4.11.05

Nossos políticos adolescentes

Caio

Pareciam cenas de recreio de colégio, com os valentões, os grosseiros e os sem educação. Começou com o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (PSDB-AM), sempre armado para a guerra e para o afronte, agora macho até as unhas para bater no presidente da República por uma suposta espionagem do governo federal em cima de seus filhos. Depois foi a vez do projeto de avô, ACM Neto, também ameaçar bater no presidente por também estar sendo, supostamente, espionado. No vácuo dos dois, a senadora Heloisa Helena, nobre representante da esquerda, mas que de tão esquerda por vezes se confunde com a direita, na mostra de que um lado e outro muitas vezes podem estar juntos quando extremados no trato de seus interesses próprios (lembre-se aqui que a Itália de Mussolini, de “direita”, era tão absolutista quanto a União Soviética de Stálin, dita de “esquerda”).

Aos bravos parlamentares somou-se o acanhado e escapista Lula, que chamoujornalistas de sem educação por terem berrado perguntas a ele dentro do Planalto, em uma clara manifestação de desapreço pela prestação pública de contas à população. Fato esse que Lula, ou melhor, sua assessoria, mudará daqui para a frente, a começar pela próxima segunda-feira, com a participação no programa Roda Viva. Mas se engana quem pensa que o presidente se arrependeu por sempre ter evitado falar à imprensa nos três anos de governo. Sua ida ao programa pode ser considerada o começo da campanha para 2006, já que é difícil imaginar candidato que evite a imprensa, ainda mais quando se trata de reeleição, em que a prestação de contas de governo é o cerne do discurso dele, e da oposição.

Voltando, porém, aos colegiais, o que se nota no comportamento político brasileiro é algo quase que adolescente, de gente que mente, enfrenta, foge, xinga, bate, arrepende-se e se prostitui (com ou sem dinheiro) com a mesma facilidade que pensam não fazer nada disso ou que pensam perceber que ninguém nota a infantilidade dos seus atos. E que muitas vezes o efeito de toda a bravata agressiva pode ser contrário, já que ninguém gosta de ver marmanjos de ternos com mandatos eletivos envoltos a um jogo de ameaças físicas e verbais. Na mesma linha, perde Lula ao faltar com educação com jornalistas que ali estão a trabalho e que podem usar de seus veículos para um contra-ataque desfavorável, como fez o Jornal Nacional na data do ocorrido, ao atacar a atitude do presidente para uma audiência de 50 milhões de brasileiros.

Misturar política com adolescência é uma péssima opção, ainda mais em um país com baixa oferta de gente decente e alta demanda de cargos políticos, o que acaba por criar um déficit de pessoas capacitadas para exercer cargos no Legislativo e no Executivo.

Talvez a agressividade do senador Arthur Virgílio tenha sido inspirada na delicadeza do ato de seu filho, que há cerca de um ano foi preso por atentado ao pudor e desacato a autoridade por abaixar as calças e urinar em plena praça pública de Manaus. Ressalte-se que o ousado tucaninho é deputado estadual e tinha, à época, 25 anos.

Também é bom lembrar que Lulinha, filho do presidente Lula também deu de malandro ao receber, em janeiro deste ano, um investimento de R$ 5 milhões da Telemar, que tem empresas públicas como acionistas. Em ambos os casos, fica difícil saber se a influência veio de baixo para cima ou de cima para baixo.

O fato é que toda essa confusão politicagem-molecagem não é tão nova. Reflete, em seu viés profissional, um modo de ser dessa espécie “político brasileiro padrão”. Por outro lado, é algo que chega a ser explicado pelo próprio desenvolvimento da sociedade moderna, que passou a produzir um outro tipo de adulto, mais voltado para a satisfação dos seus instintos do que para os seus deveres morais e com a sociedade em que vive. Algo em sentido semelhante ao que diz o sociólogo inglês Frank Furedi aponta em artigo publicado no caderno Mais! da Folha de S. Paulo. No jornal, diz-se estarrecido com a decadência do prestígio da vida adulta entre os jovens na Inglaterra e nos Estados Unidos e menciona que os jovens atuais não mais querem deixar a “segurança” e a “proteção” da casa dos pais ou cultivam nostalgias precoces da infância comendo bolinhos coloridos e colecionando bonequinhos. A tese pode abrigar a maioria dos políticos brasileiros, que parecem querer se furtar de suas reais responsabilidades assumindo comportamentos infantis. São adolescentes ligados a cargos muito maiores do que suas capacidades. Pobre do país com esse cenário.


Vergonha bebedourense


O mês de outubro foi aquele em que a hora trabalhada dos vereadores de Bebedouro rendeu bem. Houve cinco segundas-feiras no mês de outubro, mas como há aquela regrinha safada de que vereador bebedourense não pode trabalhar cinco sessões por mês, o valor da hora trabalhada aumentou no mês passado. Com as quatro sessões realizadas em outubro (e considerando que a sessão dura três horas), os vereadores receberam R$ 250/hora. Se fossem cinco sessões_ que o bom senso e o respeito ao erário pedem, receberiam R$ 200/hora. Só para comparar, segundo o IBGE, o rendimento médio MENSAL nominal do bebedourense é de R$ 656,90. Querer cobrar moralidade de corruptos nacionais, estaduais ou municipais é fácil. Duro é se autocobrar moralidade, ainda mais em pequenas coisas, aquelas que (imaginam) ninguém saberá.

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