23.12.09

Serra oferecerá ministérios sociais a Aécio
Caio Junqueira, Valor Econômico, 23/12/2009

O comando dos ministérios da área social a partir de 2011 é a principal oferta que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), fará ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), para atraí-lo como vice na chapa presidencial que deverá ser encabeçada pelo paulista nas eleições de 2010.

Embora o assunto ainda seja tratado com reserva no Palácio dos Bandeirantes, a avaliação é de que "metade" de um eventual governo Serra em Brasília deverá ser oferecido a Aécio para que ele aceite a composição. O governador de Minas só não teria ingerência nos ministérios da área econômica, como Fazenda e Planejamento, que liberam verbas para a área social, e ficariam sob controle de Serra.

O que o governador paulista pretende é algo semelhante ao que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fez com ele em seu primeiro mandato. Serra iniciou a era FHC como ministro do Planejamento. Deixou-a para disputar a Prefeitura de São Paulo em 1996 e, sem conseguir lugar no segundo turno (disputado por Celso Pitta e Luiza Erundina), voltou a Brasília e pediu o Ministério da Fazenda, então ocupado por Pedro Malan.

FHC negou, sob a justificativa de que um ministério social daria projeção nacional e apelo popular a Serra. Foi o que acabou acontecendo a partir de 1998. Até hoje o governador vale-se de seus feitos como ministro da Saúde -genéricos e programa da Aids, por exemplo- como capital eleitoral de todas as disputas de que participa.

É esse argumento que tem sido elaborado pela articulação política do governador paulista na tentativa de seduzir Aécio. Tendo sob seu domínio ministérios como Desenvolvimento Social , Desenvolvimento Agrário, Educação, Esporte, Saúde e Trabalho, o governador mineiro conseguiria projetar seu nome em setores com forte apelo popular e ainda implementar o que foi a tônica de seu discurso neste ano: o de que a próxima era seria o "pós-Lula".

Isso porque são nessas pastas que se concentram os programas-vitrine do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como o Bolsa-Família (Desenvolvimento Social) e o Pronaf (Desenvolvimento Agrário). O ministério dos Esportes terá grande destaque nos próximos oito anos, com a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016. Aécio, aliás, ao contrário de Serra, é muito próximo ao presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira. O Ministério do Trabalho vem sendo comandado há anos pelo PDT, partido com o qual tem ótima relação e inclusive ameaçava sair do barco da ministra da Casa Civil e pré-candidata a presidente, Dilma Roussef (PT), caso o mineiro fosse o candidato.
Com essas áreas em mãos, Aécio conseguiria se projetar nacionalmente e ser o sucessor de Serra em 2018, já que o projeto de poder pensado no PSDB paulista para ser apresentado a Aécio é de 16 anos.

Os tucanos avaliam que Lula não voltará em 2014, pois não pretende colocar em risco o prestígio nacional e internacional que conseguiu obter. "Ele vai ficar lá em São Bernardo do Campo, tomando uma cachaça no boteco com os metalúrgicos, depois volta para casa, põe terno e vai tomar chá com a rainha da Inglaterra. Já é um mito e assim vai querer permanecer", afirma uma fonte do Palácio dos Bandeirantes.

Em São Paulo, apesar do governo ter sido pego de surpresa pela desistência de Aécio, acredita-se que todo o processo está sendo premeditado pelo mineiro. A antecipação do anúncio da desistência teria o objetivo de dar tempo aos mineiros para absorverem a desistência de seu popular governador e ampliar o tempo durante o qual os oposicionistas vão implorar a Aécio para que ele componha a chapa com Serra.

Até lá aumentaria seu poder de negociação, visto que ele sabe que Serra, sem seu apoio em Minas, enfrentaria mais dificuldades para vencer Dilma em outubro. A oferta a Aécio ainda não foi feita, tendo em vista que Serra mantém o discurso de que o debate sucessório não deve ser antecipado, mas a partir de janeiro as tratativas começarão a ser feitas diretamente entre os dois governadores. "Os dois conversam direto", afirma um interlocutor de ambos.

Alckmin intensifica agenda no interior para neutralizar Nunes Ferreira
Caio Junqueira, Valor Econômico, 22/12/2009

Favorito para a sucessão ao Palácio dos Bandeirantes, o secretário de Desenvolvimento de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), reforçou neste fim de ano sua agenda pelo interior paulista, onde tem índices de apoio muito superiores aos da capital. É uma estratégia para neutralizar a preferência da cúpula do governo paulista pelo secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB). No espaço de 20 dias corridos entre os dias 1º e 20 de dezembro, o ex-governador paulista visitou 18 municípios, quase um por dia.

A agenda pelo interior incluiu, majoritariamente, as Etecs, escolas técnicas do governo paulista. Alckmin tem viajado seja para vistoriar obras dessas escolas (como na cidade de Rancharia, no sábado), inaugurar essas obras (como em Birigui, no dia 4) ou assinar convênios liberando recursos para viabilizar essas obras (como no dia 12, na região de Marília, ocasião em que liberou R$ 2 milhões para os municípios de Santa Cruz do Rio Pardo e Ourinhos).

Outros eventos de que participou são mais atípicos, como a assinatura, no dia 16, do "credenciamento provisório do Parque Agrotecnológico de Barretos (AgroTechPark) no Sistema Paulista de Parques Tecnológicos (SPTec)". Ou a inauguração da "nova fábrica de luminárias baseadas na tecnologia LED do grupo belga Schréder", em Vinhedo, no dia 1º .

O governador também se reuniu com representantes de dez prefeituras do interior, dentre os quais alguns dos principais colégios eleitorais do Estado: Agudos, Campinas, Iperó, Jaguariúna, Jundiaí, Pedra Bela, Piracicaba, Porto Feliz, Santos e São José dos Campos. O encontro foi para apresentar os trabalhos da Investe SP, agência que fomenta investimentos no Estado.

Por trás da agenda da secretaria, Alckmin percorre o Estado para viabilizar seu retorno ao governo paulista. Embora seus concorrentes estejam distantes nas pesquisas eleitorais - no Datafolha divulgado ontem ele tem 50%, contra 14% quando o principal adversário é Ciro Gomes (PSB) e 14% se for Marta Suplicy (PT) -, o que atrapalha o ex-governador é sua situação interna no PSDB.

Rusgas de outros processos pré-eleitorais como o presidencial de 2006 e o municipal em São Paulo em 2008 permanecem. Nessas ocasiões, Alckmin impôs sua candidatura contra a vontade da cúpula do partido. Em 2006, Serra queria ser candidato a presidente e teve de recuar. Dois anos depois, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) era o candidato apoiado por parte do PSDB, que dividia com ele a administração municipal.

Alckmin, porém, lançou sua candidatura e o PSDB sangrou. Kassab venceu a campanha enfrentando ataques diretos de Alckmin a ele e seus aliados, como o ex-governador Orestes Quércia (PMDB). Hoje os dois, ao lado da maior parte da cúpula do PSDB paulista, defendem a candidatura Nunes Ferreira. Ele é o candidato oficial do governador, mas tem desempenho pífio nas pesquisas. No levantamento publicado ontem, seu nome nem sequer foi considerado pelo Datafolha.

Nos mesmo período em que Alckmin visitou 18 cidades, Nunes Ferreira esteve em seis, em algumas delas com caráter estritamente político: Araras (encontro com o prefeito), Vera Cruz (anúncio de obras), Caraguatatuba (assinatura de termo de cessão do imóvel do município ao Estado para instalação de unidade do Poupatempo), Ribeirão Preto (encontro partidário), Avaré (recebeu o título de Cidadão Avareense) e São José do Rio Preto (assinatura de convênio para área esportiva).

Com os dois postulantes, a possibilidade de prévias não está descartada e isso explica o périplo de Alckmin pelo interior ser muito maior que o de Nunes Ferreira. Alckmin tem poucos recursos em mãos em comparação com o volume total do orçamento paulista. Sua secretaria é responsável basicamente pelas escolas técnicas. Já Nunes Ferreira é responsável pela liberação de recursos aos prefeitos. Só neste ano, liberou R$ 239 milhões.

Por outro lado, o desempenho eleitoral de Alckmin é melhor no interior do que na capital. O Datafolha de ontem mostrou que chega a 54% nesta região, contra uma variação entre 39% e 46% na capital. Reforçar esse apoio em encontros com lideranças municipais, além de tentar anular os recursos financeiros de Nunes Ferreira, pode auxiliá-lo no caso de prévias, onde cerca de 4 mil delegados espalhados pelo Estado votam.

O único que poderia evitar o confronto direto entre os dois é Serra, aceitando a candidatura Alckmin como solução para não enfrentar problemas em seu Estado durante a campanha presidencial. Para tanto, teria que articular com seus aliados. O mais provável atualmente é que Kassab indique a vice de Alckmin, que hoje seria preenchida pelo secretário de Trabalho paulista, Guilherme Afif Domingos (DEM).

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