15.7.04

Eleição como diagnóstico

Virgilio Abranches
 
Mais do que um plebiscito do governo Lula, as eleições municipais deste ano devem tornar claros os caminhos pelos quais a política nacional tende a percorrer nos próximos anos. Esses caminhos não serão resultado do pleito, mas este servirá como uma espécie de termômetro (não é a melhor analogia), enfim, como algo que vai trazer à tona _a partir de um resultado prático_ como estão realmente divididas as forças políticas do país. Um diagnóstico, enfim.
Trocando em miúdos: até agora foi muito blá-blá-blá. Esquerdistas revoltados, esquerdistas que correram para o centro, outros que foram para a direita, partidos que se fortalecem, partidos que se enfraquecem, mas tudo isso solto no ar. Afinal, o que vai acontecer com a esquerda que outrora depositava suas esperanças no PT? Como eles vão se comportar nas eleições municipais? Vão ficar jogados no vento ou correr para sob o guarda-chuvas das siglas menores e mais radicais? Enfim, a partir destas eleições nós vamos ver para onde está indo, na prática, a esquerda nacional. 
Siglas: o PTB está ousando para voltar, quarenta anos depois da deposição de João Goulart, a ser um partido significativo. É claro que o PTB não é nada igual àquela sigla da Era Vargas. Outra história, tem até collorido. Mas o apoio a Marta Suplicy em São Paulo, a Jorge Bittar no Rio e a fidelidade ao governo Lula estão empurrando a sigla para ter um vice numa possível tentativa de reeleição do presidente. Se a aliança PT-PTB vingar neste ano, está formada uma dobradinha a la PSDB-PFL, que governou o país por oito anos. Outra tendência que as eleições vão mostrar.
O que será do tucanato? Já descolou de FHC? Dá para falar em voltar ao poder sem ter vergonha do passado? Vamos ver. E o PMDB? Cada vez mais fraco? Será o fim de uma era que dura desde a redemocratização?
Eleições regionais _como para governadores e prefeitos_ sempre, inevitavelmente, são sintomáticas em relação ao momento e ao futuro político do país. A História mostra isso. O PMDB se tornou o partido mais forte na década de 80 quando elegeu quase todos os governadores sob a égide dos planos econômicos de Sarney. Mais lá atrás, a ditadura começou a despencar quando foram eleitos prefeitos e governadores oposicionistas.
Com a eleição de Lula em 2002, o panorama político do país começou a tomar um rumo. Com a de 2004, nós vamos saber que rumo é esse.

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