7.6.04

Novo Velho PT

Caio Junqueira

O mais novo partido político brasileiro foi lançado ontem, em Brasília. Encabeçado pela senadora Heloísa Helena (AL) e pelos deputados João Fontes (SE), Babá (PA) e Lusitana Genro (RS) _expulsos do PT no ano passado por votarem contra as reformas constitucionais, o abrigo dos excluídos tem o cafonérrimo nome de PSOL (Partido do Socialismo e da Liberdade) e, claro, abarca com o nome esquisito o sugestivo símbolo que o nome oferece: um sol.
A escolha do nome seguiu a história da esquerda brasileira: desorganizada, muito sonora e pouco executiva. Até a semana passada, ele ainda não havia sido escolhido, depois de meses de conversas. O escrutínio final foi entre PS (Partido Socialista e PSOL). Porém, como, infelizmente, os nomes dos partidos não correspondem a suas condutas, a nomenclatura é irrelevante.
O partido nasce ideologicamente forte. Agrega antigas bandeiras petistas, como a ruptura ao FMI, o calote da dívida externa e ampla reforma agrária. Um ponto a favor é a união dos ex-integrantes petistas que, revoltados com a guinada à direita do partido, votaram, no primeiro ano do sonho presidencial dos Trabalhadores, em favor desses e contra o partido que leva o seu nome. Brasileiro gosta de gente batalhadora, que sofre, grita e luta contra o alto comando, esteja ele em qualquer lugar, seja ele de qualquer natureza. Mostra determinação e postura.
Sendo uma das poucas vozes da esquerda tradicional, a tendência é que o partido engrene como o pólo dissonante em um momento em que o cenário político brasileiro carece de opções. Não é de hoje que sobrevaloriza-se o Capital sobre o Humano, o possuir sobre o sentir. Esse foi o tom da história brasileira e mundial, salvo uma ou outra exceção, hoje já em processos de desmantelamento. A falta de reflexão sobre caminhos alternativos para o país gera a ilusão de que o rumo escolhido nos anos é o sistema ideal. Isso é agravado em um país como o Brasil, onde os modelos até hoje adotados foram importados e deram certo sim, só que para poucos, que hoje temem qualquer ruído de possibilidade de virada na estrada.
O PSOL surge no cenário político brasileiro como a voz dissonante. Tentará passar que combater o que foi imposto é possível. Algo que o PT, em 1980, fez e defendeu em toda a sua trajetória pré-2003. O começo será difícil. O próprio PT demorou anos para se consolidar. Há pouco mais de dez anos, sua bancada na Câmara era de pouco mais de dez deputados. Hoje são 91. Eleitos com o mesmo programa adotado pelo PSOL. Caberá às lideranças do novo partido cuidarem politicamente dele, de modo que não caia na mesmice da esquerda brasileira e se satisfaça apenas com o combate cego, sem planejamento e estratégia.
Nesta semana começa a primeira batalha do partido. Uma peregrinação jurídica rumo à campanha presidencial de 2006, que tentará levar Heloisa Helena à disputa pelo Planalto. Até setembro de 2005, serão necessários pelo menos 438 mil assinaturas. A minha, tenham certeza, estará lá. Com a esperança de que o PSOL de hoje não seja o PT de amanhã.

COINCIDÊNCIA OU EVIDÊNCIA?

O PL já cogita lançar o presidente da CPI da Pirataria, deputado Luiz Antonio de Medeiros (SP), candidato à Prefeitura de São Paulo. É muita, muita coincidência. O trabalho da CPI foi prorrogado por quatro vezes. A última vez, em dezembro do ano passado.
Tudo bem que a Operação Anaconda acabou por respingar na apuração dos deputados da comissão, mas, ainda assim, é difícil não vincular os acontecimentos finais da CPI _a leitura do relatório e a Operação Gatinho (em que Medeiros sofreu tenativa de suborno pelo "rei da pirataria", o sino-brasileiro Law Chong) com o mês de junho, quando, pela legislação eleitoral, é o mês em que são definidos os nomes dos candidatos às eleições.
Mas sejamos imparciais e neutros, como reza o bom jornalismo. Foi coincidência mesmo, além de um pouco de sorte de Medeiros. E ponto final.

LÁGRIMAS NO ORIENTE MÉDIO
Saddam deve estar triste. Um dos seus maiores colaboradores, o ex-presidente americano Ronald Reagan, morreu no último sábado. Reagan ajudou Saddam a montar um poderoso exército para liquidar o Irã. Ambos os países travaram um conflito violentíssimo entre 1980 e 1988. Os EUA queriam desestabilizar o aiatolá Ruhollah Khomeini, que depôs, durante a Revolução Islâmica do Irã em 1979, o governo iraniano apoiado pelos ianques.

Reagan também foi um bom presidente para terroristas. Em troca da libertação de reféns americanos ele vendeu, secretamente, armas ao Irã (que estava sob embargo comercial dos EUA), que foram repassadas aos “contras”, nicaragüenses anti-sandinistas.

FARINHA DO MESMO SACO
Marta Suplicy rendeu-se à tentação das alianças políticas com gente “diferente” do PT. Seu (ex) secretário de governo Ruy Falcão, que até a semana passada formaria a chapa puro-sangue petista nas eleições paulistanas, pode passar a coordenar a campanha da loira, o que deixa a vaga de vice aberta a galanteios de outrem, principalmente do PMDB. A convenção oficial do PT está agendada para o dia 26. Com o partido de Quércia, Marta passa a ter mais 5 min e 27 s de propaganda na TV. A tática da prefeita é oferecer cargos na administração municipal ao PMDB.

PALÁCIO DE ACARI
A Folha de domingo fez uma boa reportagem com o pastor Marcos Pereira da Silva, presidente da Assembléia de Deus dos Últimos Dias. Influente na alta bandidagem carioca (não, não falo aqui dos políticos), ele interveio na rebelião na casa de custódia e esfregou na cara dos Garotin que a sede do Estado paralelo no Rio é o palácio da Guanabara.

WE THE BEST
Os jornais "Estado de Minas" e "Correio Braziliense" furaram no domingo, 18 de abril, todos os jornalões do país, ao trazerem informações sobre a Operação Vampiro. Todo mundo ignorou. É a arrogância do eixo Rio-SP a desserviço da nação.

SERÁ?
Aliás, apesar da entrevista bacana, a foto da reportagem revela o preconceito que a mídia tem contra pastores de religiões dipóbri. Em vez de mostrar uma fotografia do rosto do pastor, ou, sentado, ou de uma maneira serena, a fotografia utilizada foi do religioso em pé, no altar, com uma cara “endemoniada” fazendo gestos com as mãos, muito diferente do que o jornal faz na “entrevista da segunda”, por exemplo. Será que se a reportagem fosse com um judeu exaltado a foto seria da mesma forma?

FAMÍLIA VERMELHA
Jilmar Tatto, o novo secretário de governo de Marta, assumiu sua quarta pasta neste governo. Já passou pelas secretarias do Abastecimento, Subprefeituras e Transportes. Ele é irmão do presidente da Câmara Municipal, Arselino Tatto (PT).
Além dos dois, os Tatto ocupam outros cargos importantes no PT. Dos dez irmãos, nove são filiados à sigla. Um deles, Ênio, é deputado estadual. Leonide é tesoureiro do PT no município. Deviam mudar o sobrenome para PTatto.

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