28.8.04

São Paulo vai ganhar as eleições
Caio Junqueira

Não é apenas o PT ou o PSDB que sairá vitorioso nas eleições de outubro em São Paulo. A cidade também ganhará e o sucessor, em 2005, receberá uma cidade melhor. Tanto a prefeita Marta Suplicy quanto o tucano José Serra são bons candidatos e com bom retrospecto político e gerencial.

Evidente que, ao se analisar suas trajetórias políticas, principalmente nos cargos executivos (Marta na Prefeitura de São Paulo e Serra no Ministério da Saúde), deslizes e erros são facilmente apontados.

A capital paulista, de longe, não é o melhor lugar para viver. Tem os maiores índices de violência do país, um trânsito que prejudica a economia e a saúde mental dos habitantes e milhares de miseráveis nas ruas. Mas não se resolvem erros históricos em quatro anos.
Marta, nos quatro anos de sua gestão, procurou, a sua maneira, melhorar a cidade. Desde a posse, mostrou ter um projeto para a cidade, ainda que discutível _e falho_ em diversos aspectos. Os CEUs vão além do projeto pedagógico, são centros sociais, muito necessários nas periferias tão carentes de áreas de lazer e cultura e esporte. O Bilhete Único funciona. A frota de ônibus na cidade foi renovada. Diversos espaços públicos, como praças e avenidas, nas áreas nobres e na periferia, foram revitalizados e ficaram com ares de cidade decente.
Isso é comprovado quando vê-se que certas áreas como transporte e educação --antes alvo de qualquer candidato-- são esquecidas do debate político, justamente pelo fato de saber-se que o projeto nestas áreas resumem-se à continuidade e ampliação.

Os críticos de Marta _em geral, integrantes da elite_ ignoram suas realizações ou por preconceito petista comum à classe econômica que fazem parte ou por desconhecimento e falta de vontade de reconhecer nela uma prefeita, no mínimo, razoável. Claro que a arrogância da prefeita colabora com essa oposição desinformada. Incomoda uma mulher petista no terceiro cargo mais importante do país. Alia-se a isso os erros cometidos pela prefeita durante sua administração, devidamente dimensionados, como o loteamento político feito nas subprefeituras e à falta de prioridade na área da saúde. Propositalmente ou não, criou-se uma situação em que seus erros são dimensionados e suas virtudes esquecidas.

A cidade também ganhará com Serra prefeito. O tucano, além de ter sido um dos melhores legisladores da Nova República, mostrou-se bom gestor no Ministério da Saúde. Entre seus pontos positivos, destacam-se o caráter executivo, de tirar idéias do papel e colocá-las em prática. Negativamente, além de sua antipatia e falta de carisma, ele fez parte do governo FHC, tão celebrado pelas classes dominantes, mas não visto pelas camadas pobres da sociedade como um bom governo. Pudera, desde 1995, ano da posse de FHC, até 2004, a renda do brasileiro diminuiu, a economia estagnou e o desemprego aumentou. Resultados de modelos econômicos sentem-se na pele e a era FHC, da qual Serra teve participação ativa, foi dura para a maior parte da população.

Assim, o que parece que está em disputa em São Paulo são mais os projetos de poder dos dois maiores partidos do país do que ideologia e gestão em si. No âmbito gerencial, os fins de ambos os candidatos são os mesmos, embora os caminhos sejam diferentes. Mas São Paulo, depois de administrações desastrosas como a de Celso Pitta (1997-2000) e Paulo Maluf (1993-1996), estará em boas mãos com Serra ou com Marta.

Baixo clero
José Aníbal, ex-presidente nacional do PSDB, tem sido criticado por sair candidato a vereador em São Paulo. A decisão, no entanto, transcende o caráter pessoal. O interesse do partido é ter uma força articuladora na Câmara Municipal em um eventual governo Serra, uma vez que dificilmente os tucanos terão maioria na Casa. Agora, não é preciso mencionar que uma eventual derrota de Aníbal seria o fiasco do ano.

Medo
Nenhum tucano quer enfrentar Lula em 2006. Próximas eleições presidenciais somente em 2010, quando marta deixará o governo do Estado de São Paulo e Alckmin o Senado para travarem o duelo PT x PSDB, que irá se consolidar como marca desse início de século na política brasileira. Uma opção para o tucanato é colocar o senador Tasso Jereissati na disputa em 2006. Outra é repetir a aliança com o PFL, só que desta vez com os pefelistas encabeçando a chapa.

Duda
Tenho esperança de que os CEUs da saúde não contabilizem votos para Marta, apesar de não achar isso possível. A apresentação do projeto deu a Marta um aspecto malufista, de político que faz grandes promessas. Isso piora ao constatar que o que a prefeita e seu marqueteiro tentam é rebater as críticas à gestão pífia que fez na saúde. Deprimente.

Quem sabe...
A derrota de Maluf não o faz desistir da carreira de candidato para sempre. Como paulista, tenho vergonha até mesmo de ele ser candidato.

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