na Esplanada dos Ministérios em pleno governo do PT

O presidente do Banco Central e deputado federal licenciado por Goiás será, a partir desta terça-feira, o primeiro ministro do PSDB a integrar o governo do PT.

Numa manobra de Lula-Palocci, Henrique Meirelles passa a ter status de ministro de Estado, ou seja, terá FORO PRIVILEGIADO NO STF (Supremo Tribunal Federal). O motivo mais óbvio é que Lula quer proteger Meirelles das denúncias que começaram a sair na imprensa há algumas semanas, que tratam de crimes de sonegação fiscal e evasão ilegal de divisas que teriam sido praticadas pelo "ministro" Henrique Meirelles.


Meirelles teria uma conta não-declarada no Goldman Sachs, de cerca de US$ 50 mil. Esse dinheiro teria sido enviado para uma outra conta de doleiros investigados pela CPI do Banestado por suspeita de lavagem de dinheiro... Por causa disso, o tucano é aguardado pelo Senado para dar explicações.

O governo do PT mostra-se mais uma vez mais rasteiro que o antecessor ao mudar o status de um ministro para encobertar possíveis crimes finaceiros e dificultar as investigações. O pt revela-se o partido menos transparente que já ocupou o Planalto desde os militares. Asssitimos, nesta terça, a um golpe.

Mas o recado que parece ser mais importante (para o governo e para o mercado) foi dado: Meirelles fica fortalecido; o fechamento da Bovespa amanhã certamente ( e infelizmente) indicará esse caminho. Mas o mercado, entende-se. Esse joga contra. Injustificável é termos eleito um governo que também joga contra; que joga contra democracia, contra a transparência das contas do presidente do BC, contra a chance de se investigar um integrante do governo.

Lula, Palocci e Meirelles deram mais uma prova de covardia e passaram recibo da culpa no cartório.


12.8.04

Vai dar Brizola na eleição do Rio

Bizola nos deixou, mas seu legado ficará. Nos anos 90, perdeu todos os cargos eletivos a que concorreu. Mas elegeu todos seus afilhados e ex-afilhados para a prefeitura e para o governo. Começamos a contar a partir de 1982, primeira eleição disputada por Brizola e sua trupe desde a volta do exílio.

Na prefeitura:
1983: Jamil Haddad assume a prefeitura pelo PDT, mas deixa o cargo por discordar do partido; assume o vice, Saturnino Braga (PDT).
1985: Saturnino Braga é eleito pelo PDT; hoje é senador pelo PT
1988: Marcello Alencar é eleito pelo PDT; hoje é tucaníssimo. Não anda bem de saúde, mas foi o principal articulador em tirar a deputada federal Denise Frossard da sucessão à prefeitura nesta ano e entregar à vice a Cesar Maia.
1992: Cesar Maia é eleito prefeito. Lembramos que trata-se de um filhote direto de Brizola. Foi secretário de fazenda de caudilho e eleito deputado federal constituinte pelo PDT, em 1986. Por isso eu entendo porque tanta gente foi às ruas no Rio chorar a morte de Brizola. As pesquisas indicam que Cesar ganharia em primeiro turno.
1996: O filho do filho de Brizola é eleito; "Conde é Cesar, Cesar é Conde". Conde foi eleito pelo PFL.
2000: o ex-brizolista Cesar Maia ganha de novo a prefeitura, desta vez pelo PTB.

No senado:
O Senado é um caso à parte. Brizola só conseguiu eleger dois "filhotes" de 1982 até hoje.
1982: Saturnino Braga foi eleito pelo PDT; foi reeleito em 1998 pelo PT.
1990: Darcy Ribeiro é eleito pelo PDT.

No governo:
1982: Com todo o problema com Globo, Proconsult, deu Brizola na cabeça.
1986: A exceção; naquele ano, com a febre do Plano Cruzado, os candidatos do PMDB ganharam praticamente todos os governos estaduais. No Rio deu Moreira Franco; Darcy Ribeiro, candidato de Brizola, perdia a eleição.
1990: Ddepois de perder por pouco a chance de ir ao segundo turno contra Collor em 1989, Brizola é eleito no ano seguinte em primeiro turno para o governo do Rio.
1994: um ex-pedetista é eleito governador, desta vez pelo PSDB (na onda da febre do Plano real). Marcello Alencar ganha, no segundo turno, contra Garotinho (PDT).
1998: Garotinho governador, Bené vice. PDT de novo no poder.
2002: Rosinha Garotinho governadora; Conde (o filho do filho de Brizola) na vice. Rosângela Matheus foi eleita pelo PSB, mas hoje está no PMDB, partido pelo qual Cesar Maia foi eleito prefeito pela primeira vez.
2004: Tudo leva a crer que o ex-pedetista Cesar Maia vai ser eleito em primeiro turno. É o que indica todas as pesquisas. E se ganhar, Cesar terá poder de fogo grande para disputar o governo do Estado em 2006.
E também em 2006: Clarisse Garotinho para a Câmara dos Deputados. Mesmo com o casal Garotinho brigado com Brizola, Clarisse era fiel amiga do caudilho, e foi a responsável pela reaproximação do casal com o ex-governador pouco antes dele morrer. Clarisse prefeita em 2008? Não estranharia se ela concorrer/ganhar.

Nem morrendo Brizola deixou de fazer estragos.