3.7.08

Conselho Político testa coligação de Marta

Caio Junqueira
Valor Econômico, 03/07/08

Condição determinante para que o apoio do chamado bloco dos partidos de esquerda (PCdoB-PSB-PDT-PRB) fechasse a coligação com o PT em São Paulo, o conselho político da candidata do PT à Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, reúne-se pela primeira vez na tarde de hoje e submete a coligação a seu primeiro teste no início desta campanha.

Os petistas vão propor que o conselho seja responsável para dirimir apenas questões mais comezinhas, como as demandas de vereadores. Discussões cruciais relacionadas a estratégias da campanha e programa de governo ficariam com o comando geral da campanha, que já se reuniu algumas vezes e é composto atualmente apenas por petistas.No desenho proposto pelo PT, essa comando geral passaria a incorporar o conselho político que se reunirá hoje. Só que a participação dos partidos aliados seria metade daquela que integra o conselho político. A outra metade seria composta pelas bancadas federal e estadual dos partidos com base eleitoral em São Paulo.

“Existe uma discussão para unificar esses grupos. Vamos indagar se o conselho discutirá apenas questões partidárias”, disse o presidente municipal do PT, vereador José Américo. “Queremos algo mais ampliado e dinâmico. Se for necessário em algum momento se reunir só com os partidos, aí reunimos”, disse o coordenador-geral da campanha, deputado federal Carlos Zarattini.

A proposta será debatida hoje, mas já tem oposição dos partidos do bloco, que tinha como uma das principais resistências à composição com o PT o risco de uma participação menor na campanha. “Não queremos cair no isolamento. Assim é ruim para nós porque não estamos indo para a eleição como adesistas. E para o PT também não acho bom, porque não soma. Não pode acontecer isso”, afirmou o presidente municipal do PDT, vereador Cláudio Prado. “O Conselho deve abordar as linhas de campanha e o programa de governo, definir as diretrizes políticas”, afirmou a presidente municipal do PCdoB, Julia Rolland.

Os partidos aliados também receiam que uma vez inseridos em uma coordenação maior, sua participação acabe diluída. Isso porque na estrutura já formada pelo PT há cerca de 30 petistas ocupando cargos operacionais e políticos na campanha, como a coordenação-geral (deputado Carlos Zarattini), a tesouraria (Luciano Barbosa) e as coordenações de programa de governo (Jorge Wilheim), Relações Institucionais (deputado Rui Falcão), Grupo de Trabalho Eleitoral e candidatos (Antonio Carlos Gambarini), Comunicação (Valdemir Garreta), Infra-Estrutura (Edson Ferreira), Mobilização (Tadeu Paes) e Agenda (deputado Simão Pedro), além de toda bancada paulistana federal (Jilmar Tatto, Arlindo Chinaglia, Paulo Teixeira, José Genoino, Cândido Vaccarezza), estadual (Zico Prado, Vicente Cândido, Adriano Diogo) e os dirigentes nacionais (Ricardo Berzoini e José Eduardo Cardoso), estaduais (Edinho Silva e Vilson de Oliveira) e municipais (José Américo e Rubens de Souza) do partido, e do líder do PT na Câmara , Arselino Tatto.

Em relação ao programa de governo, o PT pretende que a discussão programática com os partidos do bloco seja feita dentro dessa coordenação, comandada pelo secretário de Planejamento da gestão Marta, Jorge Wilheim. A participação intensiva dos partidos do bloco nessa área foi outra condicionante para o fechamento da aliança. E é nela que os maiores debates internos devem ocorrer, em especial na área da educação, que foi vitrine do governo Marta entre 2001 e 2004.

Integrantes da coligação têm uma visão diferente dos Centros Educacionais Unificados (CEUs), implementados por Marta e que a gestão José Serra (PSDB)-Gilberto Kassab (DEM) deu continuidade. Para eles, a proposta dessas escolas deve ser estritamente educacional, com aula integral e só eventualmente funcionar —conforme idealizado por Marta— como um equipamento social das áreas periféricas em que estão localizados.

Apesar da congruência em boa parte dos pontos a serem discutidos, como o passe livre para desempregados e a regularização fundiária de áreas em que os ocupantes não tenham o título de propriedade, há outras contendas como a sugestão de uma empresa municipal de transporte coletivo que opere cerca de 7% da frota de ônibus da cidade e que serviria como parâmetro de qualidade operacional e tarifária às outras empresas. Algo como a Carris porto-alegrense, uma sociedade de economia mista com o controle acionário da prefeitura.

A primeira reunião do conselho, porém, deve focar mais o papel que ele terá na campanha do que o conteúdo programático. Com a indicação inicial de dois integrantes por partido para a reunião de hoje, a composição do conselho tem caráter heterogêneo, com metalúrgicos, empresários e políticos. Um dos integrantes, inclusive, foi adversário de Marta na campanha em 2000. Trata-se do presidente nacional do PTN, José de Abreu, que foi deputado federal pelo PSDB no primeiro mandato presidencial de Fernando Henrique Cardoso e candidato à prefeitura em 2000 pelo PTN, mesmo partido do então prefeito Celso Pitta. Naquela campanha, ele adotou o bordão: “Chega de doutores e madames; tá na hora de um Zé na prefeitura”.

O apoio de Abreu é tido no PT como relevante por atrair o voto nordestino, já que Abreu é o idealizador do Centro de Tradições Nordestinas, que, segundo o seu site, é “uma entidade de caráter social, recreativo e artístico cultural criado com o objetivo de dar atendimento especial à população nordestina de São Paulo”. Ele também é proprietário de uma rádio com grande penetração nas camadas mais populares.

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