21.7.08

TV acirrará disputa de PSDB e DEM por Serra
Caio Junqueira
De São Paulo
Valor Econômico, 14/07

A disputa entre o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) pela presença do governador José Serra (PSDB) em suas campanhas deve se acirrar com o início do horário eleitoral gratuito da televisão, em 19 de agosto, quando ambos pretendem abusar das imagens de Serra em seus programas e da importância da parceria entre governo do Estado e prefeitura para melhores resultados na gestão. A diferença é na forma de utilização dessas imagens.

Tendo por “primeira obrigação de campanha não constranger o Serra ” — nas palavras de um estrategista do prefeito—, Kassab exibirá imagens dos dois sem que elas tenham ligação direta com as eleições de outubro deste ano. Entretanto, imagens das eleições de outubro de 2004, quando compuseram a chapa vencedora em São Paulo, serão mostradas sob o pretexto de apresentar sua biografia e também de prestar contas da administração municipal iniciada pelo governador e continuada pelo atual prefeito. Essa, aliás, é uma preocupação já apresentada por Serra ao comando da campanha. Pedido de votos diretos de Serra , porém, estão descartados, em respeito à regra do “não-constrangimento”.

Em seu lugar, as muitas declarações de apreço por Kassab que o governador tem feito, exaltando resultados da parceria para a cidade. Há duas semanas, por exemplo, Serra disse que essa parceria “nunca foi tão estreita, coisa que nunca tinha acontecido na história de São Paulo” e que “vai continuar sendo, se Deus quiser, no futuro”. Desde o lançamento da candidatura Alckmin , Serra e Kassab já estiveram juntos oficialmente em pelo menos quatro situações. Os dois tucanos, nenhuma.

Esse dado não é levado muito em conta pela campanha do ex-governador. A avaliação é de que o momento oportuno para a entrada de Serra no processo eleitoral do PSDB é com o horário gratuito de TV. Até lá, a intenção é que o ex-governador compareça a todos os 96 distritos da cidade como forma de ter contato pessoal com os eleitores e ouvir suas demandas.

Isso decorre do fato de, diferentemente de Kassab , Alckmin já ter densidade eleitoral na cidade em razão das eleições que participou e dos cargos que ocupou. Nessa linha, as necessidades dos dois são diferentes: Kassab precisa mais de Serra do que Alckmin , embora a campanha tucana também tenda a explorar a parceria, tal qual Serra a explorou nas eleições de 2004.

Os articuladores de Alckmin , aliás, fazem repetidas menções ao processo eleitoral de quatro anos atrás, quando a situação era invertida: Serra disputa a prefeitura e Alckmin ocupava o Palácio dos Bandeirantes. Segundo esses tucanos, a expectativa é de que o atual governador atue como Alckmin naquele embate com Marta Suplicy (PT): suba palanque, peça votos e faça caminhadas.

Pesquisas eleitorais também deverão dar o tom dessa participação. O mais recente Datafolha apontou que 63% dos eleitores afirmam que Serra deveria apoiar Alckmin , ao passo que 24% disseram que deveria declarar apoio a Kassab . Para 6%, não deveria apoiar candidato algum. Afora isso, um distanciamento de Alckmin (31%) de Kassab (13%) nas pesquisas força a entrada mais contundente de Serra na campanha do tucano. Essa é, inclusive, a opinião do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), com o qual a coordenação da campanha tucana se encontrou na semana passada no Palácio da Liberdade.

A análise é de que Alckmin deve aproveitar o período pré-televisão para se distanciar de Kassab e forçar automaticamente a presença de Serra na campanha para polarizar com o presidente Lula, que entrará forte na campanha de Marta . O governador, de acordo com essa avaliação, precisaria contrabalancear a presença ostensiva do governo federal na disputa da capital paulista. Enquanto dispensa a presença de Serra neste primeiro momento da campanha, os alckmistas estruturaram essa fase com três agendas diferenciadas pela cidade, encampadas, além do próprio Alckmin , pelo seu candidato a vice, Campos Machado (PTB), e também pela sua mulher, Lu Alckmin . A prioridade são os eleitores da periferia, de baixa renda, em especial moradores dos redutos petistas.

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