15.2.05

A vingança dos 300 picaretas...
...e a culpa é toda do PT

Marcio Pinheiro

Com 300 votos - especialmente aqueles do baixo clero - Severino Cavalcanti (PP-PE) foi eleito presidente da Câmara dos Deputados. Trata-se do terceiro homem na hierarquia da República.

Um azarão que só conseguiu esse status graças ao PT, o do Planalto e o do Congresso, nesta ordem.

O processo de escolha do candidato petista à sucessão de João Paulo Cunha (PT-SP) foi burra e ingênua. Burra, porque Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) não naturalmente o mais votado e não era o mais querido (tanto da bancada do PT quanto na Câmara em geral). O concorrente Virgilio Guimarães (PT-MG), por outro lado, não perdeu tempo e lançou sua candidatura avulsa. Ele também errou ao insistir nisso até o fim, fechando acordos até com garotinhos.

Mas o grande culpado, vamos logo deixar claro, não foram os petistas Greenhalgh x Virgilio, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (e sua trupe) que trata com desprezo o Congresso nesses dois anos e dois meses de mandato.

Quinze anos depois, os "300 picaretas" se vingaram. Eles aproveitaram o racha do PT para lembrar os acordos e promessas não-cumpridos, a falta diálogo de atenção do primeiro escalão com o baixo clero, as ligações não-atendidas. É o tal "menosprezo pelo sentimento político da Casa", como resumiu bem o governador tucano Aécio Neves.

Lula até enviou 11 ministros para fazer lobby para a eleição de Greenhalgh. Mas era tade demais. Muitos desses ministros não atendiam os parlamentares há dois anos... Sem contar que o próprio presidente enrolou os parlamentares, aliados e inimigos por quase um ano ao não se decidir pelo apoio à emenda de reeleição para as Presidências da Câmara e Senado.

Além disso, o PT passou-se por ingênuo ao confiar na tradição da vitória ao partido com maior bancada, e esperava apoio oposicionista. Não passou pela cabeça das lideranças petistas que o "acordo de cavalheiros", que sempre ocorre nas eleições internas da Casa, poderia falhar.

Quem mais perde com a vitória de Severino não é o governo Lula - o deputado do PP tem tudo para fazer uma gestão sem grandes dificuldades para o Plantalto. Os grandes perdedores foram o Congresso Nacional e o Brasil.

O Congresso, especialmente pela imagem perante a opinião pública, ao eleger um ser reacionário, homofóbico, ultrareligioso e que defende abertamente o nepotismo e aumentos surreais de seu próprio salário. Além disso, questões como as da células-tronco, reforma política, dentre outras, entram automaticamente em xeque.

Quem vai pagar o pato com essa eleição, esperamos, será o próprio Congresso (oposição tucana e pefelista e partidos importantes para a base aliada como o PMDB, PL, PTB e o próprio PP). E o que é vingança hoje contra Lula poderá soar análogo a esses 300 inconseqüentes em 2006. O custo dessa eleição para o Brasil foi de anos para trás, e esperamos que os eleitores de Severino sejam punidos pelos cidadãos.

Por isso, é imprudente apontar a eleição de hoje como o "início da derrota da reeleição de Lula". Em breve chegará uma reforma ministerial na qual Lula terá que acolher os partidos traidores.

E para a nova estrela política brasileira, fica o paradoxo do político rasteiro que não tem o menor compromisso com o "projeto" de Lula para o Brasil. Severino diz que que governará com o Planalto, mas a base da Câmara o elegeu com motivos contrários ao palácio.

Não sabemos ainda como será a sua presidência, mas certamente a relação Executivo-Legislativo será mais trabalhosa e, por isso, o Congresso, que já anda devagar-quase-parando, ficará ainda mais lerdo nesses últimos anos do governo Lula.

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