18.8.04

HORÁRIO ELEITORAL 18/08/2004

Propaganda começa com reprises de 2002 e com estratégias de 2006


A eleição começou de verdade. Incia-se o horário eleitoral para os candidatos a prefeito e vice-prefeito no rádio e na TV. A partir de hoje, o TRÊS PALAVRAS passa a oferecer pra você a análise da propaganda em São Paulo.

E primeira leitura que faço programa de estréia é de, simultaneamente, um "deja vu" e uma "pre-monição".

"Deja vu" não apenas por José Serra ter repetido cenas da campanha eleitoral de 2002 (quando estava visivelmente menos magro, em imagens com os mesmos cortes do tucano na ONU etc.) ou pela repetição dos bordões de PSTU e PCO. Mas principalmente pela reedição do segundo turno PSDB x PT, que veio pra ficar.

E "Pré-monitório" porque o discurso de Marta Suplicy (PT) certamente será repetido à exaustão em 2006 pelo candidato Lula. "Não deu pra fazer tudo em quatro anos". Foi o que disse Marta hoje à noite. Duvido que Duda Mendonça mude a ordem das palavras na gravação do programa presidencial do PT daqui a dois anos.

O programa da tarde na TV praticamente repetiu o que já havia sido mostrado no rádio horas antes: foi exibida uma breve biografia dos principais candidatos. Mas com uma peculiaridade: Marta Suplicy (PT), Paulo Maluf (PP) e Luiza Erundina (PSB) justificaram de cara os aspectos mais embaraçosos para suas respectivas campanhas.

Marta usou maior pare do tempo para explicar que ainda é amiga do senador Eduardo Suplicy (PT) e que a decisão de terminar um casamento de mais de 30 anos não foi fácil. Duda Mendonça colocou o dedo na ferida, e se saiu muito bem. Tranformou a "vilã" na mulher "justa" e "sincera" com o marido.

O narrador do programa de Maluf não deixou por menos e soltou nos primeiros segundos: "Maluf nasceu numa família de posses"; é dono da Eucatex, "gerando mais de 10 mil empregos diretos e indiretos". O "Rouba, mas faz já era". Agora veio o "roubar pra que, se já sou milionário?".

Já Erundina, via Michel Temer, justificou a aliança com o PMDB quercista. A aliança PSB-PMDB "não é eleitoral" e, ainda segundo Temer, "é uma aliança para hoje e amanhã". Literalmente até amanhã? Historicamente os candidatos em horário eleitoral não levam ao pé da letra o que prometem, portanto... quem sabe não chegue a 2006?

Outra estratégia usada na estréia foi a dos candidatos se adequarem ao que "pediam" as pesquisas qualitativas. A prefeita de São Paulo, que passa uma imagem de arrogância, prepotência (segundo as qualis), foi mostrada como a Marta "vovó", ganhando até música composta pelo seu filho João.

José Serra, agora "do bem", dedicou os últimos 30 segundos teve direito no programa da tarde a um clipe com imagens sucessivas de sorrisos seus. Falta de carisma? É, até que deu pra (deixar) enganar.

Já Erundina não teve dinheiro para usar qualquer estratégia. No dia anterior, dia da propaganda dos vereadores, o espaço na TV e no rádio foi usado pelos presidentes regionais do PSB e PMDB, e nenhum candidato a vereador da coligação foi mostrad! O programa foi modificado de última hora, pois parte dos assessores e colaboradores de Erundina se mandaram: em crise e atrás nas pesquisas, a campanha da ex-prefeita (1989-1992) não estava pagando os salários da equipe em dia. Aliás, a falta de dinheiro foi lembrada em discurso de Michel Temer no horário de hoje. O programa foi o mesmo à tarde e à noite pelos motivos já expostos.

À noite, Marta, Maluf e Serra tiveram programas novos. Maluf, com poucas alterações. Uma mudança interessante foi quando o locutor disse que Maluf já "era rico antes de entrar para a política". Eis que surge uma animação com setas mostrando o fluxo de dinheiro do exterior para o Brasil; simulando a aplicação de investidores nas empresas do candidato do PP. Um fluxo ao contrário, do Brasil para o Exterior? Só na arte do "Jornal Nacional".

Mas como estamos em pleno Horário Eleitoral, recordar é viver. Vide a estratégia de José Serra, que copiou imagens da campanha à presidência (ainda bem que foi só no da tarde). É certo que o candidato ainda não quitou suas dívidas da campanha anterior e que as imagens de arquivo eram boas, mas a parte que tratava da biografia do tucano foi demasiadamente extensa. Candidato à presidente, até Rio Branco sabe que o Serra é filho do feirante da Mooca. No entanto, já à tarde, Serra anunciou o que estava pro vir: Saúde, saúde, saúde. "Especialmente à voltada para a mulher" (maior parte do eleitorado).

Cumpriu-se o prometido à noite, quando apareceu o Serra dos genéricos, o Serra do mutirão da catarata, o Serra ministro da saúde. Também foi enfatizada a dobradinha "Serra-Alckmin".

Nos mesmos moldes da dobradinha "Marta-Lula", à tarde. "Tenho muito orgulho de ser amiga do Lula", disse a prefeita.

Mas à noite, brilhou a Marta dos CEUs (Centros Educacionais Unificado). O programa foi encerrado (com direto à lágrimas nos olhos do espectador; afinal o programa foi produzido por Duda Mendonça) com uma apresentação de música dos alunos dos CEUs, tocando violino. E já "respondendo" Serra: a prefeita reafirmou o "mea culpa" na saúde e pediu mais quatro anos para repetir na saúde a revolução que fez nos transportes ("bilhete único") e educação.

No mais, candidatos afirmando cobrar para dar entrevista (PAN), prometendo acabar com a "indústria da multa" (PSDC) e candidata histriônica usando palavras como "visceral", "sistêmico" e "maquiavélico". Nem criando um milhão de CEUs o povo alcança isso.

Enfim, a novela continua na sexta. Até lá.



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