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Candidatura de Dutra enfrentará resistências

Caio Junqueira De São Paulo Valor Econômico 08/06/09

A indicação feita no sábado pela corrente petista Construindo Um Novo Brasil (ex-Campo Majoritário) do presidente da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra, para presidir o PT é sinal de uma disputa aguerrida pelo cargo que comandará a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010.

Até a semana passada, o provável candidato do grupo para a eleição interna petista que ocorrerá em dezembro era o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, cujo nome era capaz de fazer com que outras correntes do partido reavaliassem o lançamento de candidaturas para disputar contra ele.

Com a desistência de Lula em ceder ao partido seu mais próximo auxiliar no Palácio do Planalto — o presidente quer minimizar a saída da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, tendo-o ao seu lado no último ano de governo — é certo que a eleição interna do PT, tal qual nos últimos anos, virá com mais candidaturas.

O motivo é que Dutra não é um nome consensual como o de Carvalho. “Se fosse o Gilberto teria alguma chance de apoiarmos, mas com o Dutra não. Ele (Dutra) está afastado há anos da direção do partido. Se é para ter unidade que seja em torno do Jose Eduardo Martins Cardoso, que mostrou ter capacidade política e de coordenação para dirigir o partido”, afirmou Joaquim Soriano, secretário nacional de formação política do PT e expoente da corrente Mensagem ao Partido, a mesma do ministro da Justiça, Tarso Genro.

Cardozo, deputado federal pelo PT paulista, é secretário-geral do partido, segundo cargo mais importante da legenda. Seu grupo representa aproximadamente de 20% do partido, pouco menos da metade dos cerca de 42% que o ex-Campo Majoritário possui. Ele deve ser o principal adversário de Dutra nas eleições. O secretário nacional de relações internacionais, Valter Pomar, umas das lideranças da corrente Articulação de Esquerda, também não vê muitas chances de a candidatura Dutra agregar muito apoio nas outras correntes.

“Acho que não vai ter a adesão que eles esperam. Esse movimento não tem chance de prosperar. O que balançaria muita gente seria o Gilberto candidato”, afirma.Ele critica a “operação em nome da unidade” lançada pelo ex-Campo Majoritário, apontando nela um movimento no qual “Estão fazendo uma manipulação do sentimento de unidade do partido em benefício deles, tanto que propõem o candidato a presidente deles para essa unidade. A unidade tem que ser decorrente do processo eleitoral, dos debates sobre programa de governo, sobre a política de alianças, sobre a campanha eleitoral de 2010. É um ponto de chegada, não de partida”, diz.

A Articulação de Esquerda deve lançar a candidatura da deputada Iriny Lopes (ES). Nas últimas eleições internas, o grupo teve cerca de 10% dos votos. O Movimento PT deve lançar a quarta candidatura, a ser definida entre a deputada Maria do Rosário (RS), Geraldo Magela (DF) e Virgílio Guimarães (MG). Em 2007 o grupo se uniu ao PT de Lutas e de Massas, corrente muito forte na capital paulista ligada à família Tatto, e a Novo Rumo, dos ex-prefeitos João Paulo (Recife), Fernando Pimentel (BH) e Marta Suplicy (São Paulo).

Juntas, as três correntes tiveram 20% dos votos e ficaram em segundo lugar. Como com os outros grupos, a maior parte dos seus integrantes apoiaria Carvalho a presidente, situação que se altera com a escolha de Dutra. Com esse cenário, a estratégia do CNB agora será a de dialogar com os integrantes dos outros grupos que tinham manifestado apoio a Carvalho, algo que o próprio chefe de gabinete de Lula se dispôs a fazer. “O nome do Gilberto já tinha apoio mas acabou se inviabilizando. Então agora é trabalhar para tentar aglutinar pelo menos as mesmas forças que já tinham se manifestado pró-Gilberto com o apoio dele mesmo que se dispôs a trabalhar nesse sentido também”, disse Dutra.

Para ele, o fato de ser a primeira eleição presidencial sem o nome de Lula deve ser um fator para unificar o partido. “Tem que colocar essa questão da unidade dentro da realidade do PT. A tradição do PT é de ter vários candidatos e várias chapas, isso tem dado forca ao partido. Mas como é a primeira vez que não teremos Lula candidato isso pode ser um fator que induza à união”, afirma.Ele diz ainda que até 2003, quando era senador pelo PT de Sergipe, “tinha vida muito presente no PT”.

Com a vitória de Lula, ele foi nomeado presidente da Petrobras e se afastou da política partidária. Hoje, esse é o principal obstáculo para sua candidatura ser apoiada por todo o partido.Dentro da CNB, porém, sua candidatura é “irreversível”, segundo o presidente do PT, Ricardo Berzoini. “Temos que dialogar com as bases e as outras correntes para ver se avançamos para um apoio mais amplo. Mas na prática ele sai como candidato”, disse Berzoini.

O ex-ministro da Casa Civil, Jose Dirceu, presente nas reuniões da CNB no fim de semana, é mais cauteloso quanto à irreversibilidade da candidatura Dutra. Ele defende a consulta às bases da CNB e às outras correntes.Para Dirceu, a oposição será colocada nas eleições de 2010 em uma situação parecida com a que o PT esteve em 2002 quanto ao risco das mudanças. “A diferença agora em relação a 2002 é que naquelas eleições as pessoas temiam o que o PT poderia fazer no governo. Agora a pergunta do eleitor será sobre quais mudanças os tucanos poderão fazer em relação aos avanços sociais e econômicos dos oito anos de governo Lula. O discurso deles é de muita pobreza”, afirmou.Ele afirmou ainda que a prioridade do partido para o próximo ano deve ser, nesta ordem: a eleição de Dilma, o fortalecimento da bancada petista e dos aliados no Congresso e depois as disputas estaduais. “Aqui não houve voz dissonante em relação a isso”, afirmou Dirceu.

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