24.8.10

Máquinas de governo e famílias puxam voto para PT e PMDB

Caio Junqueira, Valor Econômico, de Brasília, 24/08/2010

Uma espécie de "empate técnico" entre PT e PMDB para as vagas na Câmara dos Deputados deve deixar em dúvida, até a abertura das urnas, qual partido irá largar na frente na intrincada divisão de poder que os dois partidos farão em um eventual governo de Dilma Rousseff (PT).

O mapa dos partidos obtido pelo Valor para a eleição de deputados federais aponta que os pemedebistas elegerão 99 deputados, contra 98 dos petistas. Nesse cenário, o partido do vice de Dilma, Michel Temer (PMDB), tem uma vantagem que, embora estreita, confere-lhe maiores direitos. Um deles, imediato, é a preferência na escolha dos principais cargos diretivos da Casa. Outro, não menos importante, é que o número de eleitos também é o primeiro critério a se verificar na divisão dos cargos nos ministérios e nas estatais, do primeiro ao terceiro escalões.

Os dados das duas legendas, com recorte por Estado, apontam ainda o que esperar do perfil dos deputados das duas maiores siglas do país. Assim como nas campanhas majoritárias, o PT aposta na popularidade e nos oito anos de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para alavancar as candidaturas das eleições proporcionais. Também é tido como um ponto a favor as pesquisas que colocam a sigla com entre 25% e 30% na preferência do eleitor, na medida em que os resultados de eleições passadas demonstram que esse índice fica próximo do número de votos e de deputados. Por exemplo, em 2002 o PT tinha 20% de preferência, teve 18,4% dos votos e 17,7% de deputados. Quatro anos depois, abalado pela crise do mensalão, tinha 16% de preferência, teve 14,9% dos votos e elegeu 16,2% de deputados.

Para este ano, a expectativa é de que o alto percentual de preferência se traduza em maiores aumentos de bancada do PT nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste (ver quadro nesta página), justamente onde os índices de aprovação de Lula chegam a mais de 90%. Nesses locais, assim como no no Sudeste e no Sul, os nomes petistas com mais chances de serem eleitos são figuras conhecidas em seus Estados. Isso decorre da estratégia de selecionar poucos nomes - para abrir espaço para coligações proporcionais com aliados - mas com grande potencial de voto. Para tanto, optou-se por pinçar pessoas beneficiadas direta ou indiretamente pelos reflexos do crescimento da economia nos últimos anos nos Estados e nos municípios.

São ex-prefeitos, ex-secretários municipais e estaduais, primeiro e segundo escalões do governo federal, dirigentes regionais de estatais e autarquias, como a Caixa Econômica Federal e o INSS. Todos saídos das máquinas públicas municipais, estaduais e federais, com intimidade com a gestão pública e que foram largamente expostos nas mídias locais nos últimos anos.

Eles compõem a maior parte da lista dos cerca de 30 nomes que são considerados pelo partido como favoritos para se somar aos 66 deputados petistas que tentam a reeleição e que, espera-se, sejam todos reeleitos. A estimativa é que serão eleitos 15 candidatos a mais do os 83 eleitos em 2006.

Nessa mesma lista dos 30 nomes, há um número reduzido em relação a outras eleições de candidatos ligados diretamente aos movimentos sociais ou ao chamado "voto de opinião". Assim, após os oitos anos da era Lula, o perfil predominante do novo deputado petista tende a ser de pessoas já experimentadas na máquina pública. "Na primeira eleição de Lula, em 2002, o perfil era de pessoas mais ligadas diretamente aos movimentos sociais. Em 2006, houve um misto na bancada entre entre pessoas ligadas a esses movimentos e à máquina pública. Agora, a característica de pessoas ligadas à máquina pública já deve prevalecer", afirma Antonio Augusto de Queiroz, assessor parlamentar do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Na prática, segundo ele, isso quer dizer mais deputados petistas pragmáticos, ligados às bases municipais e com maior senso de coesão governista, o que pode ser benéfico Dilma, no caso de ela ser eleita.

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), discorda. "Não há e nem haverá diferença de perfil. O que há é uma unidade maior decorrente das depurações que a bancada passou nos últimos anos, com a saída de parlamentares à esquerda e à direita", afirma. Ele diz ainda que a característica geral dos deputados continuará sendo a de quadros políticos históricos do partido ligados ao voto de opinião. "Não é porque foi prefeito ou secretário que passa a ser um político da máquina pública. É o contrário. Ele foi para a máquina pública porque era um quadro político".

No PMDB, não há uma previsão de grandes mudanças. O cálculo é de uma bancada com 99 deputados, dez a mais do que em 2006 e sete a mais do que a bancada atual, da qual pelo menos 14 tentam se reeleger. Nesse desenho, os Estados tendem a manter o mesmo número de cadeiras que de quatro anos atrás. As alterações maiores ocorrem onde o partido tem governador, como Maranhão, Paraíba e Rio de Janeiro.

Na lista, o que mais chama a atenção é a presença de novatos na política que são impulsionados por parentes que deixam a Câmara para tentar o Senado ou cujos padrinhos pretendem ter um braço político no Legislativo federal.

É o caso de João Arruda, 34 anos, secretário-geral do PMDB-PR e sobrinho do ex-governador do paraná Roberto Requião. No governo do tio, foi diretor de Lazer e Qualidade de Vida do Paraná Esportes, autarquia paranaense, e diretor de Relações Institucionais e Comunitárias da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar). Outro caso é o de Renan Filho, filho do senador Renan Calheiros, que após dois mandatos seguido na prefeitura de Murici (AL), parte para a disputa na Câmara.

Para o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), que ruma para o 11º consecutivo no mesmo partido, a única previsão possível de ser feita é quanto à unidade da bancada. "Seremos mais unidos e compromissados com o Executivo, se a Dilma vencer".


Pemedebistas da Paraíba buscam o voto das oligarquias para aumentar bancada


Neófito na política, o candidato a deputado federal Wilson Santiago Filho tem 21 anos, R$ 4,8 milhões na conta e, calcula-se, metade dos votos de seu pai, o deputado federal Wilson Santiago (PMDB-PB), atual candidato ao Senado pela Paraíba. Ao lado de outro filho de político, da mãe de um e do sobrinho de outro, ele integra a bancada dos pemedebistas paraibanos familiares de políticos de expressão que tentam aumentar a bancada do partido de três para quatro nas eleições de outubro.

A razão para tanta familiaridade no perfil da disputa interna deste ano é que, dos três eleitos em 2006, dois deixarão a Câmara para tentar o Senado. Como não querem deixar a vaga ser ocupada por outro grupo político, planejaram transferir sua base eleitoral a seus parentes. Além de Santiago, Vital do Rego Filho tenta ser senador neste ano e eleger a mãe, Ozanilda Vital do Rego (Nilda Gondim) para a sua vaga na Câmara.

Vital e Santiago foram, respectivamente, o primeiro e o segundo mais votados da Paraíba em 2006, com 168,3 mil votos e 163,6 mil votos, respectivamente. O cálculo é que conseguem transferir para seus herdeiros políticos pelo menos metade desses votos, o que os elegeria, já que, foi próximo a essa mesma metade - 75,4 mil - que o menos votado se elegeu.

Além deles, o PMDB estadual tem outros familiares para ajudar o maior partido do país a manter o status de maior partido do Congresso. Trata-se de Hugo Motta, 21 anos, estudante de medicina e filho do prefeito de Patos (PB), Hugo Wanderley (PMDB) e neto, por parte de pai, do prefeito que governou a cidade entre 1956 e 1959. Seu site de campanha diz ainda que "seu avô materno foi deputado estadual cinco vezes e duas vezes deputado federal. Já sua avó materna foi quatro vezes deputada estadual e está, nessas eleições de 2010, disputando o quinto mandato".

Seu pai foi eleito prefeito em 2008 com 97,3% dos votos válidos, uma das maiores votações proporcionais do país, e agora tenta levar o mais novo nome da família para Brasília.

A expectativa de vitória do governador José Maranhão (PMDB) é outro provável impulso para fazer da bancada do PMDB da Câmara. No cargo há um ano e seis meses, após a cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral do mandato de Cássio Cunha Lima (PSDB), ele já lidera as pesquisas eleitorais contra seu principal adversário, o prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho (PSB).

Um fator que o auxilia foi a aproximação com os prefeitos feita no pouco tempo de governo. Dos 203 municípios, 161 estão com ele. Quando assumiu, eram 77.

Para o presidente do PMDB-PB, Antonio Silva, a transmissão de capital político a descendentes é comum em todo o país. "O clã político, quando já está em determinado patamar, procura dar continuidade a ele. Isso faz parte da cultura política de todo o Brasil", afirma. Como exemplo, cita um Estado da região Sul: "O Zé Richa (ex-governador do Paraná) trabalhou para que seu filho Beto Richa chegasse onde chegou." (CJ)


Petistas que tentam estrear na bancada de Tocantins saíram do 1º escalão


Sem nunca ter eleito um deputado federal desde que foi emancipado de Goiás, em 1988, o PT de Tocantins aposta neste ano na presença partidária nas máquinas públicas da capital, Palmas, do governo do Estado e do governo federal para ocupar pelo menos duas cadeiras na Câmara a partir de 2011 - o que configuraria um aumento de 200% sobre sua bancada atual.

Seus quatro candidatos a deputado federal participaram durante os últimos oito anos de algum órgão do governo. José Messias de Sousa foi superintendente da Caixa Econômica Federal. Darci Coelho foi secretário de Governo do prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), gestão que também abrigou Maria Helena Brito Miranda na Secretaria de Desenvolvimento Social, Trabalho e Emprego; e José Donizete na Secretaria de Orçamento Participativo e Programas Especiais.

Dos quatro, José Messias é o favorito para amealhar o maior número de eleitores. Gerente da Caixa em municípios tocantinenses há 25 anos, assumiu a superintendência estadual do banco em 2003, mesma época em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adentrava o Palácio do Planalto. Aproveitou para, no mesmo ano, filiar-se ao PT. Sob sua gestão no banco, afirma, foram construídas mais de 40 mil casas populares no Estado, o que o ajudou a estabelecer vínculos que hoje devem levá-lo à Câmara.

"Minha candidatura foi se contruindo ao longo do tempo por meio dessa rede de relacionamentos com parlamentares, ministérios. Uma interação boa com prefeitos, pois fizemos muitos convênios com eles. Um apoio fantástico do setor da construção civil, tanto dos empresários quanto dos trabalhadores", diz.

As outras candidaturas petistas vêm menos fortes que a dele, embora mais um ou dois nomes devam ser eleitos além de Messias. O motivo de sua vantagem é que dois de seus correligionários são neopetistas que, outrora, estiveram com os adversários.

Darci Coelho, ex-PP e ex-PFL, era braço direito do homem que já comandou o Estado por três vezes e que, agora, tenta mais uma vez: Siqueira Campos (PSDB). Em 2009, depois de ajudar o prefeito Raul Filho na composição política de sua campanha à reeleição, filiou-se ao PT. É o candidato preferencial de Raul, mas sua candidatura agrada mais os antigos simpatizantes de Siqueira do que a militância petista.

Já Maria Helena Miranda é tia do ex-governador Marcelo Miranda (PMDB), cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral em 2009 e que atualmente disputa uma vaga no Senado. Em seu governo, exerceu o cargo de secretária do Trabalho e Assistência Social. Ela é também irmã de José Edmar Brito, que foi secretário de Governo e de Infra-Estrutura de Siqueira Campos. Em 2009, contrariando a vontade dos familiares, filiou-se ao PT.

Diferentemente de Dirceu e de Maria Helena, o quarto candidato é José Donizete, um dos mais antigos petistas do Estado. Foi candidato, sem sucesso, a deputado federal em 1988, estadual em 1990 e a senador em 1994. Eleito presidente estadual da legenda em 2009, atuou para ter nomes já conhecidos dos eleitores no rol de candidatos. "Trabalhamos para lançar os nomes com maior densidade eleitoral", afirma. (CJ)

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