8.8.06

Primeiras impressões da campanha

Caio

As pesquisas de intenção de voto que apontam a liderança isolada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem causado revolta nas oposições política e civil. Afinal, ninguém sabe ao certo as razões que levam um governo assolado por denúncias e, recentemente, indiciamentos, levar a preferência popular com larga folga, ainda que momentânea. Para esse fenômeno, o argumento predominante dos petistafóbicos são, basicamente, dois: o de que vivemos em um país de ignorantes desinformados que ainda votam em Lula e o de que estamos a meses do início da campanha eleitoral que, com o bombardeio diário das cuecas com dólares, ministros depostos e indiciamentos em tramitação, iluminará os que ainda insistem em ser do outro lado. Ambas as explicações, fáceis demais e, assim, incompletas demais, são meias verdades.

É fato que em um país grande e desigual, em que há focos de educação de ponta ao lado de uma grande massa analfabeta e outra desinstruída, o apelo popular e o carisma que um político tenha ao se apresentar a essa população conta muito, e aqui a situação evidentemente favorece Lula. Mas concluir por aí sua liderança nas pesquisas é insatisfatório. O país não é tão simples assim. O raciocínio é o mesmo para quem crê que, em decorrência da campanha eleitoral, a massa mal informada verá que este foi “o governo mais corrupto da história”.

Cabe, portanto, verificar o comportamento de alguns atores políticos envolvidos nesse quadro para ampliar o leque de explicações plausíveis para o que, por ora, tem-se chamado de fenômeno. O primeiro, e mais importante deles é o que os gringos chamam de “feel-good factor”. Recentes pesquisas mostram que 85,3% das pessoas cadastradas no Bolsa Família, o carro chefe do governo, consideram o programa ótimo ou bom e 97% dizem que a iniciativa é muito importante em suas vidas. Seis em cada dez responderam que daqui a cinco anos a vida vai estar melhor. É assistencialismo? Populismo barato? Esta é outra discussão. Mas que surte efeito eleitoral, não há dúvida. Para ficar em outro exemplo, o tal do programa Luz para Todos. Já atendeu mais de 2 milhões de pessoas. Nas pesquisas, cerca de 60% das pessoas tem conhecimento dele. Ou ainda a fixação de um salário mínimo cujo poder de compra é o maior dos últimos 40 anos.

Não abro aqui outros exemplos, sob pena de ser tachado de gostar desse ou daquele (o que costuma ocorrer), mas os que julgam que a desinformação “do povo” é o que põe Lula na liderança das pesquisas talvez não percebam que desinformados estão eles mesmos. Colocar de lado medidas que para uns não significam nada e para outros significam muito é um erro recorrente a esta parte do país, dita, “esclarecida”.Outro fator são os desacertos frequentes da pré-campanha Alckmin. Ainda que esteja no começo, o que pode justificar os tropeços, a campanha não tem sal, é fria, desarticulada, sem projetos, sem o “cativante”. PSDB e PFL brigam pelo vice, brigam por questões regionais, brigam contra as pesquisas. E, mais grave, não há a novidade. Qual a política externa de Alckmin? Qual a política para o desenvolvimento regional, Nordeste em especial?

Evidente que tudo isto está em fase embrionária e que em semanas o eleitor terá tudo isso em mãos, mas há alguns temas nacionais, como esses e muitos outros, que desdenham de longo debate justamente por já estarem consolidados, como opinião, ainda mais para quem tem 34 anos de vida pública. Deixar para externá-los apenas quando todo o projeto estiver discutido com os aliados é perda de tempo. Bom lembrar que não se trata de uma eleição municipal. São mais de 120 milhões de votos a conquistar, partindo-se de um segundo lugar apertado, lembre-se, com Anthony Garotinho na cola.

Ademais, protegido pela mídia e com uma ampla base de proteção no Assembléia paulista (e que conseguiu barrar a instalação de 69 CPIs), Alckmin também parece não saber se defender das denúncias que pipocam contra ele desde o anúncio de sua candidatura. Não que ele esteja diretamente envolvido nelas. A de que a Nossa Caixa favoreceu com recursos deputados aliados, por exemplo, é algo que visivelmente não participou. Mas, na hora de se defender, agiu muito mal. Primeiro por fugir das perguntas e segundo por “fugir respondendo”, ao dizer que “é tudo mentira”. Conseguiu se sair pior do que Lula com seu “as CPIs vão investigar tudo”. No caso dos vestidos da dona Lu, a mesma coisa. Não se sabe se foram 40 ou 400. Não se sabe se 10, ou 39 ou sabe-se lá quantos foram doados às instituições de caridade. Não houve esclarecimento, pois.

Desimportante dizer que tanto uma denúncia quanto outra, de longe, são comparáveis às contra Lula e sua turma. São fichinhas perto das artimanhas petistas. Mas o modo como se reage a elas muitas vezes acabam sendo pior do que elas próprias. E muitas vezes a reação acaba por fazer com que o acusado se descole delas. Lula que o diga.Há muito tempo ainda para as eleições. Mas se os tucanos não se atentarem, poderão ser surpreendidos.

Nenhum comentário: