30.7.09

Quércia trabalha para evitar que convenção nacional do PMDB apoie PT

Caio Junqueira Valor Econômico De Sorocaba 29/07/2009

“Fui eu quem aproximou o presidente Lula do PMDB”. O ex-governador de São Paulo Orestes Quércia (PMDB) não esconde os motivos de seu rompimento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o levariam a se reaproximar de José Serra (PSDB) e transformá-lo no principal aliado do atual governador paulista no PMDB. “Não gostei da idéia de ministério de PMDB dividido entre outros partidos. E também me decepcionei com o presidente”.

O afastamento de Quércia do Planalto coincidiu com a influência crescente no governo de pemedebistas que haviam sido aliados do PSDB, como o atual presidente da Câmara, Michel Temer (SP), e o senador Renan Calheiros (AL). Quem fez a ponte para a reaproximação foi o secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira.

A aliança foi selada com a entrada do PMDB quercista na chapa à reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM) e o compromisso tucano em garantir a Quércia uma das duas vagas ao Senado. Aos 70 anos, Quércia está em franca campanha para tentar voltar ao primeiro time da política nacional.

Mas depende 100% da definição tucana. “Minha candidatura só existe se existir uma candidatura Serra”.Quércia integra o núcleo da pré-campanha serrista à Presidência, composto ainda pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), Aloysio Nunes Ferreira, o vice-governador Alberto Goldman, o ex-presidente do DEM, Jorge Bornhausen, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE) e o presidente nacional do PPS, Roberto Freire.

Este grupo já se reuniu duas vezes este ano na casa de Kassab para tratar da campanha de Serra em 2010. A preocupação mais imediata deles é viabilizar as alianças estaduais que garantam o palanque presidencial de Serra.

A principal meta do grupo é consolidar o PMDB como aliado nos Estados e, quando isso não for possível, ao menos conseguir que a legenda não apóie a provável candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef (PT), na sua convenção nacional do próximo ano.Quércia duvida que Lula abrigue Temer na chapa de Dilma, mas reconhece que travará uma grande batalha para evitar que a convenção referende a composição se o convite lulista for feito.

Como em todas as convenções pemedebistas, a de 2010 também promete controvérsias. Em 2006, o PMDB enfrentou uma batalha jurídica para decidir se teria a candidatura própria ou não. Convenções foram adiadas, candidaturas lançadas, retiradas e relançadas, insultos, rachas e até a greve do fome do pré-candidato Anthony Garotinho.

Quércia e seu grupo estão seguros de que, apesar da postulação de Temer, o PMDB, em São Paulo, vai de Serra. Aposta que terá o apoio também em Estados em que o PMDB e PT são rivais de longa data, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás e Pernambuco, noutros em que se ensaia uma composição, como Paraná e Mato Grosso do Sul, e até onde o partido almeja vôo solo, como a Bahia.

Outra aposta do ex-governador se dá sobre os delegados que votam na convenção. “O PMDB que vota não é o PMDB do governo federal. A maioria é ligada ao MDB, tem história no partido e não crê na aliança com Lula como melhor caminho para o partido”, diz.Na tarde chuvosa de sábado em Sorocaba, ele discursava no plenário da Câmara Municipal para uma platéia de 150 pessoas.

“Esse partido hoje é muito dividido em nível nacional. Aqui em São Paulo temos uma posição. Discordamos do sentimento de grande parte do diretório nacional que apóia o governo Lula. Nossa proposta é apoiar Serra presidente e termos candidato ao Senado, que poderei ser eu.”

Era mais um encontro do PMDB paulista, o quinto dos dezoito programados pelo diretório para divulgar a candidatura Quércia ao Senado e ouvir as bases municipais daquele que um dia foi o partido onipresente no Estado, mas cuja identificação hoje se vale mais de ex-funções do que de poder. Algo constatado pela presença de alguns que acompanharam Quércia na mesa do evento: um vereador há onze mandatos de um município vizinho, um-ex-líder do governo, um ex-presidente da Câmara de Sorocaba.

A nostalgia é recorrente nos discursos dos que se oferecem para subir no púlpito do salão. Frases como “Gostaria que o PMDB voltasse a ser o PMDB de antes”, “Infelizmente o nosso partido aqui quase parou”, “Não quero mais trabalhar para outro partido em eleição”, “É momento do PMDB ressurgir das dificuldades”, “O diretório hoje caminha capengando” e “A gente tem que bancar do próprio bolso” apontam que tempos melhores já existiram.

E a solução posta para que voltem é Orestes Quércia. Pelo menos para eles.Apartados na política nacional, Quércia e Temer têm um acordo. Os quercistas comandarão o diretório estadual até as próximas eleições internas, quando passa o bastão para o deputado estadual Jorge Caruso, do grupo de Temer.

O ex-governador também tem sofrido pressão das bancadas legislativas em Brasília e em São Paulo, por exemplo, que ao longo dos anos viu seu número de integrantes diminuir gradativamente. Em 1994, após oito anos do PMDB no Palácio dos Bandeirantes, foram eleitos 14 deputados federais e vinte e três estaduais. Em 2006, após doze anos com os tucanos no poder, foram eleitos três federais e quatro estaduais.

Quércia, por sua vez, tem muito apoio nos mais tradicionalistas que, ao lado dele, compartilharam a hegemonia pemedebista no Estado. São eles hoje que criticam Sarney. “Como explicar, eticamente falando, que o partido tenha um Pedro Simon em uma ponta e Sarney em outra?”, questionou um desses em Sorocaba.

É justamente essa rejeição a Sarney outra aposta dos quercistas, que acreditam que as sucessivas denúncias afastam ainda mais o interesse o “MDB histórico” de Lula.Ainda que essa conjuntura do PMDB possa ameaçar sua candidatura, a avaliação é de que se trata de uma ameaça de pequeno porte. Embora possa causar algum constrangimento caso Temer seja o vice de Dilma, dificilmente Quércia desistiria. Encontraria respaldo no estilo Temer de evitar confrontos. Ameaça maior é a candidatura do senador Romeu Tuma à reeleição. Em São Paulo, o PTB integra a base de Serra e já firmou compromisso com os tucanos de apoiá-los nas eleições de 2010, condicionando isso à candidatura Tuma ao Senado.

Nesse cenário, as duas vagas ao Senado da chapa de Serra têm pelo menos seis candidatos: Quércia, Tuma, e quatro tucanos: o presidente estadual do PSDB, deputado federal Mendes Thame; o líder do partido na Câmara, José Aníbal; o vereador em São Paulo, Gabriel Chalita; e o secretário paulista de Educação, Paulo Renato de Souza. Em seu partido, Serra tem preferência por Paulo Renato, mas os acordos com o PMDB e com o PTB no Estado podem comprometer sua escolha.

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