16.12.09

Eleição no diretório paulista coloca em jogo domínio de Quércia no PMDB
Caio Junqueira, Valor Econômico, 11/12/2009


Uma das principais bases do PMDB anti-lulista do país pode sofrer abalos neste domingo, quando o diretório paulista da legenda escolherá seus dirigentes para os próximos dois anos. A tranquilidade do processo eleitoral com a recondução a presidência do ex-governador Orestes Quércia foi interrompida por dissidentes encampados pelo deputado federal Francisco Rossi, ex-Arena, ex-PDS, ex-PTB, ex-PDT e pemedebista desde 2005. Há dez dias, ele saiu da chapa única de Quércia e lançou sua candidatura.

Sua bandeira é a candidatura própria do PMDB ao governo do Estado, cargo a que pretende se candidatar. "Já fui candidato duas vezes, tive quase 7 milhões de votos", afirma, relembrando seu apogeu político, quando foi ao segundo turno em 1994 contra Mário Covas (PSDB). Tentou ainda a prefeitura de São Paulo em 1996, tendo 400 mil votos (7,6%). Em 2004 tentou novamente e obteve 77,9 mil votos (1,3%).

Para a eleição de domingo, parte de uma base de 65 delegados dos mais de 750 que devem votar. É uma manobra de alto risco. Se ficar nesse índice, abaixo de 20%, não terá sequer o direito de indicar um dos 67 nomes do diretório estadual que elegerá os 15 da Executiva no próprio domingo. Pode perder, assim, tantos as eleições internas quanto a possibilidade de conseguir se lançar a governador no próximo ano.

No entanto, está otimista. Seus cálculos apontam ter cerca de 55% dos votos, o que, pela primeira vez em mais de vinte anos, tiraria o grupo de Quércia do poder. "São lideranças da base que estão aderindo espontaneamente, pois desejam a candidatura própria em todos os níveis em 2010", afirma.

Nenhum nome de relevo aparecia até ontem em sua chapa, embora sua candidatura seja atribuída ao PT em articulação com presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), seu único colega de bancada do PMDB-SP na Câmara e cotado para vice na chapa da ministra Dilma Roussef (PT) a presidente. Rossi já há alguns anos é próximo ao PT. Com base política em Osasco, onde foi prefeito por duas vezes, uniu-se em 2004 ao PT local, comandado pelo deputado João Paulo Cunha, para derrotar o PSDB nas eleições municipais daquele ano. No primeiro semestre deste ano defendeu o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Tem, portanto, credencial para enfraquecer Quércia e melar o acordo dele com com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), pelo qual Quércia sairia candidato a senador na chapa tucana.

Temer, assim como o PT, nega ter trabalhado por Rossi. Afirma ter acordo com Quércia para dividir poder no diretório. Apesar disso, Rossi declara que Temer o apóia. "Sei bem o que ele pensa disso tudo", diz Rossi, para quem a presença de Temer na chapa de Quércia é mera formalidade. "Eu também estava na chapa dele e nem havia sido consultado. Além disso, o voto é secreto", afirma.

Seu principal articulador, Fernando Fantauzzi , é explícito: "Foi Temer que convidou Rossi a ser candidato a governador em São Paulo". Mais beligerante que Rossi, é dele que partem os ataques a Quércia. "Há um afloramento dos sentimentos negativos que Quércia cultivou ao longo do tempo e que culminará na sua derrota", diz Fantauzzi.

Empresário na área de comércio internacional, sua empresa, a Interglobal, atua junto ao poder público. Integra, por exemplo, o consórcio com a Siemens e a Odebrecht para o projeto do trem-bala brasileiro. Em fevereiro deste ano, assinou com o governo José Roberto Arruda (DEM), do Distrito Federal, e com uma empresa americana, um Termo de Cooperação Técnica para a construção, em Brasília, de um Centro Financeiro Internacional, como alguns já construídos nos Emirados Árabes e na Malásia.

Ex-delegado de polícia, sua ligação com Rossi é antiga. Foi seu principal articulador durante a campanha ao governo do Estado, em 1998. Chegou a ocupar a Secretaria de Planejamento de São Paulo durante os dezoito dias em que o vice Régis de Oliveira assumiu a prefeitura, no auge da crise política envolvendo o então prefeito Celso Pitta, em 2000. Um ano antes, auxiliou o ex-presidente Fernando Collor na campanha a prefeito de São Paulo.

A dissidência é vista pelos quercistas como ato isolado e sem representatividade, majoritariamente apoiado por filiados de Osasco, embora haja apreensão quanto a eles comporem o diretório se tiverem mais de 20% dos votos. Mas a aposta é que Rossi não chegue a 15%.

Nas últimas eleições internas, em 2006, foi o deputado estadual Jorge Caruso que incorporou o anti-quercismo. Obteve mais de 30% dos votos, mas ali havia um apoio mais explícito de Temer a ele. Agora, para acalmar opositores, o que os quercistas fizeram foi juntar todas as lideranças em uma chapa e deixar a discussão que divide o partido -se aliar ao PT ou PSDB em 2010- para o primeiro semestre. Uma terceira corrente tem crescido e quer a candidatura própria, recém lançada pelo governador do Paraná, Roberto Requião, que acompanhará as eleições em São Paulo neste domingo.

"O que estamos discutindo é a chapa dos próximos dois anos, não a candidatura própria e a coligação estadual e nacional. Isso só vai ser decidido em junho", afirma Caruso, que justifica sua reaproximação a Quércia a uma democratização da legenda implementada pelo ex-governador.
O discurso da unidade também agrada os insatisfeitos com um partido cada vez mais à míngua no Estado, após governá-lo por oito anos, entre 1986 e 1994. O enfraquecimento coincide com o controle absoluto de Quércia na sigla. Participando do chapão, os opositores se sentem prestigiados no debate interno.

Para Airton Sandoval, secretário-geral da legenda e principal operador de Quércia dentro do PMDB paulista, o que a chapa propõe é levar a idéia da unidade para o PMDB nacional. "Pretendemos fazer no país o que estamos fazendo aqui: unir todas as lideranças para a campanha de 2010". Definir ao lado de quem é tarefa para o próximo ano.

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