10.6.04

E a economia, como vai? Pergunta pro Sarney

Marcio Pinheiro

Que a economia vai mal há anos todo mundo sabe. Solução pra isso ninguém deu ou não teve coragem para fazer. Então, qual então a margem de mudança econômica que um governo - qualquer que seja, do PP, do FH ou do Lula- pode ter? Como mudar a economia e, ao mesmo tempo, manter os contratos, conquistar respaldo internacional?
Bem, essas duas linhas parecem ser incompatíveis. No entanto, algumas rupturas, não totais, deveriam ser praticadas.
Exemplo: otimizar o contrato com o FMI, que engessa a economia. É pra lá de notório que o acordo com o FMI precisa ter suas regras de contabilidade revistas. E não sou eu que diz isso, mas o presidente do Senado, José Sarney. É claro que ele fala com a autoridade de presidente do Congresso, mas, sobretudo, com a experiência de ex-presidente da República que, mesmo tendo feito um governo muito duvidoso, tem capacidade de análise o bastante para chegar a essa conclusão.
A primeira vez que recorremos (às pressas) ao FMI no governo FHC foi em 1998 (às vésperas das eleições presidenciais) por causa da crise da Rússia. E os acordos continuam se renovando (mesmo sem crises internacionais de grandes proporções)sucessivamente até hoje, sem mudanças. Entre as cláusulas (absurdas) que se repetem está a que obriga o governo a economizar muito com os gastos públicos para pagamento de bilhões de juros da dívida, entre outros. Só em 2003, Lula gastou R$ 412,9 bilhões (ou 54,61% de todos os gastos do país) para amortizar essa dívida.
Por outro lado, ser “amiguinho” do fundo traz, segundo os governos, calma ao mercado financeiro, credibilidade para os credores e grana para o país (que não é gasta nas áreas que mais precisamos, mas isso é assunto pra outra ocasião). O que é mentira: o país continua vulnerável, só atrai capital externo de curto prazo e por causa dos altos juros e o risco-país permanece alto. Essa cridibilidade alegada simplesmente não existe.
Portanto, com uma dívida cavalar (tão cavalar que só pagamos parte dos juros dela) o jeito é sentar numa mesa e conversar com os credores. O governo do PT, no entanto, seria o último a ter alguma credibilidade para refazer essa negociação, tanto que nunca se propuseram a fazer isso. Portanto, são mais quatro anos jogados no lixo, mais quatro anos de dinheiro economizado pra pagar esses juros. Perdemos uma oportunidade histórica porque nosso superávit nunca foi tão alto (o que seria um argumento muito bom para flexibilizar as regras do Fundo).
E justiça seja feita: o único candidato que defendeu abertamente e seriamente a renegociação foi o hoje ministro Ciro Gomes; e a imprensa inteira dava “piti” quando o então candidato falava a respeito em 2002. É uma pena que o assunto seja tratado de modo leviano até hoje.
Além de Ciro, outra figura republicana a reclamar da dívida foi (de novo) José Sarney, em entrevista à “Folha de S.Paulo” em dezembro passado. Mas o mercado logo reclamou e o dólar explodiu no dia seguinte.
Enquanto ninguém reclamar pra valer dessa relação dominado-dominador, esquece: vamos continuar empurrando a economia com a barriga, como está fazendo direitinho o governo do PT. Mudança? Que venha 2006.


O PREÇO DA MENTIRA
Em Recife ninguém acredita que a candidatura de Raul Jungmann (PPS) à Prefeitura seja pra valer. Pudera. Em 2002, o então ministro da Reforma Agrária lançou candidatura pelo PMDB à presidência. A fatura da mentira chega agora.

O PREÇO DA AMIZADE
Tudo bem que nada foi provado diretamente sobre Dirceu (caso Waldomiro)e Humberto Costa (saúde). Mas fosse em outro governo ou em qualquer empresa séria, eles já teriam ido embora faz tempo. Bom, a Bené demorou mas foi embora.

O PREÇO DO APOIO
Programa “partidário” do PRTB na semana passada (sim, o PRTB de Levy Fidelix e seu trem supersônico) apoiou o programa de transportes implementado pela prefeita Marta Suplicy...

O PREÇO DA IGNORÂNCIA
Na semana seguinte ao escândalo da corrupção envolvendo os hemoderivados, convulsão nos grandes hospitais de São Paulo: baixou para 40% o número de doadores de sangue.

O PREÇO DO IDEALISMO
O PSol (Partido do Socialismo e da Liberdade), de Heloisa Helena, já nasce com os dias contados. É que se nada for alterado, em 2006 entra em vigor a cláusula de barreira, conforme a Lei nº 9.096 (de 19 de setembro de 95). Ela estabelece que só os partidos que obtiverem, nacionalmente, pelo menos 5% dos votos válidos nas eleições para a Câmara dos Deputados terão direito ao funcionamento parlamentar (leia-se: tempo de TV, dinheiro do fundo partidário, cargos em assessorias no Congresso, entre outros).


PESQUISA DA SEMANA: por que o Senado é tão conservador?
( ) Porque está cheio de caciques ex-governadores
( ) Porque PMDB e PFL são as maiores bancadas (parece que voltamos no tempo com MDB e Arena)
( ) Porque o Sarney Comanda a Casa
( ) Porque cada Estado da federação tem direito ao mesmo número de cadeiras, o que só faz aumentar o número de coronéis do Norte e Nordeste
( ) Porque a faixa etária lá é muito alta
( ) Todas acima estão corretíssimas

Nenhum comentário: