16.5.08

Kassab fecha com PR e já soma 9 minutos na TV

Caio Junqueira, Valor Econômico, 08/05/2008


Após atrair o PMDB, o prefeito de São Paulo e pré-candidato à reeleição, Gilberto Kassab (DEM), sela hoje acordo com o PR, garantindo a maior fatia no horário eleitoral gratuito na TV: nove minutos. A legenda também era disputada pela ministra do Turismo e pré-candidata do PT, Marta Suplicy.

Em troca do apoio, Kassab concederá a coligação nas eleições proporcionais e ajuda financeira para material de propaganda dos candidatos do PR. Também será incluída participação no governo municipal em caso de vitória, mais especificamente em duas secretarias: Transportes e Esportes.

Na tarde de hoje, o prefeito se reúne no Palácio do Anhangabaú, sede da administração paulistana, para finalizar o acordo com os cincos vereadores do PR: Antônio Carlos Rodrigues, presidente da Câmara Municipal e do PR na cidade; Toninho Paiva, Agnaldo Timóteo, Aurélio Miguel e Ademir da Guia. O anúncio oficial está pré-agendado para segunda-feira, às 12h, na sede do PR paulistano.

Para apoiar Kassab, o PR resistiu às pressões de Brasília, vindas do ministro dos Transportes e presidente nacional da sigla, Alfredo Nascimento. Integrante da base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu interesse era de que o apoio fosse dado a Marta. Entretanto, o diretório da capital paulista avaliou que houve desinteresse dos petistas em relação à sigla. " Sentimos que estavam namorando outros partidos, isso foi desgastando as conversas " , afirmou o vereador Toninho Paiva. Ainda assim, o partido estava dividido quanto a quem apoiar. Paiva, Aurélio Miguel e Ademir da Guia tendiam a Kassab. Antonio Carlos Rodrigues e Agnaldo Timóteo, a Marta, já que ambos compuseram a base de sustentação da petista durante sua gestão em São Paulo, entre 2001 e 2004.

As articulações foram conduzidas pelo presidente municipal do PR e presidente da Câmara, Antonio Carlos Rodrigues, tido por seus pares como excelente negociador político. Seu primeiro mandato foi exercido na gestão Marta, que, em troca, lhe permitiu indicar um subprefeito e um cargo de alto escalão na Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo (Prodam).

Sua estréia como vereador foi marcada pela defesa dos interesses dos empresários do transporte, área em que Marta regulamentou. Rodrigues lutou, sem sucesso, para aprovar um substitutivo que atendia a interesses de empresários do setor. Nas eleições gerais de 2002 que elegeram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, colaborou com R$ 200 para a campanha a deputado federal do então vereador José Mentor (PT), protagonista do mensalão. Em 2004, sua campanha da reeleição foi a terceira mais cara entre os eleitos: R$ 317 mil, dos quais R$ 242 mil de empresas. Naquele ano, o PR (na época ainda PL) compôs com Marta, mas a chapa José Serra (PSDB) - Gilberto Kassab (DEM) foi vitoriosa.

Isso fez com que ele liderasse o movimento que formou o chamado " centrão " , que na posse de Serra fez uma manobra de bastidores e desbancou o tucano Ricardo Montoro nas eleições da presidência da Casa, colocando no cargo Ricardo Tripoli, até então no PSDB. A partir daí, o " centrão " dita as regras no palácio Anchieta. Sua principal característica é a negociação " caso-a-caso " com o Executivo. A cada projeto de lei encaminhado, trava-se um longo embate cujas chances de aprovação aumentam ao sabor das concessões do prefeito. O método de votação na Casa também é peculiar: nenhuma matéria vai a plenário sem que haja acordo prévio sobre sua votação. Em dezembro de 2006, elegeu-se presidente da Casa com apoio quase unânime dos vereadores, de PT a PSDB.

No decorrer de seu mandato, fez aprovar leis em prol dos vereadores, como a criação de 27 cargos comissionados para funcionários das lideranças dos partidos, instauração de verba livre de mais de R$ 13 mil mensais para cada gabinete e aumento a funcionários de carreira. Seu estilo emocional e truculento fez com que, nos corredores da Casa, dessem-lhe a alcunha de " ACR " , em alusão a " ACM " , ou Antonio Carlos Magalhães, o lendário político baiano.

Ontem, ele recebeu o Valor para uma entrevista, que durou cerca de dez minutos e foi encerrada pelo vereador, aos gritos. Ele ficou indignado quando questionado se eram reais os relatos de que havia na Casa reuniões do colégio de líderes a portas fechadas. Questionou a fonte da informação e, com a negativa, disse: " A entrevista está encerrada " . Em seguida, completou: " E não quero que publique nada sobre mim " .

Rodrigues está presente na máquina pública, quase que ininterruptamente há mais de 20 anos, sempre ligado ao janismo, quercismo ou malufismo, embora depois de 2000 tenha sido um " martista " , e agora, um " kassabista " . Quem o introduziu na vida pública foi Arthur Alves Pinto, vice-prefeito de Jânio Quadros entre 1985 e 1988 e depois secretário estadual de Esporte e Turismo na gestão estadual de Orestes Quércia. Rodrigues foi chefe-de-gabinete de Arthur que, depois, indicou-o ao então governador peemedebista para o Conselho Administrativo do Metrô, onde ficou entre 1987 e 1989.

No fim de seu governo, Quércia o nomeou secretário-adjunto de Esportes e Turismo do Estado. Com a eleição para governador do hoje deputado Luiz Antônio Fleury Filho (PTB), candidato de Quércia, Rodrigues continuou na máquina estatal. Durante toda a gestão Fleury, foi presidente da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo. O cargo lhe trouxe alguns problemas no Tribunal de Contas do Estado, que julgou irregulares contratos celebrados entre a autarquia e empresas privadas.

Do Estado, foi para a prefeitura na gestão de Paulo Maluf (1993-1996), onde atuou como chefe-de-gabinete do secretário das Administrações Regionais, Arthur Alves Pinto. Ficou por lá entre 1995 e 1996. Os dois anos seguintes são caracterizados por aqueles em que Rodrigues ficou fora da administração. Retornou em 1999, mas dessa vez em Guarulhos, como secretário de Serviços Públicos do prefeito Jovino Cândido (PV).

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