3.7.08

Marta redesenhará campanha de reeleição de Lula

Caio Junqueira e Talita Moreira, Valor Econômico, 30/06/08

O lançamento oficial da campanha de Marta Suplicy à Prefeitura de São Paulo assimilou características da vitoriosa campanha da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva dois anos atrás. Em longo discurso feito na tarde de ontem, a petista sinalizou que tanto o eleitorado das classes populares que tem se beneficiado com políticas sociais do governo federal quanto a parcela desse setor que tem ascendido para a chamada nova classe média serão as prioridades de seu eventual governo. Em 2006, Lula, que, como Marta agora, foi comandado pelo marqueteiro João Santana, buscou consolidar o voto nas faixas C, D e E.

" Temos três objetivos básicos: ampliar a inclusão social dos mais pobres, sustentar o processo de ascensão social daqueles que hoje estão formando uma nova classe média paulistana e consolidar as nossas classes médias " , disse. Para satisfazer essa nova classe média, Marta falou em " uma nova política de inclusão empresarial e industrial, que privilegie o empreendedorismo e a criatividade popular " . " Assim como as pessoas se beneficiam da inclusão social, essas empresas necessitam de uma política de inclusão para elas para crescer, produzir e empregar mais " . Como medidas concretas disso, citou políticas municipais de crédito e de desoneração fiscal.

Assistida por cerca de 1 mil militantes e por uma mesa formada por dois integrantes do governo federal, o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, Luiz Antonio de Medeiros (PDT), e o ministro do Turismo, Luiz Barreto, além do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), dos senadores petistas paulistas Aloizio Mercadante e Eduardo Suplicy, e dirigentes dos partidos da coligação (PT-PCdoB-PSB-PRB-PTN), a luta de classes e a sugestão de uma eleição dividida entre progressistas e conservadores foram outros pontos que se assemelharam ao discurso de Lula e aliados na campanha de 2006.

" O que temos aqui é a união de forças progressistas " , disse Marta. Antes, seu candidato a vice, o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP), afirmara que se tratava de um frente " de todos que lutam pela ampliação dos direitos sociais daqueles que nunca tiveram direitos ao longo da história " e que a coligação é atacada " por forças que não representam as forças sociais e emergentes na vida e na política de São Paulo " Na sua fala, Chinaglia também alertou que " Marta, como o Lula, governa para os pobres " .

A ex-prefeita se posicionou em relação aos adversários. A idéia é falar em falta de continuidade ou desconfiguração de programas iniciados quando foi prefeita, entre 2001 e 2004, principalmente quanto à educação e transporte, áreas em que foi bem avaliada. Em setores mais delicados, como a saúde, onde foi mal avaliada, Marta atribuirá culpa à gestão Celso Pitta (1997-2000), da qual o prefeito e candidato à reeleição, Gilberto Kassab (DEM), participou. " Foi a herança que nos deixou o governo Pitta-Kassab. Maluf (prefeito entre 1993 e 1996 e atual candidato) criou o PAS, que Pitta e Kassab mantiveram. E o PAS bloqueou a integração de São Paulo no SUS, desmantelando o setor de saúde. "

O lançamento da campanha de Marta também mirou 2010. Ela falou em futuro dos programas de transferência de renda. " A grande questão é avançar desses programas para os de emancipação social. Isso, aliás, é um dos pontos centrais de preocupação, no momento, do governo federal. São Paulo quer ajudar o Brasil a escrever isso " . Petistas ressaltaram que uma eventual vitória da ex-prefeita facilitará a permanência do partido no Palácio do Planalto no pós-Lula.

" É obvio que quem vence em São Paulo aumenta suas chances para 2010 " , afirmou o presidente do diretório municipal do PT, vereador José Américo. O deputado federal Jilmar Tatto foi além e disse que é natural que o PT encabece a chapa nas eleições presidenciais, tendo como vice um nome apontado pelos partidos do chamado " bloquinho " da esquerda (PCdoB-PDT-PSB-PRB), que coligou com Marta. Na avaliação de Tatto, a aliança com o " bloquinho " na disputa municipal " enfraquece um projeto alternativo na base política do governo Lula " . Ausente do encontro, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), acusado de participar de um esquema de desvio de dinheiro do BNDES foi defendido por José Américo. " Ninguém pode ser julgado antes da hora " , afirmou, acrescentando que Paulinho será " bem-vindo " no palanque de Marta.

Segundo ele, não houve contestações internas no PT à presença do PDT na chapa. Porém, durante a convenção de ontem, houve críticas de alas mais à esquerda do partido. Na disputa pela Câmara Municipal, o PT paulistano terá direito a apresentar 55 candidatos a vereador. Os demais partidos da coligação na proporcional poderão apresentar outros 55 nomes.

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