8.8.06

Alckmin candidato

A obstinação que o governador paulista Geraldo Alckmin demonstrou desde que assumiu publicamente sua pré-candidatura a presidente marca sua carreira política. Em 1991, partiu para o embate com Zulaiê Cobra na disputa do diretório paulista do PSDB. Ganhou. Três anos depois, durante o processo interno de escolha do vice de Mário Covas na campanha ao Palácio dos Bandeirantes, enfrentou o então ministro do Trabalho do governo Itamar Franco, Walter Barelli, e ganhou de novo. Em 1996, já vice-governador, apresentou-se à legenda como candidato a prefeito de São Paulo, mas retirou sua pré-candidatura ao saber que o então ministro do Planejamento, José Serra, desejava sair. Passados quatro anos, a única eleição que perdeu foi justamente a que não precisou de grande esforços de bastidores: sua candidatura foi imposta por Covas.Mais do que essa obstinação, um outro fator merece ser apontado no governador. Ao enfrentar nos últimos três meses o triunvirato tucano formado Tasso, Aécio e Fernando Henrique— captou os anseios da base do partido —base esta de caráter elitista, estruturada nos deputados e governadores do partido— que não mais queriam que as decisões do partido se restrinjam ao que três cardeais desconectados com o que a massa tucana detentora de cargos eletivos queria.

Assim, é mérito de Alckmin dosar ter dosado sua estratégia política em não arrefecer seu intento e buscar força para continuar na luta contra a cúpula partidária nos que se viam excluídos do processo. Assim, as críticas internas ao governador em razão de sua insistência são muito mais pelo que ele teve de bom —ver o partido como um todo— do que pelo de ruim —encarar uma histórica ditadura interna. Comprovou-se, pois, que os tucanos não são tão obedientes assim quanto ao que se acreditava serem seus “guias”. Ponto para o partido.

Agora, evidentemente as rusgas que sobraram desse processo devem ser o quanto antes aparadas sob pena de a candidatura se esvair antes mesmo de começar. Lula larga com mais do que o dobro de votos na sucessão. Está em campanha há algum tempo e tem a máquina pública nas mãos. A desvantagem inicial é imensa contra Alckmin. Para solvê-la, precisa viajar o país e captar os votos tradicionalmente lulistas: as classes C, D e E. Está ciente disso, o que se mostra nas declarações feitas no primeiro dia de candidato, na última quarta-feira. Durante lançamento de um projeto de ensino à distância no Sebrae, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, pediu ao governador que, se eleito, concentre-se em promover o crescimento econômico do país.

Em resposta, Alckmin defendeu o crescimento econômico, mas deu um tom “social” ao discurso ao dizer que o crescimento sozinho não é suficiente para reduzir as diferenças sociais. “O caminho para ter emprego é o crescimento econômico. Mas, às vezes, o país pode crescer sem que sejam diminuídas as distâncias sociais. Melhora para o pobre um pouco, mas para o rico muito mais.

Então, o melhor caminho para a redução da desigualdade é a educação.”Em seguida, afirmou não ter “compromisso com privilégios“ e que, caso vença as eleições, irá conciliar crescimento econômico com justiça social, “melhorando a vida dos pobres e estimulando, principalmente, a educação no Brasil”. Alertou ainda que aqueles que o apontam como sendo de direita e conservador irão se assustar. “O susto será no bom sentido porque nós vamos chacoalhar as estruturas. Não tenho compromisso com o imobilismo. Temos de ter um país onde os filhos possam ter uma vida melhor do que a dos pais, de mobilidade social. Vamos chacoalhar as estruturas”.

Enfim, um típico discurso de quem está preocupado com a imagem de “o candidato dos empresários”.É sabido que ele cativa a classe média e alta paulistas, que o tem praticamente como um semi-Deus. Mas conseguirá ele penetrar nas regiões e nas classes pró-Lula? Há tempo para isso. E urge começar a elaborar um projeto de país, o qual ainda não tem nem rascunho. Necessário também se preparar para seus calcanhares-de-Aquiles. A Febem será o prato cheio para a campanha petista bater no governador. Se em 12 anos os tucanos não resolveram o problema, como este senhor quer governar o país, dirão os petistas no horário eleitoral. Também pesarão os pedágios, em especial à classe média. Dá para ver a equipe petista no horário eleitoral traçando o preço de uma viagem entre São Paulo e São José do Rio Preto e jogar isso em projeções para o país todo. Mas nada que não tenha revide. Aliás, os tucanos neste ano nunca tiveram tanto a explorar contra os petistas. Será, pois, uma campanha inesquecível.

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