2.3.05

Alckmin, o querido, Lula, o maldito
Caio Junqueira

O que mais irrita em um governo é a inércia, por falta de vontade ou incompetência, em solucionar os problemas da sociedade. A falta de vontade incomoda um pouco mais que a incompetência, já que pressupõe desvio da finalidade do governante, que foi eleito e é pago para propor soluções.

Mas a incompetência também perturba, porque ela, na maior parte das vezes, decorre da falta de análise do histórico do problema ou da visão a longo prazo equivocada dos resultados que uma medida ou um pacote delas pode oferecer.

A Febem do PSDB paulista é um desses exemplos. Com 69 unidades em todo o Estado, nunca se teve uma política a longo prazo para a construção de novas instalações, tampouco um eficiente combate à delinqüência e reinserção social dos menores.

Além das sucessivas rebeliões em sua história, os números do censo do sistema penitenciário revelam que 15% da população carcerária do Estado passou pelas unidades da Febem. Também aponta que 19% dos 6.623 internos de hoje voltam à instituição depois que saem dela. Ou seja, é fácil constatar que a Febem é um lixo, assim como a política adotada para a sua condução.

Os tucanos, que há dez anos governam o Estado _e, por conseqüência, a Febem, já bateram tanto a cabeça sobre o assunto que a instituição virou uma batata quente no Palácio dos Bandeirantes. Nos últimos anos, passou pelas secretarias de Assistência e Desenvolvimento Social, Esporte e Lazer, Educação e depois voltou à Justiça. E o lixo na sua gestão continua.

Já o modelo de concessão das rodovias adotado no Estado se enquadra no subitem da falta de vontade: a de desonerar o cidadão. Implementada pelo governador Mário Covas e continuada por Geraldo Alckmin, o plano de concessão das rodovias estaduais foi responsável pelo alto preço pago nos pedágios, já que a "concessão onerosa" define como ganhador da licitação o concorrente que, sabendo dos investimentos a serem feitos, e do valor da tarifa fixada pelo governo, fizer a maior oferta pela concessão.

A título de comparação, no processo de concessão das rodovias federais, a União privilegiou o concorrente que ofereceu a menor tarifa. Desse modo, o preço pago pelos usuários das estradas tende a ficar mais baixo.Um terceiro aspecto mistura incompetência com falta de vontade, o da segurança pública. Em 10 anos, não bastasse o crescente histórico de violência na capital, os tucanos não conseguiram segurar o que se chamou de interiorização do crime. No último levantamento trimestral apresentado pela Secretaria de Segurança Pública, mais da metade dos latrocínios e uma parcela crescente de homicídios dolosos ocorreram fora da capital e da região metropolitana. De um modo geral, no interior os crimes cresceram ou então caíram em proporção menor do que na capital.

Não faço aqui proselitismo político. Mas sempre me pareceu que, para essas três questões e
muitas outras de responsabilidade dos governos estaduais, foi esquecido quem é, ou quem são, os constitucionalmente responsáveis.

É mais fácil escutar por aí críticas (devidas) ao “avião do Lula” ou aos “CEUs da Marta” do que “a Febem do Alckmin” ou “o pedágio do Alckmin”. Talvez isso ocorra porque a própria atenção das pessoas esteja mais voltada às políticas de âmbito municipal e federal, culpa até mesmo de um falho federalismo brasileiro.

Mas talvez o fato de Alckmin ser médico, branco, limpo e cheiroso, e com uma filha que trabalha na Daslu, seja outra razão para um tratamento mais cauteloso com seu governo.Mas prefiro acreditar que o que acontece mesmo é falta de vontade e incompetência dos cidadãos em saber o que cobrar e de quem cobrar, apesar de não afastar a crença de que ainda há uma certa dificuldade _principalamente dos ricos_ em se desprender de preconceitos ideológicos e sociais.

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